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Aumento de veículos elétricos traz vantagens e desafios

Indústria começa a adotar transporte limpo, mas infraestrutura precisa caminhar no mesmo ritmo

Em 2021, a Seara iniciou o transporte com um caminhão 100% elétrico e com emissão zero de gases poluentes (JBS/Divulgação)

Em 2021, a Seara iniciou o transporte com um caminhão 100% elétrico e com emissão zero de gases poluentes (JBS/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 4 de janeiro de 2022 às 10h48.

Na batalha para reduzir as emissões de carbono e combater o aquecimento global, o Brasil vem aumentando a produção de veículos elétricos e híbridos. Em 2021, foram cerca de 740 veículos elétricos produzidos no Brasil e pouco mais de 13.000 híbridos, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em 2020, esses números foram 319 e 7.249, respectivamente, e em 2019, 127 e 2.229.

Frente ao total de veículos produzidos no país, englobando aqueles abastecidos com combustíveis fósseis, a quantidade de modelos movido à energia limpa ainda é baixo – mesmo que a curva seja de crescimento.

Um estudo recente da Anfavea e o Boston Consulting Group (BCG), indica que, dependendo do cenário, veículos leves eletrificados podem responder por algo entre 12% e 22% do mix de vendas em 2030 no país, e de 32% a 62% em 2035. Hoje, os modelos eletrificados respondem por 2% do mix de vendas de veículos leves. Nesse cenário apontado pelo estudo, seriam 432.000 veículos leves por ano em 2030, subindo para 1,3 milhão por ano em 2035.

Já os veículos pesados com novas tecnologias serão de 10% a 26% em 2030 e de 14% a 32% em 2035, na mesma lógica de análise do estudo. Motores flex e a diesel ainda serão maioria na frota em 2035, o que aumenta a importância dos biocombustíveis para reduzir emissões de CO2, segundo a Anfavea.

Indústria começa a adotar modelos elétricos

Algumas empresas brasileiras, comprometidas com a redução de suas emissões, estão renovando suas frotas de veículos e adotando caminhões elétricos. É o caso da Seara, da JBS. Em 2021, a companhia iniciou o transporte com um caminhão 100% elétrico e com emissão zero de gases poluentes. O modelo, com tecnologia importada, é o primeiro a rodar na indústria de alimentos refrigerados do Brasil, segundo a empresa.

Para ter ideia do impacto, a cada veículo urbano de carga (VUC) utilizado atualmente movido a diesel retirado das ruas, 5 toneladas de monóxido de carbono deixam de ser emitidas mensalmente, o que equivale ao plantio de 35 árvores para neutralizar suas emissões. 

A JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder no setor de proteína, assumiu em março o compromisso de se tornar Net Zero até 2040.

“A inovação e a sustentabilidade são pilares fundamentais para a Seara e o projeto com caminhão 100% elétrico reforça esse posicionamento que também implementamos em nossa operação”, afirma Fabio Artifon, diretor de Logística da Seara.” Estamos sempre em busca de modais alternativos e limpos, e nosso objetivo é ampliar cada vez mais o alcance dessas soluções logísticas disruptivas, garantindo sempre qualidade e prazo das entregas para os nossos clientes.”

O novo caminhão da Seara começou operando em Santa Catarina, e a expectativa é ter 40% da frota padronizada em até cinco anos, dependendo da disponibilidade de equipamentos no mercado brasileiro para a produção do veículo.

O caminhão 100% elétrico tem autonomia para rodar até 150 quilômetros, e o tempo de recarga da bateria dura, em média, 4 horas. Uma vantagem adicional do modelo elétrico é que ele não emite ruídos e, com isso, pode fazer entregas noturnas em cidades com restrições de circulação nessa faixa de horário, como acontece no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e em outros centros urbanos.

Desafios para o crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil

Enfrentar as mudanças climáticas é um dos maiores desafios da sociedade atualmente e, na indústria automotiva, tecnologias de eletrificação e maior uso de combustíveis sustentáveis já se mostram um caminho sem volta. “As empresas precisam se preparar para o desafio e mirar as novas oportunidades, investindo em produção, infraestrutura, distribuição, novos modelos de mobilidade e serviços, além da capacitação de seus profissionais”, disse Masao Ukon, sócio sênior do BCG Brasil e líder do setor automotivo na América do Sul. 

O estudo do BCG e Anfavea traz alguns desafios para o crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil.

  • O volume de veículos elétricos que será demandado pelo país não poderá ser importado, o que geraria sérios prejuízos à balança comercial brasileira, além de ociosidade ainda maior da indústria local. Com mais de 40 fábricas espalhadas pelo país, sem contar as de fornecedores de autopeças, a indústria precisará entrar em um novo ciclo de investimentos para se manter competitiva, e ao mesmo tempo garantir 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos na cadeia automotiva – ou até ampliar esse contingente; 
  • Serão necessários altíssimos investimentos em toda a cadeia (pesquisa e desenvolvimento, adaptação de fábricas, desenvolvimento de fornecedores, preparação/treinamento da rede de concessionários etc.) para que o Brasil abasteça seu mercado local e se consolide como um polo exportador dessas tecnologias para os países vizinhos, e até de outros continentes; 
  • A exemplo do que ocorre em países europeus, asiáticos e americanos, o poder público brasileiro deve estabelecer políticas para acelerar os cenários de descarbonização. Mesmo sem oferecer bônus aos compradores, como ocorre sobretudo na Europa, é possível estimular o consumo de carros mais “limpos” com medidas como menor tributação, descontos ou isenções em recarga, pedágio, zona-azul, rodízio e financiamentos com métrica ESG (dados ambientais, sociais e de governança das empresas); 
  • Necessidade de instalação de pelo menos 150.000 carregadores para atender os veículos eletrificados, o que implica um investimento de aproximadamente 14 bilhões de reais; 
  • É imprescindível um pesado investimento em geração/distribuição de energia de fontes limpas para suprir a frota de elétricos, que criará uma demanda adicional de 7.252 Gwh (1,5% de tudo o que é gerado  atualmente).
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