A Harman, dona da marca, tem investido em treinamento e monitoramento para derrubar anúncios de produtos falsos (Harman/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 15 de setembro de 2023 às 07h01.
“Olha a JBL”, gritam os vendedores pelas praias pelo país. Quase sempre, são produtos falsificados, feitos em países asiáticos e que entram ilegalmente ao Brasil por portos ou pelas fronteiras com países vizinhos. O sucesso global da marca nos últimos anos fez com a marca da Harman, adquirida pela Samsung em 2016, se tornasse um dos alvos da indústria da pirataria.
E o Brasil, com uma das maiores costas litorâneas do mundo, boas condições climáticas, musicalidade na veia e baixo poder aquisitivo, está entre um dos principais destinos desses produtos, segundo dados da empresa.
Na estimativa da Harman, o mercado de falsificados transaciona em torno de R$ 500 milhões por ano em itens da marca por aqui, especialmente caixas de som portátil e fones de ouvido. Um prejuízo que poderia ser bem maior.
Desde 2018, a empresa tem empreendido e evoluído em ações para coibir o contrabando e a pirataria, seja por meios físicos seja por canais digitais. A Harman não abre os valores investidos na empreitada.
De acordo com a Associação Brasileira de Combate à Falsificação, a pirataria movimentou R$ 345 bilhões em 2022, alta de 17% em relação ao ano anterior. Outra vítima famosa é a Stanley, que criou um selo para tentar diminuir as falsificações.
No ano passado, por exemplo, a Harman fez denúncias a marketplace e e-commerces que levaram à derrubada de mais de 50 mil anúncios. Em 2023, até agosto, outras 45 mil postagens foram retiradas do ar. O crescimento da pirataria acompanha a evolução do próprio mercado. Dados da consultoria GFK mostram a divisão das caixas de som com expansão de 42% em faturamento nos últimos 12 meses.
Nos cálculos da empresa, se comercializados online, esses produtos movimentariam cerca de R$ 400 milhões. A tarefa é hercúlea e ganhou um novo ritmo na pandemia de Covid-19. Com o número maior de potenciais consumidores online, aumentaram também as ofertas.
“A impressão que dá é que, realmente, a pirataria está muito forte, mas nós estamos sempre tentando mitigar e diminuir”, afirma Rodrigo Kniest, presidente da Harman do Brasil e vice-presidente sênior da região da América do Sul da Harman.
Ele conta que a empresa montou um time, hoje com cinco pessoas, e contratou plataformas digitais que fazem varredura de anúncios na internet. Os profissionais analisam os relatórios e, ao sinal de produtos falsificados, acionam varejistas e e-commerces para a derrubada.
No começo da década passada, as preocupações da operação brasileira eram relacionadas ao “mercado cinza”, modelo em que distribuidores compram os produtos legalmente em outros mercados e trazem ao Brasil ilegalmente, sem o pagamento de impostos e taxas.
À medida que produtos como o JBL Flip, a caixa de som portátil em formato ovalado, entraram no mercado e caíram no gosto dos consumidores, a pirataria avançou.
Além do monitoramento digital, também em 2018 a empresa começou a investir em ações junto aos órgãos públicos e estruturou, a partir de escritórios de advocacia, uma política de treinamentos para profissionais da Receita Federal, Polícia Federal, entre outros, que atuam em portos e áreas de fronteiras.
A ideia é prover conhecimento técnico para que tenham mais ferramentas que permitam a identificação de cargas com produtos falsos.
“Tem casos de falsificação que chegam a ser comédia. Eu já achei na Avenida Paulista pau de selfie com a marca JBL, que é algo que não fabricamos”, afirma Kniest.
“Mas isso é um extremo. E tem outro extremo que é bem mais sofisticado e eles botam os produtinhos bem acabados. Tem alguns que são idênticos aos nossos, à primeira vista. Se olhar a 10 metros de distância, é a mesma coisa. Quando pega na mão, nota que o acabamento não é o mesmo. Mas para um fiscal da Receita Federal tomar uma decisão de fazer uma apreensão, ele precisa ter certeza”.
Até o mês de agosto, a empresa registrou a apreensão pela Receita Federal de mais de 300.000 produtos falsificados, contabilizando itens como caixas de som portátil e fones de ouvido das marcas JBL e da Harman Kardon, do mesmo portfólio. Desde 2018, o volume de apreensões supera 2 milhões de itens.
Com tantas falsificações no mercado, a recomendação do presidente da Harman é usar o fator preço como parâmetro inicial para checar se um produto é ou não verdadeiro. Se tiver muito barato, o consumidor deve ficar atento.
Além disso, precisa checar no site da própria JBL se o item faz parto do portfólio da marca no Brasil.“Se não estiver no nosso site, ou é pirata ou grey market, o que dá no mesmo porque não vai funcionar bem no país”. Em cada região, os produtos atendem a determinadas especificações técnicas e regulações. Quando são transportados para outros países, podem não funcionar da forma esperada pelos consumidores.
Uma das próximas ações, inclusive, vem neste sentido. A empresa pretende lançar globalmente um recurso nos próprios aplicativos da marca para que as pessoas consigam saber onde cada produto da JBL foi produzido.
Ao fazer a conexão, a informação vai aparecer no dispositivo. “Será uma proteção a mais para o lojista na hora de ele comprar um produto de algum distribuidor”. A solução deve ser implementada no próximo ano.