ESG

Burger King lança dieta de capim-limão para bois. Meta: reduzir gases

Flatulência do gado é uma das principais fontes de emissão de metano na indústria de alimentos. Nova alimentação não altera sabor da carne

Existem mais de 1,3 bilhão de cabeças de gado no mundo, que são responsáveis por 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa (Juan Forero/Getty Images)

Existem mais de 1,3 bilhão de cabeças de gado no mundo, que são responsáveis por 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa (Juan Forero/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 14 de julho de 2020 às 13h31.

Última atualização em 14 de julho de 2020 às 14h49.

O chá de capim-limão, ou capim-santo, é conhecido por suas propriedades medicinais. A bebida é recomendada para o tratamento de insônia, ansiedade, febre e cólicas estomacais e intestinais. Sua capacidade desintoxicante o faz presente em diversas dietas de emagrecimento. Agora, um estudo feito no México e nos Estados Unidos descobriu um novo benefício da planta: reduzir a flatulência do gado. 

A pesquisa, conduzida pelos cientistas Octavio Castelan, PhD da Universidade Autônoma do Estado do México, e Ermias Kebreab, Phd da Universidade de Davis, nos Estados Unidos, mostra que a adição de 100g de capim-limão à dieta de bois e vacas criados em confinamento reduz em até 33% as emissões de gás metano proveniente dos animais. Com essa solução simples, eles esperam reduzir as emissões de carbono na cadeia da carne

Existem mais de 1,3 bilhão de cabeças de gado no mundo. Durante a digestão, esses animais geram uma quantidade de metano similar a todo sistema de transporte global, de acordo com dados da ONU. O setor de pecuária é responsável por 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa.

A partir da pesquisa, a rede americana de fast food Burger King desenvolveu um projeto para melhorar a dieta do gado comprado pela empresa e reduzir sua pegada de carbono. Segundo Matt Banton, chefe global de sustentabilidade e inovação do BK, a iniciativa está inserida no esforço global de combate ao aquecimento global. “As mudanças climáticas são uma preocupação crescente da empresa e dos consumidores”, disse Banton à Exame. “Por isso desenvolvemos esse trabalho de forma aberta, para que toda a indústria possa utilizar”. 

No Brasil, a JBS, principal fornecedora do BK no País, será a primeira a testar a dieta. A partir deste mês, a empresa conduzirá um piloto com 95 bois criados em confinamento, que receberão um adicional de capim-limão na dieta. O objetivo é verificar os efeitos dessa nova alimentação em cenários distintos, considerando as características de cada país e das diferentes raças de gado. 

Banton afirma que o Brasil, dono do maior rebanho bovino comercial do mundo, tem uma caraterística importante em sua pecuária, que torna o País um caso único. Aqui, cerca de 70% do gado é alimentado no pasto, ou seja, não é criado em confinamento. “Precisamos ampliar os estudos para compreender como viabilizar essa dieta em um cenário de alimentação natural”, afirma. “O mais importante é que, com uma solução simples, conseguimos bons resultados”. 

A nova dieta do gado, diz Banton, não altera em nada o sabor da carne. As propriedades medicinais do capim-limão também não são transferidas à carne. Para usufruir dos benefícios da planta, ele recomenda um chazinho. “É muito bom para o estômago”, diz o executivo. Muitos clientes do BK já devem ter escutado isso da mãe ou da avó. Soluções simples e naturais, às vezes, são as mais eficientes.

Acompanhe tudo sobre:Aquecimento globalBurger KingFast foodMudanças climáticas

Mais de ESG

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Brasil precisa atrair US$ 3 trilhões rumo ao net zero e pode ser hub de soluções climáticas, diz BCG

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Na ONU, Brasil usará redução no desmatamento e aquecimento global para conter crise das queimadas