Rogerio Barenco, da Mizuno: nós percebemos que há uma demanda reprimida e estamos correndo para aumentar a capacidade em 50% (Mizuno/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 26 de agosto de 2023 às 08h01.
Última atualização em 28 de agosto de 2023 às 10h21.
Quando o colombiano James Rodríguez foi anunciado no São Paulo, Rogerio Barenco, diretor-geral da Mizuno no país, começou a receber mensagens. O atleta estava usando a chuteira Morelia, um produto que simboliza a história da marca japonesa de materiais esportivos no universo do futebol.
Contam os executivos da empresa em conversas de vendas e entrevistas que a chuteira é a preferida dos atletas quando não tem patrocinadores. Vez por outra, boleiros como Rodríguez aparecem vestindo o calçado e reforçam a história.
O momento de exposição midiática não poderia ser mais propício para a marca. Com o bom momento da Mizuno no país, acumulando recordes em faturamento com os números impulsionados pela venda de tênis de corrida, a empresa está reestruturando a produção local da Morelia. O movimento é um primeiro passo para posicionar o futebol em um novo patamar dentro da estratégia da companhia e da Vulcabras, a nova casa da operação brasileira da marca desde 2020.
Desde que a Mizuno saiu do portfólio da Alpargatas e entrou para a Vulcabras, a produção local da Morelia foi para o banco de reservas. O item mexia pouco nos números do negócio, e a opção foi por comercializar as apenas chuteiras importadas, fabricadas no Japão e com perfil mais premium.
Para o relançamento, a Vulcabras investiu na construção de um galpão exclusivo na sua fábrica na cidade de Itapetinga, no centro-sul baiano, para a produção local dos produtos. Comprou novos equipamentos, renovou antigos e preparou tudo para agradar aos rigorosos padrões japoneses. A empresa não abriu os valores investidos.
Na escalação, duas linhas de chuteiras:
“Nós estamos usando a potência da Vulcabras para viabilizar uma faixa de preço mais baixa e disponibilizar esses produtos para o mercado”, afirma Barenco. O executivo está na Mizuno desde 2011 e, desde a transição da marca para a Vulcabras, lidera a operação no Brasil.
Segundo ele, o projeto vem sendo trabalhado há quase um ano como um caminho para abrir novas vias de crescimento para a marca e falar com outros perfis de consumidores. No lançamento ao mercado, uma surpresa: as vendas superaram as expectativas. “Nós percebemos que há uma demanda reprimida e estamos correndo para aumentar a capacidade em 50%”, diz.
O cenário, diferente do que experimentaram lá atrás, animou, mas a empresa sabe que a Morelia e a Mizuno têm uma longa preparação a fazer antes de ganhar ritmo e capilaridade no futebol brasileiro. Marcas como Nike, Adidas, Puma e até a americana New Balance estão melhor posicionadas no esporte.
Para conquistar mercado e escala no esporte, a proposta da marca é mesclar estratégias. Uma parte vem do que a Mizuno tem feito internacionalmente, atuando ativamente no futebol japonês, entrando na Europa como patrocinadora do Lazio, da Itália, e de atletas, a exemplo do zagueiro espanhol Sergio Ramos. E por aqui, o Rodríguez assina com a Mizuno? O executivo dá um sorriso e diz: “estamos conversando”.
De acordo com o último balanço global da companhia, com ano fiscal encerrado em 31 de março, a unidade de futebol cresceu 54,2% entre 2021 e 2022. Do faturamento de 1,6 bilhão de dólares, a divisão respondeu US$ 80,3 milhões e ficou em quarto. As primeiras colocações são ocupadas por baseball, golf e corrida. “Globalmente, cresce a importância do futebol”, diz Barenco.
Além desse conhecimento, a marca deve usar os aprendizados obtidos no mundo da corrida, o seu principal mercado no Brasil. A Mizuno investe bastante em influenciadores e criadores de conteúdo que orbitam a comunidade no esporte e deve repetir a aposta agora.
“No médio e longo prazo, cada vez mais o futebol vai ganhar relevância no nosso negócio. Hoje, ele representa menos de 5%, mas vamos crescer mais rápido”, diz Barenco, flamenguista e "jogador de futebol de Copa", aquele tipo que só aparece de quatro em quatro anos no campo.
Apesar de pouco representativo, o esporte é o segundo mais importante para a marca, atrás das corridas. Para além da chuteira, a Mizuno está estudando como será feita a ampliação do portfólio para outros itens que compõem a persona dos boleiros.