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As crises que Pedro Parente já enfrentou - e o que ainda tem pela frente

Conhecido por reestruturar empresas em crise, Pedro Parente enfrenta hoje pressões para sua demissão

 (Bruno Kelly/Reuters)

(Bruno Kelly/Reuters)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 28 de maio de 2018 às 17h07.

Última atualização em 28 de maio de 2018 às 22h42.

São Paulo - Há cerca de dois anos, Pedro Parente entrou na Petrobras para recuperar a companhia.

Petroleira mais endividada do mundo na época, a empresa ainda sofria com os escândalos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. Parente chegou na empresa com fama de gestor de crises e alimentou esperanças de que era o homem certo para salvar a companhia.

Foi essa mesma fama que o levou à presidência do conselho da BRF em abril deste ano, substituindo o empresário Abilio Diniz. O objetivo é que Parente ajude a pacificar as disputas entre os sócios da dona da Sadia e Perdigão e reerguer a companhia após o escândalo da Operação Carne Fraca, também da Polícia Federal.

Conhecido por reestruturar empresas e gerenciar cenários de crise, Parente já atuou na política e foi ministro três vezes no governo de Fernando Henrique Cardoso . Coordenou o comitê responsável por administrar a crise de energia elétrica e organizar as regras do racionamento de 2001 e, durante sua atuação como secretário executivo do Ministério da Fazenda, cuidou da renegociação das dívidas dos estados e acompanhou o programa de desestatização.

Quando deixou o governo, foi escolhido como vice-presidente executivo do grupo RBS e coordenou a reestruturação financeira da empresa de mídia. Também reestruturou os negócios da Bunge e elevou a cada ano os resultados principais de alimentos e agronegócios.

Atualmente, no entanto, Parente tem enfrentado diversas críticas a respeito da política de preços de combustíveis na Petrobras e ameaça de greve dos petroleiros. O empresário enfrenta pressão para a sua demissão da presidência da Petrobras, ainda que a estatal afirme que ele não tem intenção de deixar o posto.

Veja abaixo os principais desafios que o empresário enfrenta hoje.

BRF

Há pouco mais de um mês, Parente incluiu um novo cargo ao seu currículo: o de presidente do conselho de administração da BRF, dona da Sadia e Perdigão. A companhia vivia uma briga interna por poder entre Abilio Diniz, então presidente do conselho, Tarpon, gestora de investimento com 7% da empresa, e outros acionistas e conselheiros.

A concorrência com a JBS, dona da marca Seara, também está muito mais forte do que no passado. A BRF já teve 200.000 pontos de venda no país, mas hoje o número não passa de 190.000. Para piorar, a companhia ainda enfrenta os efeitos da Operação Carna Fraca sobre os negócios da BRF, pois há riscos de novas restrições de compras por parte de importadores internacionais. 

Parente tem em mãos uma missão conhecida, mas não menos difícil por isso. Seu desafio é fazer a empresa ganhar relevância internacional, fortalecer as marcas e incutir uma cultura única no negócio.

Petrobras

Quando Parente chegou à Petrobras, há dois anos, a empresa enfrentava prejuízos em série, dívidas bilionárias, interferência governamental nos preços de combustíveis, queda nos preços internacionais de gasolina e possuía ativos não eficientes. A empresa ainda sofria uma crise de credibilidade por estar no centro da Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Seu primeiro desafio foi acelerar o plano de venda de 15,5 bilhões de dólares em ativos da Petrobras e reduzir seus custos. A empresa também voltou a analisar projetos com base em seu potencial de retorno. No período, a Petrobras triplicou seu valor de mercado e voltou a ser a maior companhia do país.

Outra medida no comando da petroleira foi o fim do controle do governo sobre os preços dos combustíveis. Quando Parente foi nomeado pelo presidente Michel Temer para o cargo na Petrobras em 2016, ele afirmou que deixaria o posto se o governo obrigasse a empresa a precificar combustível abaixo do preço de mercado. Antes, a estatal tinha de segurar preços, o que a fez perder cerca de 40 bilhões de dólares.

A companhia adotou uma nova política de preços em julho do ano passado. Desde então, os valores dos combustíveis nos postos mudam frequentemente, até de um dia para o outro, ajustados de acordo com variáveis como câmbio e preço internacional do barril de petróleo. A política, elogiada pelos investidores, está diretamente ligada à greve dos caminhoneiros.

Caminhoneiros

Em poucos dias, os caminhoneiros mergulharam o Brasil numa profunda crise de abastecimento. Em greve desde o dia 21 por conta dos altos preços do diesel, deixaram de fazer entregas de insumos, produtos e combustíveis e bloquearam certas estradas. O impacto foi alto, já que, no Brasil, mais de 60% dos bens e 90% das pessoas viajam por rodovias, segundo a Confederação Nacional dos Transportes.

Voos foram cancelados em alguns aeroportos em meio à escassez de combustível, linhas de ônibus foram reduzidas e produtos desapareceram das prateleiras dos supermercados. Fábricas precisaram paralisar suas produções e milhões de frangos e porcos sofreram com a falta de ração.

Para a Petrobras, o que estava em jogo não era apenas o preço dos combustíveis, mas sim a sua política de precificação, elogiada por investidores e a promessa para reverter as perdas para a estatal.

Para firmar uma trégua com os caminhoneiros, a companhia afirmou que reduziria o preço do diesel em 10% por 15 dias. Além disso, o valor passará a ter ajustes mensais, e não mais diários como ditava antes a política da companhia.

O anúncio aumentou o receio dos investidores de que o governo voltaria a interferir na companhia e as ações caíram.

Já às 21h30 deste domingo, 27, o presidente Michel Temer fez novo pronunciamento no Palácio do Planalto anunciando novas medidas para tentar conter a paralisação dos caminhoneiros. Temer anunciou que o preço do diesel sofrerá uma redução de 46 centavos por litro pelos próximos 60 dias, no que chamou de “sacrifícios no orçamento” para solucionar o impasse sem comprometer a Petrobras.

A crise pode custar até 27 bilhões de reais aos cofres do governo.

Petroleiros

Ainda que o governo tenha chegado a um acordo com a Petrobras sobre o preço do diesel, nem todos os setores estão satisfeitos. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) pede a redução dos preços de gás de cozinha e combustíveis e a saída de Pedro Parente da presidência da Petrobras.

Também reivindicam a retirada das tropas das Forças Armadas que, desde a última sexta, ocupam algumas refinarias da Petrobras  para liberar o transporte de combustíveis. Pedem, ainda, a manutenção dos empregos, a retomada da produção das refinarias, o fim das importações de derivados de petróleo, não às privatizações e ao desmonte da estatal.

Por isso, a Federação decidiu entrar em greve a partir da meia-noite da próxima quarta-feira (30), que deve durar 72 horas.

Michel Temer teria apelado a Pedro Parente que negociasse com os petroleiros. Em um momento em que o país vive uma crise de abastecimento, a paralisação dos petroleiros poderia ter graves consequências. 

Com a pressão e os desafios enfrentados pelo empresário, ele poderá antecipar sua saída da estatal, de acordo com a Eurásia.

"A ida para o conselho da BRF já pode ser um sinal de que ele está preparando terreno para essa saída, e a inferência política na Petrobras aumenta a chance dele renunciar", afirmou Silvio Cascione, analista da consultoria de risco Eurasia, em entrevista ao site EXAME.

Com sua saída, a estatal pode perder novamente a credibilidade que recuperou, às duras penas, durante a gestão de Parente.

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