Supermercado Big (Divulgação/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 29 de dezembro de 2021 às 08h00.
O ano de 2021 foi agitado para as fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), com transações históricas em escala global. A atividade global de M&A quebrou recorde histórico no ano, superando com folga a marca anterior de quase 15 anos atrás.
O valor de fusões e aquisições globalmente ultrapassou em 2021 pela primeira vez os 5 trilhões de dólares. Uma análise feita pela Bloomberg mostrou que cerca de 60% das grandes aquisições deste ano foram as maiores que a parte compradora já havia anunciado.
No cenário internacional, só este mês, a Oracle acertou sua maior aquisição, pagando US$ 28,3 bilhões pela provedora de sistemas de registros médicos Cerner, enquanto o Bank of Montreal fez sua maior compra ao desembolsar US$ 16,3 bilhões pela divisão Bank of the West do BNP Paribas.
No Brasil, o ano também foi cheio. De acordo com relatório de novembro da Transactional Track Record, até a publicação do estudo o Brasil havia tido 1.102 fusões e aquisições no ano, que movimentaram 44,7 bilhões de dólares (parte das transações ainda não foi concluída). Os setores com maior número de transações foram tecnologia, finanças e seguros, varejo e logística, e saúde e cosméticos.
Veja a seguir algumas das maiores operações de fusão e aquisição fechadas no ano no país.
As operadoras de planos de saúde Hapvida e Notredame Intermédica anunciaram em março deste ano um acordo de fusão que cria uma das maiores operadoras de saúde verticalizadas do mundo. A empresa combinada terá cerca de 14 milhões de usuários de planos de saúde e dental e uma receita líquida de R$ 18,2 bilhões. A companhia combinada tem valor de R$ 83 bilhões, na atual cotação.
O negócio está em fase final de aprovação no Cade. Em setembro, a Superintendência da autarquia antitruste havia declarado que a transação era complexa e que seria necessário realizar novas diligências para aprofundar a análise da operação. No dia 15 de dezembro, a Superintendência aprovou a fusão sem restrições. A próxima etapa contempla a publicação do despacho e um período de 15 dias para eventuais manifestações do Tribunal do Cade. As operadoras atuam em praças distintas. A Hapvida é forte no Norte e Nordeste e Intermédica, no Sudeste. As operadoras têm sobreposição nos Estados de Minas Gerais e Santa Catarina, mas não nas mesmas cidades.
O varejista Grupo Carrefour Brasil divulgou em março um acordo para comprar o Grupo BIG Brasil, por 7,5 bilhões de reais. O grupo BIG, controlado pelo fundo de investimentos Advent International e pelo Walmart, é dono de marcas como BIG, Super Bompreço, Maxxi Atacado, Walmart e Sam's Club no Brasil e tem mais de 40 mil funcionários no Brasil.
O grupo também é dono do ativo imobiliário de 181 lojas (4% do total) e de mais 38 propriedades, que somam valor de 7 bilhões de reais. A estimativa é que a combinação crie um grupo com vendas brutas de cerca de 100 bilhões de reais.
A transação vai reforçar a presença do Carrefour Brasil em formatos ainda pouco explorados pelo grupo, em particular os supermercados e o modelo soft discount. Com a aquisição, a base de clientes do Carrefour no Brasil salta de 45 milhões para 60 milhões de clientes.
O negócio representa mais uma mudança na história do Walmart no Brasil marcada pela dificuldade de adaptação da maior varejista do mundo ao país. O Advent comprou 80% da operação brasileira do Walmart em 2018 sem pagar um real e com o compromisso de investir 2 bilhões de reais na empresa até 2021. Pouco tempo depois abriu mão da marca Walmart e adotou o nome BIG. O plano de ação do Advent para o Grupo BIG era de sete anos, mas a compra pelo Carrefour veio antes. O negócio ainda precisa ser aprovado pelo Cade.
O Grupo Soma, dono das marcas Farm, Animale, Cris Barros, NV, comprou a fabricante de roupas Cia. Hering em abril deste ano, com uma oferta de R$ 5,1 bilhões (parte em dinheiro e parte em ações). A empresa catarinense de 140 anos foi disputada também pela empresa de calçados Arezzo&Co, que havia oferecido R$ 3,4 bilhões pelo negócio. O negócio já foi aprovado pelo Cade.
Os planos do presidente do Soma, Roberto Jatahy, para a Hering envolvem mudanças importantes. Uma das metas é fazer com que a Hering torne-se uma marca de desejo, ainda que mantendo seu posicionamento do básico democrático. Deve haver ainda mudança na relação com os franqueados para um sistema de compartilhamento de receitas, mesma dinâmica que o Grupo Soma já adota hoje com seu canal multimarcas. O Soma também deve levar para a Hering a sua experiência em gestão e inteligência de dados para tornar a produção mais eficiente.
A compra da Hering se insere no movimento de consolidação no setor de vestuário, um dos mais impactados pela crise da covid, devido ao fechamento das lojas físicas e ao isolamento social da população. Nesse contexto, as empresas com melhor gestão se preservaram no primeiro momento e depois têm aproveitado concorrentes ou empresas complementares baratas para fazer aquisições.
A Vitru - controladora do grupo de educação catarinense Uniasselvi - assinou em agosto acordo para comprar 100% da paranaense Unicesumar (Centro de Ensino Superior de Maringá) por um valor superior a R$ 3 bilhões. O negócio avalia a Unicesumar em R$ 3,23 bilhões, incluindo dívidas de R$ 78 milhões. O ativo era altamente disputado no mercado, pois é forte em duas frentes cobiçadas: o ensino a distância e os cursos presenciais de Medicina.
A Unicesumar é uma instituição de ensino superior de rápido crescimento, com foco no mercado de educação a distância, fundada há 30 anos em Maringá (PR) e liderada pela família Matos. Ao fim de março, contabilizava 760 polos de atendimento e 331 mil alunos, incluindo 314 mil em educação digital.
Com a aquisição, a Vitru vai alcançar o total de 635 mil alunos e se posicionará na briga pelo primeiro lugar da educação superior no Brasil, junto com a Yduqs (que tinha 661 mil alunos em 2020) e a Cogna (768 mil). A conclusão do negócio ainda depende de aval do Cade.
O Magazine Luiza anunciou em julho deste ano a aquisição de 100% do Kabum, maior plataforma de e-commerce de tecnologia e games do país. O negócio foi fechado por R$ 1 bilhão em recursos financeiros, além de 75 milhões de ações ordinárias na data de fechamento da operação e de um bônus de subscrição de até 50 milhões de ações ordinárias exercíveis em 31 de janeiro de 2024.
A aquisição coroou um período de um ano e meio de aquisições feitas pela gigante do varejo. No período, o Magalu comprou mais de 20 empresas, sendo que a aquisição do Kabum foi a maior delas. O negócio foi aprovado pelo Cade em outubro.
Criado em 2003 em Limeira (interior de São Paulo), o Kabum tem um modelo de negócio que combina crescimento acelerado e alta rentabilidade. Dentre as outras aquisições feitas pelo Magazine Luiza este ano estão ainda a empresa de conteúdo focado em cultura pop Jovem Nerd, e a empresa de tecnologia VipCommerce, que oferece tecnologia para mais de 100 redes de supermercados.
A estratégia do Magazine Luiza é permitir que o consumidor encontre produtos para todas as suas ocasiões de consumo dentro do seu app. A meta é chegar a ser um Alibaba brasileiro.
A bolsa de valores brasileira B3 comprou a empresa de tecnologia Neoway em outubro deste ano, por 1,8 bilhão de reais. Uma das maiores empresas de análise de big data e inteligência artificial para negócios da América Latina, a Neoway oferece soluções para maior produtividade e precisão na tomada de decisões para diversos setores da economia, como financeiro, automotivo e transporte, bens de consumo, construção civil, óleo e gás, saúde e tecnologia.
Fundada em 2002, a Neoway lançou sua plataforma de big data em 2012 e é uma das líderes em dados, analytics e inteligência artificial no Brasil, com 450 funcionários e mais de 500 clientes corporativos. Sua receita projetada para 2022 é de 190 milhões de reais.
Segundo a B3, a Neoway irá contribuir para aumentar a capilaridade de produtos de dados existentes e o ritmo de lançamentos futuros. A B3 deverá manter a Neoway como uma unidade de gestão independente. O foco da atuação conjunta será alavancar os diferenciais das duas companhias. A transação já foi aprovada pelo Cade.
A desenvolvedora de softwares de gestão Totvs venceu suas concorrentes e anunciou em março a compra da empresa de programas de automação de marketing RD Station (antiga Resultados Digitais), de Florianópolis, em um negócio de mais de 1,8 bilhão de reais.
Fundada em 2011 por Eric Santos, Guilherme Lopes, Bruno Ghisi, André Siqueira e Pedro Bachiega, a RD Station é conhecida por seu software que ajuda pequenas e médias empresas a automatizar suas estratégias de marketing digital. Desde 2018, quando comprou a operação da startup mineira Plug, a RD oferece também a seus clientes uma ferramenta para gestão de relacionamento com o cliente (CRM, na sigla em inglês). A startup que já tem mais de 2 mil clientes.
Com a aquisição, a companhia de tecnologia passa a ter um braço importante de apoio para a criação de programas e de estratégias de marketing para seus negócios. O foco deverá ser em pequenas e médias empresas, público-alvo das operações da RD Station desde que a startup foi fundada, em 2011. Para a companhia, a aquisição significa a consolidação de sua divisão de Business Performance, essencial para seu plano de ser uma das maiores fornecedoras de tecnologias para outras empresas. A transação já recebeu aval do Cade.
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