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Auditoria encontra contabilização errada no Deutsche Bank

O Deutsche Bank foi indiciado por conspirar com o Banca Monte dei Paschi di Siena para esconder as perdas do banco italiano


	Deutsche Bank: o relatório também aponta que executivos de nível sênior não deram autorização adequada para a operação com o Monte Paschi
 (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Deutsche Bank: o relatório também aponta que executivos de nível sênior não deram autorização adequada para a operação com o Monte Paschi (Kai Pfaffenbach/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2016 às 19h20.

Roma/Milão/Londres - O Deutsche Bank, indiciado por conspirar com o Banca Monte dei Paschi di Siena para esconder as perdas do banco italiano, fez registro contábil incorreto dessa operação e dezenas de outras, de acordo com uma auditoria encomendada pela autoridade reguladora da Alemanha.

Executivos do Deutsche Bank arranjaram 103 operações similares com valor total de 10,5 bilhões de euros (US$ 11,8 bilhões) para 30 clientes, de acordo com a auditoria, que chegou ao conhecimento da Bloomberg.

O maior banco alemão, sediado em Frankfurt, fez ajuste da contabilidade de 37 dessas operações em 2013 — além da do Monte Paschi —, alterando-as de empréstimos que haviam ficado fora da contabilidade para derivativos, segundo a auditoria.

O uso disseminado de uma transação que agora é alvo de investigação criminal reflete o apetite do banco por complexidade no período em que estava expandindo seu império de renda fixa.

De lá para cá, o Deutsche Bank reduziu os ativos arriscados e eliminou milhares de empregos para fortalecer sua situação de capital. No entanto, o acúmulo de custos jurídicos preocupa cada vez mais os investidores e as ações caíram para o menor preço já registrado.

“Operações muito complexas impedem que o mercado e as autoridades reguladoras compreendam adequadamente o estado do balanço patrimonial de um banco, inibindo monitoramento regulatório adequado e distorcendo a disciplina do mercado”, afirmou Emilios Avgouleas, professor de Direito na Universidade de Edimburgo.

Segundo a auditoria, embora o Monte Paschi tenha sido o único cliente que usou a transação para melhorar a aparência da contabilidade, o Deutsche Bank não contabilizou corretamente operações similares realizadas entre 2008 e 2010 com bancos que vão da Itália à Indonésia.

O relatório também aponta que executivos de nível sênior não deram autorização adequada para a operação com o Monte Paschi (batizada Santorini) nem revisaram adequadamente a transação após terem sido questionados pelo banco central dos EUA (Federal Reserve) em 2012.

O Monte Paschi reapresentou as contas em 2013, após as transações virem à tona, e fez emendas adicionais aos resultados em 2015, a pedido da autoridade reguladora italiana.

A nova contabilização pelo Deutsche Bank de seu lado nas operações não afetou sua lucratividade. O banco não ajustou o balanço antes de 2013 porque o efeito geral não foi relevante, segundo a auditoria.

O Deutsche Bank tinha cerca de 1,8 trilhão de euros em ativos no final de setembro de 2013.

“O Deutsche Bank reclassificou a contabilidade de diversas transações chamadas recompra aprimorada em setembro de 2013, o que não teve impacto sobre o lucro apresentado pelo Deutsche Bank”, afirmou por email Adrian Cox, um porta-voz da instituição no escritório de Londres.

“O fato de essas transações serem recompra aprimorada não justifica inferir uma conexão entre elas e o caso específico do Monte Paschi.”

Faissola e Dunbar

O Deutsche Bank e seis gestores que ainda trabalham ou já deixaram o banco — incluindo Michele Faissola, responsável por juros globais na ocasião, e Ivor Dunbar, que era corresponsável por mercados de capitais globais — foram indiciados por um tribunal de Milão, em 1º de outubro, por causa da transação envolvendo o Monte Paschi em 2008.

Os dois eram subordinados importantes do ex-co-presidente do Deutsche Bank, Anshu Jain. Os três saíram do banco. Faissola preferiu não comentar e Dunbar não retornou um recado por telefone.

O Departamento de Justiça dos EUA pediu ao banco US$ 14 bilhões para encerrar uma investigação sobre a venda de instrumentos lastreados em hipotecas residenciais, mas a instituição recusou.

Isso levou investidores e clientes a questionar se o Deutsche Bank é capaz de suportar os custos jurídicos que estão por vir.

O presidente John Cryan enviou um memorando aos funcionários, na semana passada, afirmando que o banco está mais seguro do que em qualquer momento das últimas duas décadas.

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