Denúncias: 9,7% dos registros estão relacionados a fraudes (Dreamstime.com)
Luísa Melo
Publicado em 11 de novembro de 2014 às 16h26.
São Paulo - Práticas abusivas como assédio moral, sexual, agressão física e discriminação, representam a maior parte (25,9%) das irregularidades reportadas em canais de denúncia das empresas no Brasil. Dentro dessa fatia, o assédio moral é o problema mais recorrente e equivale a 82% dos registros.
Os dados são de um levantamento feito com 88 companhias pela ICTS, consultoria que gere esses sistemas, entre maio de 2009 e julho deste ano. O universo total é de 60 mil delações, mas só entram na conta aquelas qualificadas para apuração, ou seja, que têm fundamento (62,8%).
Em segundo lugar na lista fica o descumprimento de práticas e políticas internas (21,3% dos registros) e, em terceiro, os desvios de comportamento (18,6%).
As fraudes (sejam externas ou internas, financeiras ou operacionais) correspondem a 9,7% das denúncias. Para Fernando Fleider, sócio-diretor da ICTS, o índice está de acordo com o encontrado fora do país e nem sempre indica graves problemas. "São classificadas como fraude desde o recibo de táxi incorreto até o uso do cartão de crédito corporativo para acumular milhas", afirma.
"Mas, somados, os percentuais de fraudes, favorecimentos, conflitos de interesse e furtos são representativos", completa. Confira na tabela:
Tipo de denúncia | Fatia |
---|---|
Práticas abusivas (assédio moral, sexual, agressão física e discriminação) | 25,90% |
Descumprimento a procedimentos e políticas internas | 21,30% |
Desvio de comportamento | 18,60% |
Fraude | 9,7% |
Favorecimento ou conflito de interesses | 8,20% |
Violação a leis (trabalhistas, ambientais etc) | 7,90% |
Roubo, furto ou desvio de materiais | 2,80% |
Vazamento ou uso indevido de informações | 1,90% |
Pagamento ou recebimento impróprio (suborno, propina, corrupção) | 1,50% |
Relacionamento íntimo | 0,90% |
Destruição, danos ou uso indevido dos ativos da empresa | 0,80% |
Uso ou tráfico de substâncias proibidas no trabalho | 0,40% |
Greve, paralisação ou manifestação | 0,10% |
Meios
De acordo com o material, em média, são feitas 3,5 denúncias para cada grupo de 1.000 colaboradores, mensalmente. A maioria delas (59,3%) é reportada em websites e 40,7% por voz. O restante (0,7%) é registrado em outros canais.
Os canais de voz são os mais produtivos, segundo Fleider. "[Por esses meios] é possível dar um feedback se estiver faltando informações na denúncia, por exemplo. Os operadores são treinados para isso".
A maior parte das delações ocorrem de forma anônima, mas a qualidade das identificadas é melhor, segundo Fleider.
"O relato identificado tem mais chance de proceder. Quando alguém mostra a cara, dificilmente dirá algo só por denuncismo. Muitas pessoas preferem ficar anônimas por medo, mas também pode haver má fé", explica.
Em geral, os funcionários das empresas são os maiores responsáveis pelas queixas registradas nos canais (93,5%). Os clientes representam uma pequena parcela (3,76%) de denunciantes, os prestadores de serviço e fornecedores são 2,71% e os investidores, 0,3%.
Os denunciados são majoritariamente líderes e gestores (49%). "O canal de denúncias é naturalmente um instrumento voltado para o andar de baixo. Quem está no topo tem muitas ferramentas para disciplinar um liderado que fez algo errado, o contrário é mais difícil. É aí que ele faz a diferença", diz Fleider. Veja os dados completos:
Denunciado | Fatia |
---|---|
Líder/gestor | 49% |
Liderado | 2,90% |
Colega de trabalho da mesma área | 10,40% |
Colega de trabalho de área distinta | 10,60% |
Outros | 27,10% |
Triagem das denúncias
De todas as delações feitas aos canais de denúncia geridos pela ICTS, 62,8% são realmente qualificados para a apuração. Dos relatos que são excluídos, 18% estão fora do escopo do sistema e 19,1% não têm dados suficientes para análise.
"Às vezes a pessoa tem um entendimento errado do que está denunciando. Já recebemos, por exemplo, reclamação de assédio moral porque o gestor estava cobrando metas", diz o diretor.
Entre as denúncias que são investigadas, 40,4% procedem, 12,4% são descartadas e 9,9% inconclusivas (não são provadas, mas há indícios de veracidade).
Os sistemas de compliance e mecanismos internos de denúncia tem ganhado maior atenção das empresas depois que a Lei Anticorrupção entrou em vigor, em janeiro. A nova legislação prevê penas severas para companhias que se envolverem em ações ilícitas.