Negócios

Café e educação: ela misturou as duas paixões e criou uma empresa de R$ 1 milhão no Nordeste

À frente da Kaffe Torrefação e Treinamento, Lidiane Santos já formou mais de 2,5 mil alunos – muitos vindos de outras regiões do Brasil e até do exterior – e impulsiona o mercado de cafés especiais no Recife

Lidiane Santos, fundadora da Kaffe Torrefação e Treinamento: “Mais do que vender, queremos transformar realidades por meio da educação, da hospitalidade e do cuidado em cada detalhe”

Lidiane Santos, fundadora da Kaffe Torrefação e Treinamento: “Mais do que vender, queremos transformar realidades por meio da educação, da hospitalidade e do cuidado em cada detalhe”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 1 de agosto de 2025 às 17h00.

Natural de Gravatá, no agreste pernambucano, Lidiane Santos cresceu entre formas de bolo, tachos de doces e o ritmo constante de uma casa onde o empreendedorismo feminino não era um conceito, mas uma necessidade cotidiana. Filha de uma doceira, aprendeu desde cedo que grandes negócios podem nascer do afeto e criou a Kaffe Torrefação e Treinamento, referência em educação e experiência no setor cafeeiro. Em 2024, a empresa ultrapassou a marca de R$ 1 milhão em faturamento bruto, com projeção de crescimento de 15% em 2025.

O negócio, fundado ao lado do marido, Eudes Santana, jornalista e mestre de torra, começou com R$ 150 mil de investimento próprio e inclui cafeteria, torrefação, consultoria e capacitação profissional. “O plano, agora, é ampliar a presença da marca, inovar no portfólio de produtos, e expandir os cursos para o formato online, alcançando novos mercados e profissionais”, diz a empresária, que já chegou a vender 1.300 kg de café em somente um mês. “Nosso objetivo é continuar educando o mercado e oferecendo experiências completas, com qualidade e propósito.”

Desde a criação da companhia, mais de 2,5 mil alunos passaram pelos cursos presenciais, muitos deles vindos de outros estados e até de fora do país. "Somos pioneiros na formação de profissionais de café no Recife, com turmas reduzidas e abordagem prática. Esses são os diferenciais do nosso modelo de ensino”, diz.

O caminho até a Kaffe

Formada em Pedagogia, com especialização em Psicopedagogia, Lidiane começou a trajetória profissional como professora da rede pública, atuando por seis anos na educação infantil. Até que, em 2006, decidiu transformar o conhecimento familiar em fonte de renda. Em parceria com a mãe e a irmã, fundou a Arte Café Confeitaria, um pequeno negócio de produção artesanal de bolos, doces e salgados no centro de Gravatá. "Enquanto elas se dedicavam à produção, eu assumi a gestão e o atendimento da loja", lembra a professora, que já exercitava suas habilidades para gestão.

A virada começou em 2009. Para ampliar o cardápio, investiu em formação especializada, tanto em Pernambuco quanto em São Paulo. Logo passou a oferecer serviço de café na loja e, pouco tempo depois, já ministrava cursos de barismo em cafeterias que buscavam qualificar suas equipes. Em 2011, começou a treinar pessoalmente profissionais do setor e, no ano seguinte, a lecionar a disciplina de Café e Chá no curso de Gastronomia da Uninassau, no Recife. Finalmente suas duas paixões se cruzavam: café e educação.

O incentivo dos alunos e a demanda crescente por formação especializada no setor motivaram um passo mais ousado: a fundação de uma escola de café. Assim, em 2013, ela criou o Espaço Sensorial do Café, primeiro núcleo educacional especializado no tema na região. Em 2017, o projeto ganhou corpo com a instalação de uma torrefação própria e uma loja voltada para entusiastas e pessoas da área. Nascia ali a Kaffe Torrefação e Treinamento, que hoje conta com duas unidades na capital pernambucana e se consolidou como referência no Nordeste.

Os desafios do caminho

A estratégia de formação profissional se mostrou essencial em um mercado ainda em consolidação no Brasil. Embora o consumo da bebida represente apenas 10% do total vendido no país, esse segmento cresce acima da média do setor tradicional. Segundo dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), a participação dos especiais avança cerca de 15% ao ano, impulsionada por cafeterias de nicho, torrefações artesanais e cursos profissionalizantes – pilares de atuação do negócio.

Ao lado do marido, a empreendedora comanda cada detalhe da operação, desde a curadoria dos grãos até o atendimento no balcão. A trajetória, no entanto, foi permeada de desafios. Além das dificuldades típicas de empreender no setor de alimentação – que concentra cerca de 30% das micro e pequenas empresas do país, segundo o Sebrae –, ela enfrentou obstáculos, como a ausência de uma cultura consolidada de consumo do produto e as limitações de capital para investir em equipe e estrutura.

Ainda assim, resistiu – e prosperou. Para isso, se apoia em três pilares principais: qualidade de produto, formação técnica e gestão humanizada. Fora isso, o reconhecimento do trabalho veio por meio de prêmios: em 2017, Lidiane foi eleita Barista do Ano pela revista Prazeres da Mesa e, no mesmo ano, a Kaffe foi escolhida como melhor café do Recife pelo guia Veja Comer & Beber.

Capacitação em todos os momentos

A trajetória também foi apoiada por iniciativas de fomento ao empreendedorismo, incluindo ações do Sebrae, que foi parceiro estratégico em diversas etapas, ajudando desde a formalização do negócio até o desenvolvimento do site e layout de produtos por meio do programa Sebraetec. Cursos de gestão financeira, precificação e atendimento também colaboraram para profissionalizar a operação.

A profissionalização da gestão e o cuidado com a cultura organizacional, aliás, são marcas da companhia. “Empreender é, acima de tudo, um exercício diário de escuta, adaptação e liderança com propósito”, resume Lidiane. Ela destaca a liderança humanizada como um dos fatores determinantes para o sucesso, em uma abordagem que busca alinhar metas corporativas com o bem-estar da equipe e a fidelização do cliente.

Ao olhar para trás, a empreendedora enxerga não somente a trajetória bem-sucedida, mas a consolidação de um ecossistema local de valorização da bebida, ancorado em educação, técnica e afeto. “Temos uma história que começou com a doçura da confeitaria e encontrou na torra de grãos um novo ponto de ebulição”, diz. A ideia é levar essa cultura a novos públicos e contextos, dentro e fora de Pernambuco. “Mais do que vender, queremos transformar realidades por meio da educação, da hospitalidade e do cuidado em cada detalhe”, finaliza.

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