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As armas da Renner na crise: produção super rápida e pouco estoque

Na Renner, a produção nacional leva até 45 dias, e a distribuição usa inteligência artificial. Tudo para não perder o interesse do cliente na crise

Loja da Renner: varejista usa inteligência artificial e produção rápida para evitar desperdícios na crise (Renner/Divulgação)

Loja da Renner: varejista usa inteligência artificial e produção rápida para evitar desperdícios na crise (Renner/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 6 de julho de 2020 às 06h00.

Última atualização em 6 de julho de 2020 às 22h11.

O setor de moda foi duramente impacto pela crise do novo coronavírus no Brasil e no mundo. Na Renner, a maior varejista de roupas do país, não foi diferente. No primeiro trimestre, a companhia teve lucro de 10,4 milhões de reais, ante 162 milhões de reais de lucro no mesmo período do ano passado. Uma queda de 94%. Ainda assim, o presidente da empresa Fabio Adegas Faccio afirma à EXAME: “Essa é a hora da Renner.”

O executivo, à frente da Renner desde abril do ano passado, usa o automobilismo para falar do momento da companhia num cenário especialmente desafiador. “O Ayrton Senna era favorito quando não estava chovendo. Quando chovia, era certeza que ele ganharia. Com a Renner é a mesma coisa. Quando não está chovendo somos favoritos. Na chuva, não tem para ninguém”.

Dentre os diferenciais da empresa para navegar nesse momento difícil o executivo destaca seu modelo ágil de produção. Antes, o ciclo de produção de peças da Renner era de seis a nove meses. Hoje leva de 10 a 45 dias nos produtos nacionais. O modelo permite que a empresa trabalhe com menos estoque e consiga atender com mais rapidez às tendências buscadas pelos clientes.

“Entramos nesse momento com estoque baixo e estoque novo, então estamos conseguindo escoar. A demanda do cliente está mudando rápido e, se meu ciclo fosse longo, teria sido pego pela crise com estoques altos de produtos que o cliente não quer mais”, diz Faccio.

O executivo afirma, porém que o modelo não é o mesmo do fast fashion, modo de produção da moda focado em muitas coleções com peças baratas para serem usadas poucas vezes. “O fast fashion é um termo pejorativo, que remete a um consumismo desenfreado. A velocidade na nossa cadeia não serve ao consumismo. Ela serve para sermos responsivos à demanda do cliente. Melhorar processos é sustentável e fazemos isso. Mas produzir só o necessário e evitar desperdícios é ainda mais.”

Ele continua: “Uma empresa que produz sem saber o que vai vender em geral produz demais, gera estoque demais e depois queima a margem dos produtos, alguns chegam a queimar os próprios produtos”, afirma.

Com esse modelo, a Renner também pôde manter os pedidos para seus fornecedores, ainda que em menor volume, auxiliando sua cadeia a se manter no período de crise. “Trabalhamos com parceiros de 30, 25 anos, e apoiamos eles de todas as formas. Com linhas de crédito, com consultoria, e ajustando nossas demandas à produção deles. Se não tivéssemos esse ciclo rápido, eu não teria como receber nada”, diz.

Além da produção rápida, o modelo da Renner se baseia no uso de inteligência artificial para entender quais as peças mais procuradas pelo consumidor de cada região. Assim, a marca pode ampliar sua oferta na medida certa.

Até o final do ano passado, 8,5% das peças da Renner foram distribuídas com base nessa tecnologia. Essas tiveram 12% mais vendas que os outros itens, com 18% menos estoque. Para 2020, a meta é chegar a 17% dos produtos distribuídos dessa forma e, no futuro, 100%. Segundo Faccio, a Renner é a única no país a trabalhar com esse modelo que une tecnologia e produção rápida.

No período de pandemia, a Renner viu aumento da demanda por roupas confortáveis, como moletons e meias, e por peças de cima sociais, uma vez que é a parte de cima que aparece na câmera. No pós-pandemia, a expectativa é que o público busque tanto peças básicas, que durem mais tempo no guarda-roupas, quanto itens coloridos e alegres.

A Renner também tem usado projeções estatísticas para prever a retomada das vendas. Pelas suas contas, espera chegar ao final de 2020 com resultado próximo ao que havia sido projetado antes da pandemia, ainda que um pouco abaixo do previsto. “Nosso segmento sofreu muito no início da crise, mas vamos retomar mais rápido do que outros”, afirma o executivo.

Com boa parte das lojas fechadas até poucos dias atrás, a varejista tem visto sua operação de e-commerce disparar. A estratégia no primeiro momento da pandemia foi dar um passo atrás. “Tivemos uma primeira fase focada em segurança, em que desaceleramos o online, quando todos estavam acelerando, para organizarmos nossa operação”, afirma FaccioPreparação feita, as vendas online voltaram com tudo a partir de abril e têm crescido na casa dos três dígitos.  

O momento serviu ainda para acelerar projetos. A venda via WhatsApp, por exemplo, estava nos planos da empresa para o futuro, mas foi adiantada. “Em três semanas fizemos um teste e agora já estamos com a operação automatizada”, diz. Também levou a Renner a reforçar estratégias já em andamento, como o ship from store, em que o produto comprado online sai do estoque de uma loja próxima à casa d cliente. A varejista está aumentando o número de armários nas lojas para a modalidade de compra online com retirada na loja, além da oferta do drive-thru. 

A próxima fase, na visão do executivo, vai unir lojas abertas e os avanços feitos no online no período de pandemia. "Essa fase, com 100% das lojas abertas e toda a operação formatada, é quando voamos até acima do que era o normal. A gente imagina que em algum tempo isso aconteça por toda força da omnicanalidade."

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