Casas Bahia: ofertas com parceiros antecipam a Black Friday (Divulgação/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 18 de novembro de 2021 às 07h05.
Última atualização em 18 de novembro de 2021 às 07h36.
Cashback, frete grátis e financiamento a perder de vista serão os atrativos da "Black Friday da inflação". Com a alta de preços batendo quase 11% nos últimos 12 meses, o orçamento das famílias ficou comprometido e também a margem de lucro das varejistas.
A estratégia tem sido oferecer outros atrativos para além do tradicional desconto no preço. Uma das que adotaram essa abordagem é a Via, detentora das marcas Ponto e Casas Bahia, que está dividindo em até 30 vezes sem juros as compras, com o primeiro pagamento só para daqui a 100 dias, ou seja, em 2022, em compras no cartão das lojas.
E, durante novembro, os clientes podem renegociar as parcelas do carnê em atraso, tendo desconto de até 90% do valor, além de reparcelamento da dívida em até 36 vezes.
O superintendente de recuperação de crédito da Via, Danilo Machado Rosati, diz que as decisões foram tomadas diante do impacto da pandemia no orçamento das pessoas:
— Dessa forma, elas podem se organizar e aproveitar as promoções da Black Friday. Comprar agora e pagar depois é uma oportunidade de consumo à população desbancarizada.
Na Havan, cuja expectativa é superar o desempenho do ano passado, os clientes que compram no cartão da loja podem parcelar em até 15 vezes sem juros ou 10 vezes sem juros e sem entrada entre as promoções de Black Friday.
A empresa tem ainda o “pula-pula”, na qual o consumidor paga a primeira parcela somente após 60 dias.
Outra tática para atrair o consumidor é a de diversificar ainda mais os produtos. As empresas tentam identificar tendências, principalmente via redes sociais, para serem mais assertivas nas ofertas ou destacarem peças mais caras para atender classes mais altas.
Dessa forma, equilibram as vendas com o consumidor mais fragilizado.
A Amazon fez um combo de ações que compreende exclusividade para clientes prime, frete grátis, ofertas do aplicativo e uma seleção de itens em promoção a cada dia, além dos descontos. Quanto ao parcelamento: em até 10 vezes sem juros, e em até 12 vezes para dispositivos Amazon.
— Os descontos terão tempo limitado em diversas categorias, além de cupons do dia com ofertas exclusivas no aplicativo da Amazon Brasil — pontua Marcelo Giugliano, líder de varejo na Amazon Brasil.
A linha é semelhante à adotada pelo Mercado Livre que, a partir das principais buscas da plataforma, redireciona qual será o produto com o maior desconto na semana.
Na esteira da diversificação, o Magazine Luiza aposta mais em produtos da linha premium e investe com força na categoria de alimentos para 2021.
— Vamos ter (ofertas) para todos os bolsos, mas nosso foco são os itens mais específicos porque vemos que ano a ano esta é uma data em que as pessoas compram seus objetos de desejo, como um celular mais caro, televisores de telas maiores ou máquina de lavar e secar — argumenta o diretor-executivo de Planejamento Comercial do Magalu, Luiz Fernando Rego.
O executivo diz que os parcelamentos em geral serão em até 18 vezes no mês e que não a empresa não vai reduzir os descontos. Isso porque o Magalu diz ter adiantando as compras para negociar melhores preços com os fornecedores.
Pesquisa realizada pela Méliuz mostra que 74% das pessoas pretendem parcelar suas compras na Black Friday e que o tíquete-médio previsto está menor que em 2020.
Os dispostos a desembolsar mais de R$ 3 mil caíram de 14,6% para 10,3%. Os que gastariam entre R$ 1 mil e R$ 2.999, passaram de 32,2% para 24,5%.
Na faixa de R$ 999 a R$ 1.000 acontece o mesmo. Só houve alta entre os que pensam em gastar até R$ 99.
Apesar da estratégia das empresas e da tendência de parcelamento, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) avalia que a receita com vendas da Black Friday terá queda pela primeira vez em cinco anos, descontando a inflação.
A estimativa da entidade é que a data movimente R$ 3,93 bilhões neste ano, o que representa - em valores nominais - um crescimento de 3,8% no faturamento em relação ao ano passado e o maior volume desde que a data foi incorporada ao calendário do varejo nacional, em 2010.
Porém, descontada a inflação, isso deve representar um recuo de 6,5%, a primeira variação negativa desde 2016. Ou seja, em termos reais, o faturamento com as vendas vai cair.
A inflação reduz o poder de consumo das famílias, cujo endividamento já bateu recorde neste ano, e reduz o ganho das empresas, que já têm dificuldades em repassar reajustes vindos da indústria.`
Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do Ibre/FGV, também aponta para uma desaceleração em termos reais na Black Friday deste ano:
— Temos observado nas sondagens que as vendas vêm diminuindo. O mercado está em uma situação delicada, os auxílios (emergenciais) são inferiores e, aliado a um mercado de trabalho sensível, o cenário macroeconômico está fragilizado.
De acordo com a consultoria GFK, os preços dos principais produtos procurados na data estão mais altos neste ano.
O preço médio do tablet, por exemplo, subiu 55% na comparação de janeiro a outubro de 2020 com igual período de 2021. As TVs de tela fina, 27% e o smartphones, 15%.