Bryan Johnson, o empreendedor de biotecnologia conhecido por sua incansável busca pela juventude eterna, está enfrentando um dilema entre o lucro e a filosofia. Em uma entrevista publicada na segunda-feira, 21, pela Wired, o fundador da startup de anti-envelhecimento Blueprint revelou que está cogitando a possibilidade de fechar a empresa ou vendê-la.
"Honestamente, estou muito próximo de fechar ou vender [a empresa]", afirmou Johnson. Ele explicou que está discutindo essa possibilidade com "algumas pessoas", embora tenha deixado claro que "não precisa do dinheiro", mas que a empresa se tornou um "problema".
Johnson, de 47 anos, iniciou o programa anti-envelhecimento Projeto Blueprint em 2021, com o objetivo de reverter o envelhecimento. Segundo o empresário, esse programa custa cerca de US$ 2 milhões por ano. Durante um período, ele até se submeteu a transfusões de sangue de seu filho, acreditando que isso poderia ajudar a retardar seu envelhecimento. No entanto, ele interrompeu o experimento após seis meses, afirmando que não percebeu "nenhum benefício detectado".
A Blueprint, empresa fundada por Johnson, comercializa uma série de produtos de bem-estar, incluindo uma bebida de US$ 55 chamada "longevity mix" e uma alternativa ao café chamada "Super Shrooms", que custa US$ 42.
'Não morra' — a nova religião
Em março deste ano, Johnson anunciou de maneira inusitada em uma postagem no X (antigo Twitter) que estava criando sua própria religião, chamada "Don't Die" (Não Morra).
A religião leva o nome do slogan que Johnson usou para promover seu documentário na Netflix, produtos e eventos relacionados à longevidade. Em seu post, Johnson refletiu sobre como, em um experimento de pensamento, imaginou estar no futuro, no século 25, onde as pessoas diriam que a humanidade se salvou e se fundiu com a inteligência artificial (IA) sob o lema "Don't Die".
Mas agora Johnson parece estar vendo os desafios que envolvem gerenciar uma empresa de longevidade enquanto prega uma filosofia de vida em torno do mesmo tema. Ele afirmou que começou a Blueprint porque seus amigos estavam pedindo os suplementos de saúde que ele consumia. "Foi algo que evoluiu de forma que eu estava tentando ajudar as pessoas. O problema agora é que as pessoas veem o negócio e me dão menos credibilidade no lado filosófico", explicou ele à Wired.
O dilema parece claro para o empresário. "Eu não vou fazer essa troca. Não vale a pena para mim. Então, sim, eu não quero isso", concluiu Johnson.
Crises internas e financeiras
Além das questões filosóficas, Johnson também enfrenta dificuldades financeiras em sua empresa. Em uma reportagem do The New York Times publicada em março, foi revelado que a Blueprint estava passando por problemas financeiros, com uma lacuna de pelo menos US$ 1 milhão por mês para atingir o ponto de equilíbrio. Johnson, no entanto, negou que a empresa estivesse enfrentando uma "situação financeira de emergência". "Estamos no ponto de equilíbrio, e já falei isso publicamente várias vezes. Tivemos meses lucrativos e meses de prejuízo", explicou o fundador à Wired.
O maior dilema de Bryan Johnson não é apenas a sustentabilidade financeira de sua empresa, mas também a incompatibilidade entre os interesses comerciais e filosóficos que ele defende. A fundação de uma religião, sua dedicação extrema à longevidade e a venda de produtos relacionados à saúde se chocam com seu desejo de ser visto como um pensador sério e filosófico.
“Eu estou tentando fazer algo que vai além da saúde física. Eu quero ser parte de uma mudança global que pode definir o futuro da humanidade”, afirmou.
O impacto do controle
Em sua casa em Venice, Califórnia, onde mora sozinho após o divórcio, Johnson passou a se concentrar em um regime de vida que, segundo ele, faz com que seu corpo esteja em seu melhor estado de saúde.
A rotina de Johnson é cuidadosamente estruturada com base em dados, o que significa que ele segue um protocolo data-driven para cada aspecto de sua vida. Isso implica que todas as suas ações, desde a alimentação até os exercícios e tratamentos, são informadas e ajustadas conforme os dados coletados sobre seu corpo, saúde e biomarcadores. A ideia central do data-driven é a personalização extrema de seu estilo de vida, onde ele utiliza tecnologias e medições para ajustar continuamente seu comportamento para melhorar a longevidade e retardar o envelhecimento.
A dieta de Johnson é um dos pilares centrais do Projeto Blueprint. Cada refeição é minuciosamente planejada para maximizar a ingestão de nutrientes e otimizar a longevidade. Johnson adota uma alimentação baseada em plantas, com um consumo diário de 2.250 calorias, aproximadamente 10% abaixo de suas necessidades energéticas de manutenção. Johnson também segue um regime de jejum intermitente, onde faz todas as suas refeições antes das 11h da manhã e fica sem comer por entre 16 e 18 horas diárias.
Além da dieta, o exercício físico também desempenha um papel crucial na rotina de Johnson. Sua programação de atividades físicas inclui uma combinação de treinamento de alta intensidade e resistência, somada a mais de 25 diferentes tipos de exercícios ao longo da semana.
Outro aspecto do Projeto Blueprint é a utilização de terapias avançadas para acelerar os processos de regeneração celular e melhorar a saúde dos tecidos. Johnson segue uma rotina que inclui terapias de luz infravermelha e vermelha, usadas para promover a regeneração celular e melhorar a saúde da pele.
Ele também recorre à oxigenoterapia hiperbárica, um tratamento que envolve o uso de uma câmara de alta pressão para aumentar a quantidade de oxigênio no sangue, e inclui em sua rotina tratamentos de ondas de choque, que, segundo ele, têm como objetivo o rejuvenescimento de tecidos e o aumento do fluxo sanguíneo, melhorando a vitalidade e a recuperação dos tecidos danificados.
Mas Johnson não é um autodidata quando se trata de saúde. Ele mantém uma equipe de mais de 30 médicos e especialistas, que monitoram constantemente sua saúde e biomarcadores. A monitorização intensiva é uma das características mais exclusivas de seu projeto, com testes de mais de 70 biomarcadores realizados regularmente para ajustar sua dieta, suplementos e práticas de saúde.
Apesar da disciplina, Johnson admitiu à Wired que a busca pela perfeição pode ser excessiva. Segundo ele, a escolha de dedicar cada aspecto de sua vida ao controle e à otimização pode ser desafiadora. “Eu não quero ser viciado em nada. Quero ter o máximo de liberdade possível para existir. Não quero ser escravo de nenhuma substância ou hábito”, declarou Johnson.
Os perigos do 'biohacking'
Apesar de seu sucesso pessoal, o trabalho de Bryan Johnson levanta várias questões sobre o biohacking, o uso de tecnologias experimentais para alterar o corpo humano e a ética de algumas de suas práticas, já que a eficácia de muitos de seus tratamentos ainda está sendo discutida na comunidade científica.
Sua busca incessante por longevidade e juventude eterna coloca em foco as fronteiras do que pode ser considerado bioética e práticas médicas válidas. O uso de tecnologias e intervenções experimentais, como transfusões de plasma jovem, uso de substâncias não regulamentadas e tratamentos como a oxigenoterapia hiperbárica ou ondas de choque, levanta preocupações entre especialistas. A principal crítica é que muitas dessas técnicas ainda não possuem evidência científica robusta que comprove seus benefícios, e algumas delas nem sequer passaram por testes clínicos de largo alcance em humanos.
O biohacking é frequentemente abordado como uma prática perigosa que pode resultar em consequências imprevistas e danosas à saúde. Muitos críticos sugerem que, apesar de suas boas intenções de prolongar a vida humana, Johnson poderia estar ignorando o equilíbrio entre riscos e benefícios em busca de um ideal de longevidade, e que essa abordagem extrema pode ser arriscada para o corpo humano.
Johnson, por outro lado, defende seu projeto com um forte apelo à ciência e à personalização dos cuidados de saúde. Ele acredita que, ao contrário de terapias tradicionais, seu protocolo intensivo e baseado em dados é fundamentado em uma aplicação rigorosa da ciência e no monitoramento contínuo de biomarcadores, o que o torna, em sua visão, mais seguro e mais eficaz do que qualquer prática convencional. Johnson afirma que não está apenas experimentando consigo mesmo, mas mostrando ao mundo o potencial da medicina personalizada e da tecnologia de ponta para transformar a maneira como entendemos o envelhecimento. Para ele, o Projeto Blueprint não é somente uma busca pessoal, mas uma missão para apontar o futuro da saúde humana, onde os indivíduos podem ter controle total sobre sua biologia.
Em várias declarações públicas, Johnson expressou que "não é contra a medicina tradicional, mas contra o modelo de negócios que coloca o lucro acima do bem-estar do paciente", criticando a falta de personalização e atenção aos dados individuais nas abordagens médicas convencionais. Ele defende que, em um futuro próximo, tecnologias como a que ele usa possam ser acessíveis a todos, democratizando o controle da saúde e da longevidade. Para a ciência, no entanto, é melhor esperar. E envelhecer enquanto isso.