Bruno Laskowsky, do BNDES. (YouTube/Reprodução)
Ao longo dos últimos anos, o diretor de participações, mercado de capitais e crédito indireto do BNDES, Bruno Laskowsky, se debruçou para entender o mercado de crédito de carbono. “Conversei com diversos players desse setor, no Brasil e no exterior, e fui, junto com outros diretores do BNDES, algumas vezes para a Amazônia”. Esses estudos trouxeram uma certeza: “o carbono vai ser uma moeda, e o BNDESPar tem de ser um agente estimulador e desenvolvedor desse mercado”, explica Laskowsky.
Mas por que o diretor de participações e mercado de capitais está se envolvendo tanto (e tão diretamente) no mercado voluntário de carbono? “O BNDESPar era um fundo de ações e, no início de 2019, nosso portfólio de renda variável era maior que o patrimônio líquido do BNDES. Então começamos o processo de desinvestimento em posições maduras, e decidimos aplicar esses recursos em três áreas: tecnologia, pois precisamos melhorar a produtividade da economia brasileira, empresas de impacto social, pois nosso país tem inúmeros desafios, e descarbonização da economia”, diz Laskowsky.
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E, ao analisar como investir e financiar a descarbonização da economia, Laskowsky se aproximou do mercado de créditos de carbono. “O carbono vai ser a moeda do mercado financeiro, pois mistura cripto com commodities e o mercado financeiro vai ser um agente importante na agenda de descarbonização.”
Se o carbono vai ser a moeda, Laskowsky credita que o BNDESPar tem de ser um agente estimulador e desenvolvedor desse mercado. “De um lado, o mercado voluntário de carbono é um mercado em formação, de balcão, com poucos projetos e poucos recursos. Do outro, a demanda potencial é muito alta, mas o comprador precisa de acessibilidade para compra desses créditos, além de querer a garantia de integridade, qualidade e adicionalidade dos créditos”. Observando essa dicotomia, Laskowsky acredita que o BNDES pode atuar como um market maker nesse mercado, desempenhando um papel semelhante ao realizado no desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.
Em um primeiro momento, a ideia do banco é estimular o mercado de REDD+, que é um mecanismo de redução de emissões de gases de efeito estufa provenientes de desmatamento e degradação florestal, através da conservação e aumento dos estoques de carbono florestal, e uso de práticas de manejo sustentáveis. Mas como será essa atuação?
“Atuaremos em três frentes: vamos comprar créditos de carbono que já foram certificados, e agir como um market maker; em projetos que já foram certificados mas os créditos não foram emitidos, vamos comprar os créditos e, nos projetos que ainda estão no processo de certificação, podemos comprar os créditos “a termo”, mas precisaremos de várias evidências que esses créditos serão certificados”, explica Laskowsky. O banco entende que pode ajudar a organizar melhor os projetos e dar um selo de qualidade aos créditos de carbono.
“Conversamos com muitos produtores e, entendendo suas condições, percebemos que precisamos dar uma compensação financeira para evitar o desmatamento. Então desenhamos um projeto onde vamos adiantar recursos com base na futura emissão de crédito de carbono. Esses produtores e a população indígena serão vigilantes da floresta em pé, e mostraremos os benefícios de vender créditos de carbono”, explica Laskowsky.
E, depois de comprar esse crédito, o BNDES está estudando um market place para juntar comprador e vendedor, mas pensando numa estruturação para que esse mercado saia das transações de balcão. “Ganhar dinheiro é um KPI secundário nesse projeto, nosso principal objetivo é estimular o mercado de carbono voluntário”.
Além de estimular esse mercado, como o banco pretende atuar para incentivar a descarbonização? “Desde 2015, nossos investimentos e financiamento em energia renovável e mobilidade já evitaram a emissão de 53 milhões de toneladas de carbono”, diz Laskowsky. “Além disso, acreditamos no linked loan, exigindo compromissos claros dos tomadores de crédito com descarbonização”. Nesse sentido, em agosto o BNDES anunciou o programa BNDES Crédito ASG, que cobra juro menor de empresa que reduzir emissões ou aumentar iniciativas sociais. “Com produtos e iniciativas, queremos exercer nosso importante papel no avanço da agenda ESG no Brasil”, conclui Laskowsky.
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) é um tratado internacional com o objetivo de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
Uma das principais tarefas da COP é revisar as comunicações nacionais e os inventários de emissões apresentados por todos os países membros e, com base nessas informações, avaliar os progressos feitos e as medidas a serem tomadas.
Para além disto, líderes empresariais, sociedade civil e mais, se unem para discutir suas participações no tema. Neste cenário, a EXAME atua como parceira oficial da Rede Brasil do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas.
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