Em março, mais de 54.000 estabelecimentos virtuais fizeram transações com cartão de débito da bandeira Visa (Philippe Wojazer/Reuters)
Natália Flach
Publicado em 15 de julho de 2019 às 07h00.
Última atualização em 15 de julho de 2019 às 11h16.
São Paulo - O cliente costuma ouvir do atendente do supermercado e do caixa da padaria sempre a mesma pergunta "é no débito ou no crédito?", enquanto abre a carteira para pegar um de seus cartões ou enquanto desbloqueia o celular, no caso do pagamento por aproximação. No entanto, quando a compra é feita pela internet, a história é bem diferente. Ainda são poucas lojas virtuais que permitem comprar no débito. Não à toa, 86% dos usuários pagam suas compras online com cartão de crédito, de acordo com pesquisa mais recente realizada pela Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e pela Datafolha.
Mas por que essa discrepância entre o mundo físico e o virtual? A resposta tem a ver com segurança. É difícil comprovar que o cliente virtual é quem ele diz ser - e não uma fraude. Já no estabelecimento físico, o chip e a senha do cartão são importantes chancelas de autenticidade.
"O débito foi implementado no e-commerce cerca de nove anos atrás, mas não houve incentivo da indústria de meios de pagamentos nem dos estabelecimentos. O processo de autenticação era complexo e não se priorizou a experiência do consumidor. Com isso, o débito acabou não deslanchando", afirma Ana Melo, diretora de produtos da Visa.
Aos poucos, no entanto, o e-commerce brasileiro vai se tornando mais includente. Um levantamento feito pela Visa Consulting & Analytics aponta que de junho de 2018 a junho de 2019 houve um aumento de 70% no número de lojas on-line que realizaram transações de débito com a bandeira Visa. Para se ter ideia desse total, somente em março, mais de 54.000 estabelecimentos virtuais aceitaram cartão de débito da bandeira.
"O débito será uma alavanca para as compras on-line, pois muitas pessoas não possuem cartão de crédito ou têm limite muito baixo. Estamos falando de inclusão financeira e digital. Existe uma oportunidade enorme, um mar aberto a ser trabalhado", afirma Melo.
O aplicativo de mobilidade urbana Cabify sabe bem disso, por isso está fechando parcerias com bancos para oferecer essa facilidade para seus clientes. Atualmente, correntistas do Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, além da cooperativa de crédito Sicredi e dos bancos virtuais Original e Inter já podem pagar as corridas no débito.
"É uma quebra de paradigma", afirma Nicolas Scridelli, chefe de parcerias da startup Cabify no Brasil. "Fizemos o anúncio da aceitação do débito em junho e, desde então, temos recebido vários elogios na nossa central de atendimento de pessoas que sempre quiseram usar o aplicativo, mas não podiam por não terem cartão de crédito. Os benefícios também se estendem aos motoristas que têm um meio mais seguro para receber o dinheiro das corridas", acrescenta.
Da mesma forma, a plataforma de varejo on-line Dafiti espera aumentar as vendas com a implementação da modalidade de pagamento. Segundo Rafael Carneiro, gerente de sênior de tesouraria e gestão antifraude da companhia, muitas pessoas emitem boletos, mas acabam se esquecendo de pagar. "Existe baixa conversão com boleto. Esperamos mudar isso com o débito, que é mais ágil e sem fricção", diz.