Braskem: "O desafio do crescimento não orgânico é combinar com o outro lado, encontrar alguém disposto a vender ao preço que queremos" (Luke Sharrett/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 23 de novembro de 2017 às 17h39.
São Paulo - A Braskem vê uma tendência de consolidação no mercado petroquímico e considera oportunidades de aquisição, mesmo fora do foco estratégico de Américas e Europa, afirmou nesta quinta-feira o presidente da companhia, Fernando Musa.
Segundo o executivo, os resultados têm sido muito positivos e a Braskem tem espaço para elevar a alavancagem acima do nível desejado de 2,5 vezes "momentaneamente" para materializar aquisições.
"Já fizemos integrações grandes, compramos empresas menores, temos know-how e vamos seguir buscando oportunidades", disse Musa em encontro com investidores, em São Paulo.
O executivo ressaltou, contudo, que transações do tipo são complexas e que não há no momento conversas concretas em andamento. "O desafio do crescimento não orgânico é combinar com o outro lado, encontrar alguém disposto a vender ao preço que queremos, quando queremos e da forma que queremos", comentou.
Sobre o suposto interesse da Lyondellbasell em adquirir participação na Braskem, Musa disse que a petroquímica não foi abordada diretamente pelo grupo holandês. "Eles têm um portfólio de produtos muito parecido com o nosso, são uma empresa muito maior que a Braskem, eu entendo o porquê do rumor", disse.
Ele afirmou ainda que a decisão de venda de participação na Braskem depende unicamente dos acionistas - a Petrobras, que detém 47 por cento do capital votante da Braskem, e a Odebrecht, com 50,1 por cento.
A Petrobras já manifestou publicamente seu interesse em se desfazer da fatia na Braskem, enquanto a Odebrecht anunciou no fim de outubro que, embora avalie alternativas, pretende manter a petroquímica em seu portfólio de investimentos.
Às 16:31, os papéis da Braskem cediam 0,46 por cento, cotados a 47,28 reais. No ano até o momento, os papéis acumulam alta de cerca de 38 por cento.
Perguntado sobre a reestruturação societária e a possível conversão das ações de preferenciais em ordinárias, Musa comentou que o "ano ainda não acabou", mas evitou entrar em detalhes sobre as tratativas entre os acionistas.
De acordo com ele, a Braskem aposta na diversificação de matérias-primas e da atuação geográfica ampliar a rentabilidade das operações nos próximos anos. Atualmente, a empresa possui 29 fábricas no Brasil, quatro no México, seis nos Estados Unidos e duas na Europa.
"Apesar da recessão no Brasil, seguimos melhorando nossa rentabilidade de modo significativo graças à pujança das atividades fora do Brasil", afirmou o executivo, destacando ainda os esforços para gestão de custos.
Musa afirmou que este foi um ano bom para Braskem em termos de volumes em todas as regiões e a expectativa também é positiva para 2018, com uma demanda consistente, em especial do setor automotivo, e a possível depreciação do real devendo favorecer os resultados.
A petroquímica espera uma queda apenas ligeira no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) do Brasil no ano que vem, mas projeta estabilidade dessa linha do balanço nos Estados Unidos, Europa e México, disse o presidente.
A passagem do furacão Harvey pelos EUA ajudou a Braskem a ganhar espaço no mercado mexicano, expandindo sua participação e melhorando as margens, segundo Musa.
Ele estima que o complexo petroquímico naquele país atingirá 90 por cento da capacidade até o fim deste ano, devendo exportar não mais que 15 por cento da produção no curto prazo. "Nós vamos priorizar o mercado doméstico e exportar o excedente", afirmou.
Quanto às investigações no México de atos ilícitos da Odebrecht, Musa afirmou que a Braskem está dialogando com as autoridades locais, embora não tenha qualquer envolvimento com o caso.
A reforma tributária prometida pelo presidente Donald Trump nos EUA deve beneficiar a Braskem, gerando maior disponibilidade de caixa para empresa reinvestir e elevar dividendos, revelaram os executivos.
"A redução na alíquota de imposto de renda é naturalmente positiva e pode melhorar o retorno de futuros investimentos, mas até agora não temos intenção de alterar os planos", disse Musa, completando que as decisões de investimentos por enquanto se pautam nas condições de mercado.
A Braskem ainda não traçou a meta de investimentos para 2018, mas está confiante de que cumprirá o objetivo de 2,23 bilhões de reais projetado para este ano, afirmou o diretor financeiro da companhia, Pedro Freitas.
Até o fim de setembro, a empresa havia desembolsado 1,53 bilhão de reais do total previsto para o ano. "É normal faltar mais de 25 por cento dos investimentos, que costumam ser mais fortes no quarto trimestre", explicou.
Conforme Freitas, os investimentos deste ano contemplam o programa de flexibilização de matérias-primas em Camaçari (BA) e a nova fábrica de polipropileno nos EUA, além de desembolsos com paradas de manutenção e atendimento a normas regulatórias.
A Braskem gastou 100 milhões de dólares com o projeto no complexo da Bahia, onde produziu a primeira tonelada de eteno a partir de etano produzido nos EUA. "A estrutura implementada já nos permite produzir 15 por cento do eteno a partir de etano dos EUA", disse Musa.
Ele acrescentou que a empresa chegou a cogitar expandir o programa de flexibilização de matérias-primas para outras centrais petroquímicas. "A questão é a logística, a Bahia fica mais perto dos Estados Unidos e quanto mais ao sul maior seria o custo", explicou o presidente.