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Até o Corinthians entrou na corrida das maquininhas

Time de futebol entrou no bolo de disputa com os bancos pelo serviço de pagamentos através o lançamento da "Fielzinha"

Máquina de pagamentos do Corinthians foi batizada de "Fielzinha"

Máquina de pagamentos do Corinthians foi batizada de "Fielzinha"

EH

EXAME Hoje

Publicado em 5 de setembro de 2017 às 12h33.

Última atualização em 6 de setembro de 2017 às 18h48.

Os brasileiros gastam pouco mais de 1 trilhão de reais em transações de cartão de crédito e débito por ano. Todo esse “dinheiro de plástico” é processado pelas “maquininhas” de cartão, um nos negócios mais rentáveis no país – e agora também um dos mais disputados.

Os grandes bancos partilhavam praticamente sozinhos esse bolo, que cresceu mais de 300% nos últimos dez anos, e rendia até pouco tempo mais de 50% para algumas operadoras.

Era um negócio de marcas como Cielo (do Bradesco e Banco do Brasil) e Rede (do Itaú). Agora, elas disputam espaço com concorrentes como Santander, Stone (Arpex Capital e do Banco Pan), Bin (da First Data), Vero (do Banrisul) e PagSeguro (do UOL).

Em agosto, até time de futebol entrou no bolo, com o lançamento da maquininha do Corinthians. O time de futebol paulista se juntou a uma empresa de meios de pagamentos para oferecer aos empresários e empreendedores de sua torcida (a segunda maior do país, com 27 milhões de torcedores) uma solução própria: a máquina batizada de Fielzinha.

A entrada do Timão no mercado de credenciamento de cartões é a mais inusitada, mas nem de longe a mais relevante.

O banco Safra, de uma das famílias mais ricas do país, lançou neste ano o seu serviço com a ambição de competir de igual para igual com a Cielo e a Rede, que capturam mais de 80% do volume financeiro de transações de cartões no país.

“Vamos brigar pela liderança”, diz Gustavo Gomes, responsável pela área comercial da SafraPay, a máquina de processamento de cartões do Safra.

Três razões explicam o atual “boom” de novos entrantes no setor: as altas margens de rentabilidade, o potencial ainda grande de crescimento e a recente regulamentação do setor pelo Banco Central, que acabou com as exclusividades que mantinham esse mercado praticamente inacessível a novos competidores.

“Este é um negócio que movimenta muito dinheiro e com uma margem alta”, observa Vitor França, da consultoria de varejo financeiro Boanerges & Cia. A margem da Cielo, líder do mercado, mesmo em queda, ainda gira em torno de 35%.

O aumento da competição vem reduzindo as margens de lucro do mercado, mas o movimento não é apenas de rouba monte. Ainda há setores da economia que ainda não usam cartão como meio de pagamento, caso de médicos e escolas.

Esse movimento faz parte da tendência de migração dos meios de pagamentos do mundo físico (dinheiro) para o mundo eletrônico (cartão).

O número de saques em terminais eletrônicos registrou, no ano passado, a primeira queda anual da série histórica do Banco Central, iniciada em 2008: de 3,6 bilhões em 2015 para 3,4 bilhões em 2016.

Concorrência

Quem de fato abriu a porteira desse setor foi a regulação do mercado. Em 2010, após negociações com o governo, Cielo e Redecard (atual Rede) aceitaram quebrar os acordos de exclusividade que mantinham com as bandeiras Visa e MasterCard, respectivamente.

Esse arranjo obrigava os estabelecimentos que quisessem aceitar os cartões das duas bandeiras a ter as maquininhas das duas credenciadoras.

Ele também impedia a competição no mercado de credenciamento, já que as bandeiras internacionais dominavam os cartões emitidos no país. Foi neste ano que o Santander estreou sua maquininha em parceria com a GetNet, empresa que comprou em 2013.

Esperava-se que assim que essas amarras fossem desfeitas o mercado fosse invadido por novos competidores, principalmente internacionais. Mas logo novos acordos de exclusividade foram costurados pelos bancos e atrasaram esse processo.

Bradesco e Banco do Brasil, que controlam a Cielo, se juntaram à Caixa Econômica Federal para lançar uma bandeira de cartões nacional, que nasceu com exclusividade com a Cielo. Como resposta, o Itaú fez o mesmo com a sua bandeira Hipercard.

O Banco Central, porém, estabeleceu no fim do ano passado que as bandeiras devem atuar de forma neutra, não podendo oferecer vantagens a credenciadoras do mesmo grupo econômico em detrimento dos concorrentes.

O aumento da concorrência já trouxe reflexo para os custos dos varejistas. Após terem ficado praticamente estáveis desde 2011, as taxas cobradas dos lojistas nas vendas com cartão voltaram a cair no ano passado.

Para transações de cartão de crédito, a taxa caiu 0,12 ponto percentual, para 2,65%, e do cartão de débito recuou 0,02 ponto, para 1,52%.

A principal estratégia do Safra é ser competitivo em taxas e serviços prestados ao lojista. O banco, porém, não divulgou qual a média de taxas que está praticando.

O custo também é o chamariz da Fielzinha, do Corinthians. O valor das taxas variam de acordo com o ramo de atividade do estabelecimento, mas parte da taxa de 2,25% para crédito e 1,45% para débito.

O clube receberá um percentual sobre todas as vendas efetuadas pela Fielzinha e espera que o serviço renda 50 milhões de reais aos seus cofres nos cinco primeiros anos.

Outro custo para o lojista que também pode ser reduzido é o do aluguel das máquinas, que vem caindo com o fim da exclusividade.

A PagSeguro acelerou a tendência com o conceito de vender a maquininha, ao invés do modelo tradicional de aluguel, usando o apelo de redução de custos e facilidades em sua agressiva campanha publicitária.

O número de maquininhas no país caiu pela primeira vez desde 2008, de 4,565 milhões para 4,424 milhões. Uma pesquisa do banco UBS constata esse movimento.

O banco entrevistou no início deste ano cerca de 500 pequenos comerciantes de todos os segmentos de varejo, em todas as regiões do país.

A pesquisa mostrou que 64% dos comerciantes usam apenas as máquinas de uma credenciadora, ante 53% em 2015.

Sob pressão

O analista do UBS, Frederic De Mariz, escreveu em relatório recente que novos competidores têm ganhado tração, entre eles credenciadores menores, e-commerce e outros modelos de negócios em expansão. Desde março ele recomenda a venda das ações da Cielo devido ao cenário de maior competição, mas não concorda com a tese de que o negócio da companhia possa ser desintermediado.

Os analistas do banco Brasil Plural avaliaram que os últimos resultados da Cielo trouxeram mais dúvidas do que certezas, uma vez que a empresa continua a navegar em um ambiente difícil, em que os rivais estão intensificando os esforços para roubar suas margens, os reguladores continuam a forçar medidas não rentáveis e a desaceleração macroeconômica impacta as vendas no varejo. Os analistas observam, no entanto, que apesar de a concorrência ter aumentado de duas para cerca de dez credenciadoras de 2010 para cá, a Cielo conseguiu manter sua participação de mercado.

“Mesmo após a quebra de exclusividade, precisa ter um modelo de negócio com uma proposta diferente para tomar mercado”, afirma Francisco Aranda, sócio de consultoria para o mercado financeiro da EY. Para os varejistas, quanto mais competição, melhor.

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