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Calçado chinês e chuvas no Sul: Mr. Cat pede recuperação extrajudicial com dívidas de R$ 93 milhões

Fundada em 1981, a marca de calçados conta com 108 lojas e cerca de 1.500 funcionários

Mr. Cat: marca de calçados tem dívidas de R$ 93 milhões  (Leandro Fonseca/Exame)

Mr. Cat: marca de calçados tem dívidas de R$ 93 milhões (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 27 de maio de 2025 às 15h12.

Última atualização em 27 de maio de 2025 às 17h29.

A marca carioca de calçados Mr. Cat pediu recuperação extrajudicial no Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). A empresa acumula dívidas de 93 milhões de reais.

A marca tradicional de sapatos, cujo símbolo é um pato, possui seis lojas próprias e 102 lojas franqueadas com cerca de 1.500 funcionários, além de 32 fornecedores e 500 colaboradores diretos.

Fundada em 1981 por Ari Svatsnaider e Alberto Zyngier, a Mr. Cat abriu sua primeira loja própria no Barra Shopping, no Rio de Janeiro. Desde 1987, a marca atua no modelo de franquias, focando em calçados femininos e acessórios. Em 2015, o fundo HIG Capital fez o primeiro aporte na companhia e, quatro anos depois, adquiriu a Mr. Cat.

Em comunicado, a empresa afirma que a iniciativa é parte de um processo estruturado para manter a continuidade operacional e assegurar uma gestão financeira sustentável. "O instrumento adotado é legítimo e usual no mercado, não implicando em qualquer impacto nas atividades diárias da empresa", diz. A companhia também ressalta que as operações seguem normalmente em todas as frentes.

O plano conta, até o momento, com a adesão de 58% dos 119 credores da empresa, mas ainda está em análise pela Justiça.

Segundo dados do Observatório Brasileiro de Recuperação Extrajudicial (OBRE), o caso da Mr. Cat representa o maior volume de dívidas renegociadas por meio de recuperação extrajudicial no estado do Rio de Janeiro em 2025 e o quarto maior do país no ano. Só este ano, foram registrados 18 pedidos de recuperação extrajudicial, que somam R$ 3,46 bilhões em dívidas.

Quais são os motivos da crise

São três as razões que a empresa apresenta para falar sobre a crise que a levou a pedir recuperação extrajudicial.

A primeira é a pandemia. Com as restrições causadas pela crise sanitária, a Mr.Cat sofreu uma queda de 50% nas vendas durante o período da pandemia de covid-19. Na ocasião, a marca intensificou a presença online para alcançar um público mais propenso a fazer compras remotas. Mas, para garantir a continuidade no mercado, precisou ampliar o seu endividamento.

"A estratégia adotada foi sustentada pela expectativa de que a recuperação econômica subsequente permitiria a reversão desse quadro, possibilitando a retomada gradual da estabilidade financeira e a redução da dívida", diz parte do pedido de recuperação extrajudicial.

"Entretanto, a necessidade de honrar compromissos com fornecedores e manter estoques acumulados por tempo indeterminado, enquanto o consumo ainda se recuperava, intensificou as dificuldades financeiras, tornando o caminho para a normalização mais desafiador".

A recuperação mais lenta do setor, inclusive, foi outro motivo da crise atribuído à empresa. "As mudanças no comportamento social e a crise econômica alteraram a demanda por produtos não essenciais, como calçados", diz a empresa, no pedido. Ela também diz que o desarranjo das cadeias produtivas gerou uma inflação nos insumos, aumentando os custos do produto final.

Pesou, também, o custo dos aluguéis das lojas, especialmente em shoppings.

"Além disso, a recuperação do setor enfrenta desafios significativos devido à crescente concorrência de empresas estrangeiras, especialmente chinesas, que pressionam os preços e dificultam a competitividade das empresas nacionais", afirma a empresa.

O cenário macroeconômico nacional também influenciou na crise da Mr. Cat. Além da alta taxa de juros, há inflação pressionando o poder de compra do consumidor, volatilidade cambial e, mais recentemente, a tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, um dos principais polos calçadistas do Brasil, ajudou a comprometer a produção e a recuperação do mercado.

"A combinação da crise econômica, das mudanças nos hábitos de consumo, do aumento dos custos operacionais e da instabilidade gerada pela pandemia tornou inviável a continuidade de muitas unidades franqueadas", afirma. Em janeiro de 2020, a rede contava com 173 lojas franqueadas, número que caiu para 109 até o final de maio de 2024, representando o encerramento de 64 operações nesse período.

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