Banco Cruzeiro do Sul: liquidado pelo Banco Central (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2012 às 11h59.
São Paulo - O Banco Central nesta sexta-feira a liquidação do banco Cruzeiro do Sul, depois que negociações para a venda da instituição, que estava sob intervenção desde o início de junho, fracassaram. A decisão pode marcar o maior colapso bancário do país em sete anos.
A decretação ocorreu mesmo com a aceitação de credores de um desconto de cerca de 50 por cento no valor dos títulos que possuem contra o banco. O BC também decidiu pela liquidação do banco Prosper, que teve proposta de mudança de controle para o Cruzeiro do Sul rejeitada pela autoridade monetária.
As negociações com as ações do Cruzeiro do Sul foram suspensas na Bovespa nesta sexta-feira. Na véspera, os papéis fecharam com alta de 24,5 por cento, acumulando valorização nas últimas três sessões de 55,6 por cento, em meio a expectativas de que o grupo encontraria comprador. Procurada, a BM&FBovespa não comentou o assunto.
A liquidação dos bancos acontece em um momento em que o governo está pressionando pela redução de custos de empréstimos. Alguns analistas dizem que bancos de médio porte são os mais prejudicados, já que a pressão pela queda dos juros pesa sobre suas receitas e encorajam práticas de empréstimo mais arriscadas.
O Cruzeiro do Sul atuava principalmente no crédito consignado e na oferta de empréstimos de curto prazo a empresas atrelados a recebíveis. A carteira total de financiamentos da instituição, controlada pela família Índio da Costa, era de 7,6 bilhões de reais no fim do primeiro trimestre.
O Prosper é o braço financeiro do Grupo Peixoto de Castro (GPC) e estava há 28 anos no mercado.
Em dezembro passado, o Cruzeiro do Sul havia anunciado à compra de 88,7 por cento do Prosper, mas o BC acabou rejeitando a mudança no controle.
Segundo a autoridade monetária, o Cruzeiro do Sul detém cerca de 0,25 por cento dos ativos do sistema bancário brasileiro e 0,35 por cento dos depósitos. Já o Prosper possui aproximadamente 0,01 por cento dos ativos e 0,01 por cento dos depósitos.
O BC informou que do total de depósitos à vista e a prazo do Cruzeiro do Sul e do Prosper, cerca de 35 e 60 por cento, respectivamente, têm garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Até a intervenção pelo FGC, o Cruzeiro do Sul tinha patrimônio negativo em 2,237 bilhões de reais.
Risco ao sistema?
Embora seja improvável que o colapso do Cruzeiro do Sul gere riscos sérios à estabilidade do sistema financeiro brasileiro, analistas acreditam que a liquidação prejudique a confiança do mercado sobre outros bancos.
"Mais uma vez, a imagem do setor de bancos médios e pequenos acaba sendo prejudicada. O mercado fica receoso com o setor e isso pode se refletir nas ações e também tornar mais difícil captações por esses bancos", disse Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Corretora, em São Paulo.
"Também gera um pouco de dúvidas sobre a credibilidade do Banco Central. Como é que um rombo desse tamanho passa despercebido pelos órgãos reguladores?", acrescentou.
Em outubro do ano passado, o BC decretou liquidação do Banco Morada, com base em relatório de interventor que apontou situação de insolvência do banco e violação de regras legais. Em 2005 foi a vez do Banco Santos.
Às 11h37, as ações de bancos pequenos e médios registravam comportamentos distintos e baixo volume. Banco Pine recuava 0,35 por cento, Bicbanco subia 2,1 por cento, ABC Brasil avançava 1,7 por cento, enquanto o índice de papéis de empresas do setor financeiro tinha valorização de 1,6 por cento. No mesmo horário, o Ibovespa exibia ganho de 0,6 por cento.
* Atualizado às 11h55