Boeing: "Boeing veio para comprar a Embraer, não para fazer uma parceria ou uma joint-venture às quais estamos abertos", disse fonte (Chris McGrath/Getty Images)
Reuters
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 18h39.
Última atualização em 18 de janeiro de 2018 às 19h20.
Brasília - A Boeing está trabalhando para superar as objeções de militares brasileiros a uma aliança da empresa norte-americana com a Embraer, com alternativas para preservar os direitos de veto do governo a decisões estratégicas e salvaguardas para seus programas de defesa, afirmaram quatro fontes com conhecimento do assunto nesta terça-feira.
A fabricante norte-americana de aviões foi forçada a refazer os planos envolvendo a Embraer depois que autoridades brasileiras na semana passada se posicionaram contra a ideia de tornar a Embraer uma subsidiária como as que a Boeing opera na Austrália e na Inglaterra, afirmaram as fontes.
"Boeing veio para comprar a Embraer, não para fazer uma parceria ou uma joint-venture às quais estamos abertos, mas para tomar o controle da companhia. Isso foi rejeitado", disse uma das fontes, uma autoridade do governo. "Cabe à Boeing voltar com uma nova proposta."
A proposta de aliança da Boeing com a Embraer daria ao grupo uma participação de liderança no mercado de aeronaves de 70 a 130 assentos e criaria um competidor mais duro ao CSeries desenvolvido pela canadense Bombardier e conduzido pela europeia Airbus desde o ano passado.
A oferta da Boeing avalia a companhia em 5 bilhões a 6 bilhões de dólares, disse uma fonte com conhecimento das discussões. Desde que a notícia de proposta da Boeing foi divulgada no mês passado, as ações da Embraer acumulam valorização de 22 por cento em Nova York, levando o valor de mercado da companhia para 4,6 bilhões de dólares.
Representantes da Embraer afirmaram que a empresa não comenta o assunto e a Boeing e o Ministério da Defesa não responderam de imediado a pedidos de comentários.
Autoridades no Ministério da Fazenda e no BNDES, que detém 5 por cento da Embraer, têm apoiado um acordo entre as empresas, mas representantes da área de Defesa são mais céticos, afirmaram as fontes. O BNDES não comentou o assunto e o ministério não se manifestou.
"A Força Aérea é a principal fonte de resistência, afirmou um assessor do presidente Michel Temer. Os militares se opõem a qualquer divisão da Embraer", disse o assessor comentando que o ministro da Defesa, Raul Jungman, ainda precisa fazer uma recomendação sobre a operação proposta pela Boeing ao presidente.
O Comando da Aeronáutica afirmou em comunicado que "considera a Embraer uma empresa estratégica e fundamental para a soberania nacional, portanto, uma possível parceria entre as empresas Embraer e Boeing deverá ser analisada também sob esses enfoques".
O comandante da Força Aérea, o tenente-brigadeiro Nivaldo Rossato, participou na semana passada de reunião com Jungman em Brasília com executivos de alto escalão da Boeing, incluindo o vice-presidente financeiro Greg Smith, que não conseguiu convencer as autoridades brasileiras.
Nem o governo, nem as companhias, querem uma divisão completa das operações comerciais e de defesa da Embraer, dada a integração de tecnologia e recursos de engenharia, disseram as fontes.
"Acreditamos que a Boeing vai acabar concordando com uma parceria ou uma joint-venture porque eles foram enfraquecidos pelo acordo Airbus-Bombardier", disse uma das fontes. "Eles não têm outro possível parceiro e precisam de uma solução rápida."