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BP mira etanol no Brasil, mas paga as contas com o açúcar

Tirando de circulação os carros, a pandemia do novo coronavírus vai reduzir em 10% as vendas de etanol no Brasil, enquanto os preços do açúcar subiram

Lavoura de cana-de-açúcar: BP administra 11 usinas no Brasil junto com a Bunge (Nacho Doce/Reuters)

Lavoura de cana-de-açúcar: BP administra 11 usinas no Brasil junto com a Bunge (Nacho Doce/Reuters)

DG

Denyse Godoy

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 19h27.

Última atualização em 13 de outubro de 2020 às 19h51.

A BP anunciou recentemente uma meta ambiciosa de aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis. Mas, enquanto a petrolífera britânica está apostando no etanol no Brasil, é a produção de açúcar que paga as contas.

A pandemia tirou os carros de circulação e vai reduzir a demanda de etanol em 10% neste ano no Brasil, onde a empresa administra 11 usinas juntamente com o gigante americano do agronegócio Bunge, informou Mario Lyndenhayn, que comanda as operações da BP no Brasil. Isso significa que a joint venture foi forçada a transformar mais cana em açúcar às custas da produção do biocombustível — e logo no primeiro ano de operação.

No mês passado, a BP prometeu reduzir a produção de petróleo e gás em 40% ao longo da próxima década e multiplicar por 20 a produção de energia renovável. O etanol brasileiro é fundamental para alcançar essa meta. A BP Bunge Bioenergia focou em melhorar a eficiência e diminuir os custos de produção, mas a pandemia que derrubou os mercados de commodities fez com que o açúcar desse mais retorno do que o biocombustível.

“Os preços do açúcar em reais saltaram para um nível muito atraente para as usinas no Brasil”, disse Geovane Dilkin Consul, CEO da joint venture, em entrevista. Esse movimento permitiu que a indústria “não sofresse muito”.

As usinas podem destinar mais ou menos cana para fazer açúcar ou etanol, dependendo de qual produto oferece melhor retorno. Enquanto a maior parte do açúcar é exportada, o etanol abastece a frota doméstica de carros flex.

A queda de preços do etanol e a desvalorização da moeda brasileira, que elevou a dívida denominada em dólares da empresa, forçaram a Bunge a reduzir as perspectivas para sua joint venture em julho. Os resultados da BP Bunge caíram no segundo trimestre, abalados por perdas cambiais de 70 milhões de dólares relacionadas ao endividamento. Desde então, a perspectiva melhorou, disse Lyndenhayn durante a entrevista.

“O recuo na demanda de etanol não é bom, mas é certamente muito melhor do que a perspectiva que se via em março, abril”, disse ele.

Garantindo o lucro

Para garantir o lucro com o açúcar, a empresa fez contratos de hedge para toda a atual safra a preço quase recorde em reais. Para a safra do ano que vem, os contratos garantidos foram a preço 10% maior. Cerca de um terço da produção da temporada seguinte está com preço fechado 8% superior a 2021, segundo Consul.

BP e Bunge fizeram suas primeiras incursões separadamente no mercado brasileiro de etanol há mais de uma década, quando a ascensão global dos biocombustíveis desencadeou uma onda de investimentos que não atingiram expectativas depois que a crise econômica de 2008 tirou o crescimento global dos trilhos. No Brasil, o segundo maior produtor mundial de etanol depois dos Estados Unidos, o setor também foi atingido pela limitação do preço da gasolina durante sete anos, que prejudicou a demanda.

Quando compraram usinas, as multinacionais focaram demais em ativos industriais em vez da qualidade dos canaviais, o que Consul considera um erro.

“Nossa curva de aprendizado foi dolorosa”, acrescentou Lyndenhayn, que também atua como presidente executivo da BP Bunge Bioenergia.

Ainda assim, a BP está renovando a aposta no etanol brasileiro. A joint venture planeja gastar mais de 1 bilhão de reais nos canaviais e 200 milhões de reais adicionais em ativos industriais. A joint venture pretende economizar cerca de 1 bilhão de reais em três anos a partir da captura de sinergias.

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