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Boeing divulga prejuízo de US$ 641 mi e deve demitir 10% dos funcionários

Resultados do primeiro trimestre vêm dias depois do cancelamento da fusão com a divisão de jatos comerciais da Embraer

Avião da Boeing: prejuízo em meio à crise do coronavírus se soma às perdas que o 737 Max já vinha trazendo (David Ryder/Reuters)

Avião da Boeing: prejuízo em meio à crise do coronavírus se soma às perdas que o 737 Max já vinha trazendo (David Ryder/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 29 de abril de 2020 às 12h31.

Última atualização em 29 de abril de 2020 às 14h17.

A fabricante americana de aeronaves Boeing divulgou nesta terça-feira, 28, que teve prejuízo de 641 milhões de dólares no primeiro trimestre deste ano. No mesmo período de 2019, o lucro havia sido de 2,1 bilhões de dólares.

O faturamento entre janeiro e março foi de 16,9 bilhões de dólares, queda de 26% em relação ao mesmo período de 2019. A empresa ainda queimou 4,3 bilhões de dólares em caixa, à medida em que a pandemia do novo coronavírus fez pedidos de aeronaves serem cancelados e pagamentos atrasados.

"A pandemia da covid-19 está afetando todos os aspectos do nosso negócio, incluindo a demanda das companhias aéreas, a continuidade da produção e a estabilidade da cadeia logística", disse no comunicado anunciando os resultados o presidente da Boeing, David Calhoun. "Nosso foco principal é a saúde e segurança de nossas pessoas e comunidades, enquanto tomamos medidas duras mas necessárias para navegar esta crise de saúde sem precedentes e nos adaptar para um mercado transformado."

Para lidar com a crise, a empresa também anunciou medidas de corte de até 10% de seus 160.000 funcionários, primeiro com plano de demissão voluntária e demissões involuntárias "se necessário". A produção de novas aeronaves será reduzida, com planos de redução que vão até 2022, uma vez que a demanda por aeronaves funciona com longos períodos de antecedência.

Ações sobem

Apesar do resultado ruim, as ações da Boeing tiveram alta após a divulgação dos números, mesmo nas negociações antes da abertura do mercado. Os papéis mantiveram a alta ao longo da manhã e subiam acima de 5% na Bolsa de Nova York às 12h, puxados pelas medidas de corte de custo da companhia e por algumas expectativas de que o resultado do trimestre seria ainda pior do que o apresentado.

O papel também vinha muito abaixo de seu patamar normal: até o fechamento do pregão de terça-feira, 28, as ações da Boeing acumulavam queda de mais de 60% no ano.

A Boeing é uma das pontas de uma cadeia de aviação que foi amplamente afetada pela pandemia, sobretudo a partir de fevereiro, quando a doença começou a se espalhar da China para outras regiões. Com circulação de pessoas restrita em todo o mundo, voos internacionais e mesmo nacionais foram quase completamente cortados. Companhias aéreas e empresas do setor têm negociado pacotes de ajuda junto ao governo dos Estados Unidos -- no Brasil, as empresas também negociam empréstimos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As companhias aéreas em má situação financeira e com futuro incerto diante da crise vêm fazendo menos pedidos de aeronaves, atrasando a entrega das que já foram encomendadas e fazendo menos reparos nos aviões, diz a Boeing. Só nos EUA, a demanda por voos está em cerca de 5% do que era em 2019.

Para o setor a aéreo, a crise deve continuar pelos próximos anos. Em assembleia com investidores na segunda-feira, 27, Calhoun já havia afirmado que espera que a demanda demore de dois a três anos para voltar ao patamar de 2019.

A crise pega a Boeing após um 2019 que já havia sido ruim. A empresa sofreu uma série de problemas financeiros e judiciais no ano passado com as falhas no modelo 737 Max, que foi proibido de voar por agências reguladoras. Dois voos com o modelo foram envolvidos em acidentes: um na Etiópia, em março de 2019, que deixou 157 vítimas, e outro na Indonésia, em 2018, com 189 mortes. O presidente da Boeing afirmou hoje que está trabalhando para um "retorno seguro" do 737 Max.

Caso Embraer

O resultado da Boeing vem dias depois de a companhia americana desistir, no último sábado, 25, de uma fusão planejada com a divisão de jatos comerciais da brasileira Embraer.

O negócio era de 5,2 bilhões de dólares e a Embraer receberia 4,2 bilhões de dólares da Boeing. O desembolso teria de ocorrer agora, após a assinatura final – ou seja, no meio da crise de liquidez da própria Boeing com a pandemia. 

Como justificativa, a empresa americana afirmou que a Embraer não cumpriu com todos os termos do acordo. A Embraer disse que a Boeing "rescindiu indevidamente” a fusão. A fabricante de aeronaves brasileira diz anunciou um processo de arbitragem contra a companhia americana para cobrar os prejuízos referentes ao não-cuprimento do contrato. 

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