Ao contrário do que acontecia no passado, empresas consideram muito mais o peso dos custos antes de enviar executivos em viagens de negócios (Stock Exchange)
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2012 às 08h00.
São Paulo - Viajar para conhecer pessoas e fechar negócios sempre foi considerada uma atividade natural - quando não desejável e incentivada - dentro das companhias. Mas se o advento da tecnologia tornou o envio de faxes e cartas uma prática para lá de obsoleta, a espera nas salas de embarque também não estaria fadada a um fim, trocada pela comodidade das videoconferências?
Para Greeley Koch, diretor da consultoria em gestão Acquis Consulting, e Stewart Harvey, vice-presidente da empresa de viagens executivas HRG, a resposta é relativa. De passagem pelo Brasil para discutir a evolução das viagens corporativas, ambos concordaram que as próprias empresas já encaram as viagens de negócio de uma forma mais racional. Em outras palavras, as companhias têm que enxergar um propósito no encontro para bancá-lo. Em entrevista à EXAME.com, no entanto, eles falaram por que, no mundo dos negócios, travar um contato pessoal não deixa de ser importante para os executivos e suas companhias. Confira os principais trechos da conversa:
EXAME.com - O que mudou, efetivamente, para o executivo que viaja a trabalho?
Stewart Harvey - Há alguns anos, um passageiro executivo era alguém que a companhia patrocinava. Essa pessoa desfrutava de serviços de alta qualidade, voando em primeira classe. Hoje, as empresas pensam em como vão gastar seu dinheiro; elas querem negociar as tarifas mais baratas. Essa é uma grande diferença: o controle de gastos mudou. E as companhias estão tomando decisões mais responsáveis nesse sentido.
Greeley Koch - A tecnologia não era como a de hoje. Hoje as empresas querem que seus executivos sejam tão produtivos quanto possível nas viagens. Para isso, querem que eles estejam devidamente equipados, com acesso a gadgets que garantam conectividade todo o tempo. As empresas também querem que os profissionais se sintam bem com essa proposta, porque francamente as pessoas não gostam de viajar. Elas preferem ficar em casa com a família e os amigos. As medidas de segurança instituídas nos aeroportos também vem tornando o processo mais difícil, mais burocrático. Então viajar hoje não é tão divertido como antigamente.
EXAME.com - Entre oferecer uma experiência agradável e cortar custos, há um modelo que funcione melhor?
Koch - É difícil fazer uma generalização. No fim das contas, isso esbarra na situação individual de cada empresa. Em algumas companhias, há uma preocupação muito forte com os gastos: são 15 voos anuais à Ásia e só. Outras já são preocupadas com o conforto dos funcionários, prezando que voem de classe executiva, por exemplo. Achar o equilíbrio e o que funciona melhor para cada uma é o desafio.
Harvey - Acho que as empresas vão querer se antecipar ainda mais. Ao invés de olhar pra trás e analisar quanto elas desembolsavam, vão olhar pra frente e se questionar quanto devem gastar em uma viagem de negócios. As despesas do executivo também passarão a ser reportadas com mais profundidade, do hotel ao restaurante, o que ele bebeu e comeu. Além disso, a percepção dos viajantes sobre os destinos também irá mudar. Afinal, eles estarão indo para mais partes do mundo cujo apelo praticamente não existia no passado.
EXAME.com - Com a difusão da tecnologia, ainda faz sentido mandar executivos para fora?
Harvey - Imagine uma grande organização com mais de 50.000 empregados. Como você decide quem deve viajar? E o que é importante obter com essas experiências, considerado o investimento? Acho que as companhias devem tornar a tecnologia cada vez mais acessível, para que os funcionários possam ter acesso ao maior número de informações primeiro. Com isso, a perguntaserá: é realmente preciso viajar já tendo acesso a esse nível de dados? Às vezes, a companhia tem estrutura para promover videoconferências. E isso já resolve o problema.
Koch – É importante analisar qual é o retorno que a empresa terá. Se o meu executivo fechar o negócio em questão, milhões irão para a companhia. Se esse for o caso, ok. Se eu não conseguir responder à pergunta, tenho que considerar outras opções que podem ser muito mais eficazes do que enviá-lo em um avião para algum lugar do mundo.
EXAME.com - O relacionamento humano não sai perdendo nessa equação?
Harvey - Em termos de viagens de negócios, a relação humana estará mais para o nível de aconselhamento e assessoria. Você ainda precisará de encontros cara-a-cara para estabelecer uma relação. A partir daí, talvez os encontros físicos não sejam mais necessários, já que você pode travar encontros virtuais ou por telefone. Penso que a ênfase no tipo de encontro é que determinará a necessidade das pessoas de fato se encontrarem. Mas sempre haverá esse elemento, a vontade de ver as pessoas, conversar com elas. Em alguns tipos de relação, em que a emoção também conta, isso é ainda mais pertinente. Em viagens de negócios, você pode até esquecer os números e processos abordados. Mas nunca as pessoas que encontrou.
EXAME.com - Como se dá a atuação dos brasileiros nesse contexto?
Harvey - Há uma nova geração vindo aí, bastante conectada a novas tecnologias. Se você olhar para o passado, de 60% a 70% dos negócios brasileiros eram fechados aqui. Agora, estamos vendo corporações com dinheiro e funcionários brasileiros indo para muitos lugares do mundo, porque a experiência de gestão também está sendo incrementada. No país, os negócios ainda são muito decididos com base em relacionamentos e confiança. Talvez isso represente uma grande mudança para os próximos anos, já que provavelmente os negócios passarão a ser tocados sem tantos encontros presenciais.