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Brasil negocia com EUA e amplia venda de carne ao Irã

As exportações totais de carne bovina do Brasil cresceram no primeiro trimestre 24% em relação ao mesmo período do ano passado

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - Enquanto negocia com os Estados Unidos formas de abrir o mercado norte-americano à carne in natura brasileira, o Brasil está vendendo como nunca cortes bovinos ao Irã, apesar de crescentes pressões dos EUA por sanções econômicas ao país do Oriente Médio em função de seu programa nuclear.

Em parte pela força dos negócios com o Irã, as exportações totais de carne bovina do Brasil cresceram no primeiro trimestre 24 por cento em relação ao mesmo período do ano passado, para 1,06 bilhão de dólares, com alta de 17 por cento no preço médio, enquanto os embarques totais do produto subiram 6 por cento nos três primeiros meses de 2010, para 300 mil toneladas.

"Acho que tem um envolvimento muito grande do governo... acho que há uma decisão do governo iraniano de concentrar as importações de carne no Brasil...", afirmou à Reuters o diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Otávio Cançado.

Segundo ele, o Irã já importou no primeiro trimestre 60 mil toneladas de carne bovina do Brasil, ou cerca de 20 por cento das exportações nacionais. De acordo com a Abiec, o volume vendido aos iranianos é praticamente o mesmo embarcado em todo o ano passado para a nação do Oriente Médio, que respondeu por aproximadamente 10 por cento das vendas brasileiras em 2009.

"O Irã quer importar do Brasil este ano 140 mil toneladas... Se mantiver nesse ritmo (do trimestre), vai chegar a 180 mil toneladas", acrescentou ele. Em março, ressaltou Cançado, o Irã já dividiu a liderança na importação de carne bovina do Brasil com a Rússia. Cada país ficou com 23 por cento dos embarques feitos pelos brasileiros.

"O Irã está crescendo uma coisa absurda", ressaltou o executivo. "O Irã tem demanda, está pagando bem, paga em média 3.827 dólares a tonelada (base março), enquanto a Rússia paga 3.148 dólares".

Alheio aos apelos de Barack Obama contra o Irã, o Brasil ainda trabalha em um financiamento de exportações brasileiras ao país muçulmano, algo que pode ampliar mais as vendas de produtos agropecuários da nação sul-americana.


 

Recuperação

Os embarques do Brasil, o maior exportador mundial de carne bovina, estão crescendo este ano também em função da retomada da economia mundial, após a crise de 2009, que abateu as exportações do setor.

Os preços do produto exportado deram um salto, o que tem se refletido nas melhores receitas.

"Isso ocorreu basicamente em função da recuperação econômica, pelo aumento da renda da população mundial, pela melhora no crédito para os importadores e pelos baixos estoques nos países importadores", afirmou ele.

Essa situação, afirmou Cançado, indica que logo mais a Abiec poderá rever as previsões iniciais de exportações para o ano, de aumento de 20 por cento em receita ante 2009. Nesse patamar, as vendas já subiriam para 5 bilhões de dólares no ano.

Negociação com os EUA

Segundo o executivo da Abiec, as discussões sobre exportações de carne in natura para os Estados Unidos, no contexto do que os norte-americanos podem oferecer para evitar retaliações autorizadas pela Organização Mundial de Comércio dentro do caso do algodão, devem caminhar após o dia 22 de abril, depois de os dois países definirem questões relacionadas diretamente à cotonicultura.

A proposta inicial dos EUA de reconhecer Santa Catarina como livre de aftosa sem vacinação, embora seja uma chancela técnica internacional de sanidade do Estado, não é suficiente para atender as demandas brasileiras no setor de carne, segundo Cançado. Isso porque eventualmente beneficiaria apenas a carne suína, que conta com amplo parque de produção no Estado.

"Do ponto de vista do boi, isso (o reconhecimento de Santa Catarina) não representa nada, zero. Porque Santa Catarina não tem produção significativa de bovinos e não tem frigorífico habilitado para lugar nenhum, muito menos para os Estados Unidos", afirmou Cançado.

Entretanto, o executivo avalia que as discussões entre EUA e Brasil finalmente abrem caminho para um debate técnico. "Os EUA sempre relutaram (em discutir tecnicamente), mas no momento em que a negociação política e econômica joga a questão para o terreno técnico é o que a gente mais queria", afirmou ele.

Ele disse que o Brasil provavelmente exigirá dos EUA não somente o acesso da carne de Santa Catarina, mas de toda a produção de áreas livres de aftosa, inclusive as com vacinação.

Segundo o executivo, o Brasil vai querer um compromisso da apresentação pelos EUA de um calendário de discussões. E, se ao fim dos debates os norte-americanos disserem que não aceitam a carne bovina do Brasil, o país exigirá um documento falando isso, o que tecnicamente permitirá eventuais ações na OMC. "Hoje a gente não tem (condições de abrir um processo na OMC), porque a gente não tem nada por escrito."

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