Símbolo do nazismo (Foto/Getty Images)
Mariana Desidério
Publicado em 5 de maio de 2018 às 07h00.
Última atualização em 5 de maio de 2018 às 07h00.
O avô deles teria sido o homem mais rico da Alemanha nazista após construir um império armamentista com uso de trabalho escravo.
O pai esteve envolvido em um dos maiores escândalos políticos do pós-guerra. E quase perdeu a fortuna da família.
Sobrou o suficiente para que Viktoria-Katharina Flick e seu irmão gêmeo, Karl-Friedrich Flick, possam declarar, aos 19 anos, que são os bilionários mais jovens do mundo. Cada um deles possui US$ 1,8 bilhão, segundo o Bloomberg Billionaires Index.
Por trás dessas riquezas, administradas com discrição por um family office na Áustria, está a história sombria de uma das mais ricas dinastias industriais da Alemanha.
O patrimônio começou a crescer com Friedrich Flick, que passou três anos na prisão após condenação pelo tribunal de crimes de guerra de Nuremberg por usar trabalho escravo para produzir armamentos para os nazistas, entre outros crimes. Ele criou um gigante siderúrgico, tomando empresas em territórios ocupados pelos nazistas e na Alemanha por meio da chamada arianização — ou expropriação e venda forçada de empresas pertencentes a judeus. Segundo um estudo de 2008 sobre os negócios dele na era nazista, 40.000 pessoas podem ter morrido trabalhando nos projetos de Flick.
Flick saiu da prisão em 1950 depois que o alto comissariado dos EUA para a Alemanha concedeu indultos controversos a industriais alemães. Os EUA e o Reino Unido devolveram dinheiro e negócios dele, incluindo um ativo arianizado. Ele vendeu as operações de carvão e investiu os recursos em várias empresas, inclusive na Daimler-Benz, tornando-se posteriormente o maior acionista da fabricante de veículos.
“Deixando de lado todos os padrões morais, Friedrich Flick teve a capacidade genial de se tornar a pessoa mais rica da Alemanha duas vezes”, disse Thomas Ramge, autor de “The Flicks”, uma história da família.
O filho Friedrich Karl Flick assumiu os negócios após a morte do pai, em 1972. Ele se tornou o único proprietário do então maior conglomerado de capital fechado da Alemanha após adquirir as partes de três membros da família, em 1975. Naquele ano, ele vendeu o ativo arianizado que restava — os altos fornos em Luebeck, no norte da Alemanha — à U.S. Steel.
Na década de 1980, o nome dele foi envolvido em doações políticas ilegais, em um escândalo que provocou a renúncia do ministro da Economia e do presidente do Parlamento. Friedrich Karl Flick negou que tivesse conhecimento dos pagamentos e não foi indiciado. Em 1987, seu sócio mais próximo foi multado por evasão fiscal e condenado a dois anos de prisão, com pena suspensa.
Quase uma década depois, Flick se mudou para a Áustria, lar de sua terceira esposa, Ingrid Ragger, 32 anos mais jovem. Eles se conheceram quando ela trabalhava como recepcionista em um resort de esqui. Ele morreu em 2006, quando Viktoria-Katharina e Karl-Friedrich, um minuto mais novo que a irmã, tinham 7 anos.Hoje, a fortuna dos gêmeos é administrada pelo Flick Privatstiftung, um escritório familiar com sedes em Viena e em Velden am Woerthersee, na Áustria. Stefan Weiser, um integrante do conselho, preferiu não comentar sobre o tamanho da fortuna calculado pela Bloomberg.
“Como somos um escritório de uma única família, não divulgamos nenhum detalhe a pessoas de fora”, afirmou Weiser por e-mail. Os gêmeos não foram colocados à disposição para entrevistas. Suas duas meias-irmãs, Alexandra Butz, 50, e Elisabeth von Auersperg-Breunner, 44, do segundo casamento de Friedrich Karl Flick, vivem em Munique e na Áustria. O patrimônio líquido das irmãs também é de US$ 1,8 bilhão cada. Elas preferiram não comentar.