Mina da Vale no Pará (Germano Lüders/Exame)
Denyse Godoy
Publicado em 15 de outubro de 2020 às 19h13.
Última atualização em 15 de outubro de 2020 às 21h21.
A Vale pode jogar mais um balde de água fria no rali de minério de ferro — que já está esfriando — se o gigante da mineração cumprir as expectativas de maior produção trimestral em um ano.
Na segunda-feira, 19, a empresa carioca reportará a produção no terceiro trimestre de 85,7 milhões de toneladas, segundo estimativa média de seis analistas consultados pela Bloomberg. Isso significaria um aumento acentuado em relação ao segundo trimestre, e vem antes de uma desaceleração sazonal na demanda chinesa. Os preços do ingrediente siderúrgico caíram cerca de 9% desde que atingiram máxima de seis anos em meados de setembro.
A Vale está enfrentando obstáculos legais, além da pandemia, em sua recuperação do desastre da barragem de rejeitos no início de 2019 que custou 270 vidas e seu título de maior produtora mundial. A aceleração da produção no segundo semestre permitirá que a empresa atinja a meta anual de 310 milhões de toneladas, disse o diretor financeiro Luciano Siani Pires no início deste mês.
"Acreditamos que a maior estabilidade de produção nos sistemas Sul e Sudeste, e o ganho de tração no sistema Norte, possam promover os números que a empresa precisa", disse Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Apesar de algumas interrupções devido à covid-19 e desafios com os procuradores brasileiros, a Vale está reconstruindo os níveis de produção perdidos após o rompimento da barragem de Brumadinho. Isso está ajudando no aumento das exportações do Brasil em um momento de embarques crescentes de minério de ferro australiano.
Embora os preços tenham caído no mês passado para cerca de 115 dólares a tonelada, eles ainda estão cerca de 25% acima de onde começaram o ano em meio à forte demanda chinesa. A empresa teve sua classificação de crédito de grau de investimento elevada pela Moody’s no início deste mês e restabeleceu o pagamento de dividendos.
"O aumento da oferta da Vale, que deve continuar no quarto trimestre, combinado com a produção de aço chinesa 'de lado' ou até levemente menor nos próximos meses, deve ajudar a pressionar preços para a casa dos 100 dólares/t, o que ainda é um nível acima do normal e altamente rentável para a Vale", disse o analista do Bradesco BBI Thiago Lofiego.
Nem toda a produção da Vale chegará ao mercado imediatamente, com a empresa esperando repor os estoques ao longo da cadeia de abastecimento, incluindo nos centros de distribuição na Ásia, disse Lofiego.