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Assad, da Embrapa: o futuro são sistemas integrados

Camila Almeida Com a urgência de reduzir as emissões de carbono para cumprir as metas do Acordo de Paris, um método produtivo ganha destaque no agronegócio: os sistemas integrados de produção. Agricultura, pecuária e área de floresta, tudo no mesmo lote, deixando a produção no campo mais eficiente, sustentável e competitiva. Desde 2001, o Brasil tem […]

EDUARDO ASSAD: Sistemas integrados no campo são o futuro para a sustentabilidade das produções agropecuárias / Germano Lüders/ Exame

EDUARDO ASSAD: Sistemas integrados no campo são o futuro para a sustentabilidade das produções agropecuárias / Germano Lüders/ Exame

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Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2016 às 14h14.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h12.

Camila Almeida

Com a urgência de reduzir as emissões de carbono para cumprir as metas do Acordo de Paris, um método produtivo ganha destaque no agronegócio: os sistemas integrados de produção. Agricultura, pecuária e área de floresta, tudo no mesmo lote, deixando a produção no campo mais eficiente, sustentável e competitiva. Desde 2001, o Brasil tem legislação para garantir COMO ASSIM GARANTIR? NAO SERIA INCENTIVAR, OU ALGO ASSIM? esse tipo de atividade, mas apenas em 2012 ela foi inserida num programa de agropecuária sustentável e só em 2015 foi encarada como uma possibilidade para produtores de qualquer porte.

Para o engenheiro agrícola Eduardo Assad, pesquisador SÓ PESQUISADOR? da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é hora de valorizar a agricultura familiar e dar apoio à classe média rural inserindo esses produtores em sistemas mais lucrativos. Em entrevista para EXAME Hoje durante o EXAME Fórum Sustentabilidade, Assad falou sobre a dificuldade de transferir o conhecimento dos institutos de pesquisa para o campo e sobre a necessidade de melhorar as condições de financiamento e informação para os pequenos produtores.

O senhor fala que os sistemas integrados são futuro PARA QUEM?? por serem a maior possibilidade de fazer uma redução de emissões considerável. Esse sistema é viável para o pequeno produtor?
Sim, o que aconteceu no Brasil foi um negócio meio estranho mesmo. No início, todo mundo achava que isso era para o grande agricultor. Só em 2015 que o Ministério do Desenvolvimento Agrário fez o primeiro encontro para discutir Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC) e pequena agricultura. Aí a gente foi lá e mostrou os sistemas integrados: “é assim que funciona, o negócio é bom, dá dinheiro, faz direito, protege, é sustentável…”. Então, ali, a gente plantou uma sementinha com o ministério. Quando você olha para a região Sul, a maioria dos que adotam esse sistema são pequenos agricultores, em 20, 30, 50 hectares. Existe uma diferença muito grande entre o que há no sul, no cerrado e na Amazônia, pela dificuldade em espalhar a tecnologia.

 

O pequeno produtor reclama que não consegue ter acesso a financiamentos, por questões burocráticas. O que é preciso fazer para que esse produtor de fato enxergue esses sistemas integrados como uma possibilidade?

Um erro que o Código Florestal cometeu foi deixar de fora da obrigatoriedade do Cadastro Ambiental Rural aquele agricultor com menos de quatro módulos fiscais [área mínima necessária a uma propriedade rural para que sua exploração seja economicamente viável]. Porque, no momento em que ele não faz o cadastro dele, ele continua tendo as barreiras ambientais. Com o cadastro, ele começa a ter acesso a essas coisas. Nós temos dois problemas para o pequeno produtor: essas barreiras e a titulação. A titulação de terra é um problema seriíssimo, principalmente nos assentamentos. Se não tiver a titulação, o banco não financia. E você vê a diferença: se não me falha a memória, o governo colocou 180 bilhões de reais para o agronegócio para 2015 e 2016 e 27 bilhões para o pequeno agricultor. Eu acho que tinha que ser o inverso. Nós temos 4,5 milhões de pequenos agricultores no Brasil.

O fato de a agricultura familiar e o agronegócio serem de responsabilidade de ministérios diferentes dificulta o direcionamento dessas políticas?

É complicado. Hoje, no Brasil, são pelo menos cinco ministérios olhando para o pequeno agricultor: ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, Casa Civil, Integração Nacional, Meio Ambiente, Agricultura… É difícil isso em termos de governança e de planos que sejam robustos. Esse é um dos grandes problemas da pequena agricultura.

E o grande agricultor, que já tem o seu mercado consolidado e sua tecnologia estabelecida; como fazer com que ele se abra para a possibilidade dos sistemas integrados?

São dois problemas aí: temos 500.000 agricultores que não precisam de ninguém, são muito ricos e eles mesmos tocam os negócios deles, e temos 1 milhão de agricultores que compõem a classe média rural. Essa classe média não está tão bem assistida quanto deveria estar. Porque nós acabamos com o sistema de extensão rural no Brasil. O governo Collor, nos anos 1990, acabou com o Sibrater [Sistema Brasileiro Descentralizado de Assistência Técnica e Extensão Rural], que era a Embrapa da extensão rural. Foi uma confusão. Hoje, quem tem feito um trabalho muito legal na transferência de tecnologia é o Senar [Sistema Nacional de Aprendizagem Rural], que já está atingindo bastante gente. Mas, de modo geral, esse grupo de 1 milhão de agricultores – não é pouca gente não – não recebe a informação tecnológica no nível e na quantidade que eles precisam. Quem está transferindo tecnologia, hoje, é o vendedor de insumo. O vendedor de adubo, o vendedor de defensivo agrícola, o que nos torna grandes consumidores desses produtos, muitas vezes sem levar em consideração todo esse estoque tecnológico que nós temos aí.

Então, o sistema integrado não é para o grande produtor que já está consolidado?

Ele pode usar. Se fosse eu, usava. Eu ia ter boi, soja, milho, madeira… MAS PODE USAR POR QUE???

O senhor afirma que a pecuária é o setor em que é possível avançar mais em termos de sustentabilidade. Como fazer com que esse setor se desenvolva positivamente se esse pequeno produtor não tem acesso a recursos?

Foi uma grata surpresa, viu? Quando a gente começou a falar em sistemas integrados, não sabíamos que o setor que melhor reagiria seria a pecuária. Reagiu bem e rápido. São duas coisas importantes no Brasil: temos aquele sujeito que trabalha com genética animal – e nós estamos com genética de primeiríssima linha – e temos os sistemas de exploração ainda extrativistas. Um movimento que está acontecendo aos poucos. Antes, você chegava para o produtor e perguntava: “você planta o quê?”. Ele dizia: “eu não planto nada, eu crio gado”. Mas não é isso. Ele planta pasto. Pasto é uma planta, precisa ser bem tratada, precisa adubar, fazer manejo… As coisas estão avançando nesse sentido. Em 2014, tínhamos 60 milhões de hectares de pasto degradado e, hoje, estamos com 48. São mudanças importantes principalmente no cerrado e no Sudeste.

A gente está em que nível de exportação de conhecimento para a agricultura e quando vamos conseguir chegar a um nível semelhante em relação à pecuária?

Já chegamos chegou. O Brasil tem hoje um estoque de conhecimento tecnológico de pecuária e agricultura tropical que é o maior do mundo. A Embrapa tem, no seu sistema de informações científicas, 1 milhão de artigos sobre agricultura tropical. Ninguém tem isso, e nós fizemos um brutal esforço para chegar aqui. Onde está pegando? A gente não consegue transferir esse conhecimento. Tem uma lacuna que nós temos que fechar. Se a gente não conseguir transferir isso para o campo, não adianta nada. Só que nós passamos metade do nosso tempo fazendo pesquisa e a outra metade convencendo os órgãos públicos de que a pesquisa é importante.

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