Orlando Cintra, do BR Angels: “Nosso diferencial é a entrega do smart money: capital financeiro, sim, mas também capital intelectual, que é o que realmente faz a diferença para escalar startups” (Divulgação/Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 26 de maio de 2025 às 13h56.
Última atualização em 26 de maio de 2025 às 15h05.
O mercado de venture capital vive um momento de transformação no Brasil e no mundo. O aumento das taxas de juro e a maior aversão ao risco reduziram o apetite dos investidores por aportes em startups, tornando o capital mais caro. Como consequência, os valuations, que indicam o valor estimado das empresas em rodadas de investimento, vêm sofrendo queda ou desaceleração em seu crescimento.
Nesse cenário desafiador, marcado pela retração global de recursos para o segmento de venture capital, as 35 startups brasileiras investidas pelo BR Angels alcançam a marca de R$ 2 bilhões em valuation total de seu portfólio — um número que demonstra o potencial da estratégia adotada pela associação.
Fundado em 2019, o BR Angels surgiu como um ecossistema de inovação e investimento voltado para startups brasileiras. O grupo já realizou 35 aportes, totalizando cerca de R$ 70 milhões em investimentos, sendo R$ 45 milhões já aportados. Seu portfólio cobre diversos setores, como agronegócio, healthtech, tecnologia, marketing e logística.
Orlando Cintra, fundador e CEO do BR Angels, tem em seu currículo posições de liderança em multinacionais como SAP, HP e Informatica.
Ele lidera uma rede que reúne de 250 a 400 executivos e empresários, que não apenas aportam recursos, mas também oferecem seu conhecimento em forma de mentoria.
“Nosso diferencial é a entrega do smart money: capital financeiro, sim, mas também capital intelectual, que é o que realmente faz a diferença para escalar startups”, afirma Cintra.
O modelo de atuação do BR Angels prevê um compromisso estatutário dos membros para dedicar pelo menos 4 horas mensais às mentorias. O grupo está organizado em nove times especializados — os chamados grupos Smart — que abordam temas como vendas, tecnologia, compliance e expansão.
“A maior parte dos investidores ainda foca apenas no dinheiro, mas a gente sabe que o sucesso de uma startup depende muito mais de suporte estratégico e operacional. Por isso, criamos esses grupos para ajudar de forma estruturada,” explica o CEO.
A seleção das startups para investimento é feita de forma criteriosa. As empresas interessadas apresentam seus projetos em pitches para os membros, que votam para aprovação dos aportes. Os cheques variam de R$ 300 mil a R$ 3 milhões, podendo chegar a R$ 1,5 milhão por startup em rodadas temáticas, como o batch exclusivo para agtechs lançado em 2025.
Cintra ressalta a importância de manter o foco mesmo diante do cenário econômico adverso: “Mesmo em momentos mais difíceis, como a pandemia e a alta das taxas de juro, mantemos a crença no potencial dos novos negócios. Identificamos as boas ideias e ajudamos a acelerar o crescimento delas.”
O ecossistema BR Angels já soma quatro exits (saídas de investimentos) — casos em que as startups foram vendidas total ou parcialmente. Entre elas, a Chiligum, plataforma de automação para marketing, foi adquirida pela americana VidMob; e a Motorista PX, que conecta caminhoneiros a transportadoras, conseguiu expandir sua operação com o apoio do grupo.
“A gente não investe só para aportar dinheiro, mas para ajudar no crescimento sustentável. As saídas são a comprovação de que o modelo smart money funciona. É quando todos ganham: o investidor recupera seu capital e a startup ganha escala,” explica Cintra.
Além dos exits, o BR Angels acompanha o desenvolvimento de empresas como LandApp (logística), Mind miners (tecnologia), Nvoip (comunicação), Home Agent (atendimento) e VUXX (transporte), que foi adquirida pelo Rappi. “Nosso objetivo é diversificar o portfólio e estar em segmentos com potencial de impacto e escalabilidade,” destaca o CEO.
Em 2025, o grupo estruturou um batch de R$ 5 milhões dedicado exclusivamente ao agronegócio, setor estratégico para o Brasil. “As agtechs têm soluções inovadoras e modelos escaláveis que merecem atenção e investimento estruturado. Nosso batch focado visa ampliar essa agenda,” afirma Orlando.
O fundador também reforça que o momento atual exige resiliência e visão de longo prazo. “O mercado está mais seletivo, o capital é mais caro, mas é justamente aí que o investidor que oferece valor real se destaca. Estamos criando um ambiente de suporte completo, onde dinheiro, conhecimento e networking se combinam para reduzir riscos e maximizar resultados.”
Cintra destaca ainda que a expansão do grupo, com novos membros de alto escalão, contribui para a renovação e fortalecimento da rede: “Recentemente, incorporamos executivos como Sergio Waib, que traz experiência e network, agregando valor para todo o ecossistema.”
Com essa combinação de recursos financeiros e know-how, o BR Angels constrói uma referência no mercado brasileiro de venture capital. Em um momento em que valuations estão mais contidos, chegar a R$ 2 bilhões no valor total das startups investidas sinaliza a robustez do modelo adotado.
“Mais do que celebrar um número, vemos essa marca como o resultado do trabalho coletivo para transformar ideias em negócios sólidos e escaláveis. Estamos atentos às oportunidades e focados em manter o crescimento sustentável do ecossistema,” diz Cintra.