Daniele Andrade, fundadora da aiiaLabs: “Domino o assunto e aprendi a transformar desafios e preconceitos em combustível. A resposta vem com competência. Tento, inclusive, olhar com empatia para quem ainda não sabe lidar com algo que não vai mudar”. (Caue Angeli)
Jornalista especializada em carreira, RH e negócios
Publicado em 25 de abril de 2025 às 10h19.
O mercado global de inteligência artificial segue em plena expansão. Em 2024, movimentou US$ 185 bilhões e pode atingir até US$ 990 bilhões em 2027, com crescimento anual estimado entre 40% e 55%, segundo a consultoria Bain & Company. Impulsionado pela busca das empresas por mais eficiência e competitividade, esse avanço não apenas transforma negócios e economias, mas também abre espaço para novas iniciativas. É o caso da aiiaLabs, que desenvolve robôs para simplificar os processos de RH. Fundada em dezembro de 2023 pela paulistana Daniele Andrade, a startup espera atingir 500 mil usuários ativos até o final deste ano e já negocia com fundos que operam acima de US$ 6 milhões.
Entre as soluções está a Lia Speak, uma assistente virtual com recursos de voz e alimentada por LLM, capaz de processar e gerar linguagem natural. A ferramenta atua como um colega de equipe, oferecendo assistência personalizada, alinhada ao contexto e às demandas de cada companhia – desde a automação de tarefas até o acesso a dados e respostas para questões estratégicas. Há, ainda, um conjunto de serviços, incluindo mentoria virtual focada em aprendizado, auxílio na tomada de decisões, integração de novos funcionários e acompanhamento em processos de desligamento.
“O objetivo é resolver os desafios críticos da área, permitindo que as companhias se concentrem no que realmente importa: as pessoas”, diz a empreendedora.
Além disso, em 2026, a expectativa é expandir o portfólio com o lançamento de plataformas voltadas à performance e aprendizagem. Uma delas transforma textos em conteúdos – vídeos, podcasts, infográficos e e-books. Na prática, o usuário pode solicitar um podcast entre um jornalista e um especialista sobre o futuro da comunicação, por exemplo, estipulando tempo e formato.
Formada em Tecnologia e Mídias Sociais, com especializações em Digital Disruption: Digital Transformation Strategies, e Executive Education pela Universidade de Cambridge, Daniele acumula mais de 20 anos de experiência em capital humano, com passagens por gigantes como Natura, Vigor e Totvs, e uma atuação moldada pelo espírito intraempreendedor. “Minha trajetória é marcada pela integração de TI e gestão de pessoas para a elaboração de soluções que aumentam a produtividade e a performance”, afirma.
Um marco nesse sentido foi o trabalho na Totvs. “Já vinha desenvolvendo projetos bem-sucedidos, mas foi lá que me reconectei com a tecnologia e passei a questionar: ‘e se eu criasse algo meu e que fizesse diferença no mercado?’”, lembra. A pós-graduação em Cambridge, na qual elaborou um projeto de plataforma educacional com ferramentas disruptivas, foi o impulso que faltava. Ela voltou a estudar programação e, ao lado do sócio, Rui Tito, escreveu os códigos e criou as primeiras soluções. “Investimos bastante tempo para elaborar uma suíte de desenvolvimento própria. Hoje, conseguimos lançar um robô funcional em até 72 horas”, explica.
Em vez de investir diretamente em campanhas de vendas, a startup optou por promover a educação e o aculturamento sobre inteligência artificial. A decisão veio diante do cenário atual, ainda caracterizado por muitas dúvidas e receios em relação à IA. Uma pesquisa da Cisco revela que apenas 2% dos líderes acreditam que suas empresas estão preparadas para implementar a tecnologia de forma eficaz. Além disso, 74% admitem que a falta de conhecimento sobre o tema dificulta a tomada de decisões. “Algumas lideranças nos ligam, pois vão participar de reuniões de Conselho e não se sentem seguras para formular perguntas ou dar respostas. Nosso trabalho vai além da solução técnica; lidamos também com o aspecto emocional, oferecendo direcionamentos”.
A etapa inicial foi, então, gravar vídeos curtos para LinkedIn, explicando conceitos básicos de IA, de que forma funcionam os assistentes virtuais e outros recursos práticos. “O primeiro vídeo teve 40 mil visualizações em 72 horas. Foi uma surpresa para nós”, conta. E os resultados vieram rapidamente: a cada três vídeos postados, dois clientes entravam em contato.
Esses foram os alicerces para a construção da aiiaLabs. “Não basta ser resiliente, é fundamental evoluir diante das adversidades. Sempre gosto de usar uma metáfora para explicar o conceito de antifragilidade: se surgir uma pedra no caminho, não se trata apenas de removê-la, mas de usá-la como um degrau para subir”, explica.
Outro ponto importante é saber equilibrar persistência com flexibilidade. “É preciso trabalhar para realizar o que acredita, mas também estar aberto a revisar decisões”. A empreendedora também destaca o profundo entendimento do setor. “Eu programo, desenvolvo estratégias, conheço os detalhes dos meus produtos e monitoro constantemente o mercado e suas tendências. Isso me dá autoridade e segurança”.
Sendo mulher em um setor ainda majoritariamente masculino, Daniele precisou superar barreiras adicionais. “Já participei de reuniões nas quais os investidores não sabiam de que maneira me apresentar. Também recebi ligações com dúvidas técnicas sobre o robô da empresa, mas a pessoa perguntava se não havia alguém ‘mais adequado’ para responder”, conta.
Para lidar com essas situações, se apoia em resultados e conhecimento técnico. “Domino o assunto e aprendi a transformar desafios e preconceitos em combustível. A resposta vem com competência. Tento, inclusive, olhar com empatia para quem ainda não sabe lidar com algo que não vai mudar”.