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ARTIGO: Qual é o impacto invisível da IA no trabalho e negócios - e como agir

Tecnologia oferece transformação de produtividade e impõe responsabilidade corporativa e governamental na gestão de pessoas, escreve Avanish Sahai, membro do Brazil at Silicon Valley

 (BSV/Divulgação)

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Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 23 de março de 2024 às 07h59.

Última atualização em 25 de março de 2024 às 12h34.

* Por Avanish Sahai

Em 1974, Arthur C. Clarke, renomado autor de ficção científica, fez uma previsão que hoje é uma realidade óbvia: "Um dia, um computador caberá em uma mesa". Na época, os computadores eram máquinas enormes e caras, geralmente usadas apenas por grandes empresas e instituições governamentais. A ideia de um computador pessoal que pudesse caber em uma mesa era revolucionária. Hoje, é claro, temos não apenas máquinas pessoais, mas também as que cabem no bolso, como os smartphones.

No entanto, com o rápido avanço da tecnologia, particularmente a Inteligência Artificial (IA), surge uma nova série de desafios e questões. Sutilmente, a IA se torna cada vez mais presente em nossas vidas, assim como os computadores pessoais fizeram décadas atrás. Assim, a IA tem o potencial de não apenas mudar a maneira como trabalhamos, mas também de transformar completamente o mercado de trabalho.

Há quem diga que “não é a IA que vai tirar seu emprego; é alguém que sabe como usar a IA”. No entanto, acredito que, de fato, em muitos casos, a IA irá assumir várias atividades que podem ser automatizadas e entregues com maior qualidade e menor custo do que pelos humanos.

Qual é o futuro com a IA generativa

E a consequência desse movimento é clara: o Goldman Sachs estimou que 300 milhões de empregos serão perdidos pelo surgimento da tecnologia. Kweilin Ellingrud, parceira da McKinsey, disse recentemente que o impacto da IA generativa sozinha poderia automatizar quase 10% das tarefas na economia dos EUA.

Os dados comprovam que essas transformações afetam todos os espectros de empregos: um estudo da McKinsey estimou que até 30% das atividades de trabalho poderiam ser automatizadas até 2030, com o maior impacto esperado nas indústrias de manufatura, serviços alimentícios e atendimento ao cliente. Nesses setores, a IA também cria oportunidades de emprego, particularmente em campos relacionados ao desenvolvimento da tecnologia envolvendo análise de dados e machine learning.

Esses novos papéis exigem habilidades diferentes, portanto, há uma necessidade de requalificação e atualização da força de trabalho. O Fórum Econômico Mundial sugere que a requalificação deve ser realizada pelas corporações como uma iniciativa-chave de gestão de mudanças; no entanto, muito poucas organizações estão fazendo isso efetivamente.

Nesse sentido, o impacto da IA nos empregos e na sociedade depende de como ela é desenvolvida, implantada e regulamentada. Ela tem o potencial de trazer benefícios significativos, mas também apresenta desafios que precisam ser cuidadosamente gerenciados. É importante notar que, embora a IA e a automação possam levar ao deslocamento de empregos em certas indústrias, assim como na revolução do computador pessoal, é um ponto de inflexão que desenvolve oportunidades de emprego e contribui com o crescimento econômico geral.

Os pontos de colaboração para a transição

No entanto, gerenciar a transição e garantir que os trabalhadores tenham as habilidades necessárias para ter sucesso na nova economia são desafios-chave que precisam ser abordados por meio de uma maior colaboração entre governos/políticos, corporações, tecnólogos e empreendedores e representantes trabalhistas. Essa colaboração precisa acontecer de forma aberta e transparente e não atrás de portas fechadas.

O papel dessas entidades na gestão da transição para uma economia impulsionada pela IA é crucial. Os governos precisam implementar políticas que incentivem o uso responsável da tecnologia, promovam a criação de empregos em setores onde a IA pode criar oportunidades e forneçam suporte para trabalhadores que possam ser deslocados pela automação. As corporações, por outro lado, têm a responsabilidade de garantir que seu uso da IA seja ético e transparente. Eles também devem investir em programas de treinamento e desenvolvimento para equipar seus funcionários com as habilidades necessárias para trabalhar com as novas soluções.

Embora alguns esforços estejam em andamento para regular melhor o rápido avanço da IA, ainda há muito a ser feito. A União Européia (UE) definiu um framework de gerenciamento de riscos de IA que começa a apontar na direção certa e coloca responsabilidades e regras nos vários players em um ecossistema impulsionado pela IA.

O Brasil, inspirado pelas leis da UE, espera promulgar sua própria versão ainda este ano. Os EUA estão atualmente um pouco atrasados nessa frente, com uma ordem executiva vinda da Casa Branca, mas sem leis reais com "dentes" para impor algumas salvaguardas. Esses caminhos serão discutidos com diversas nuances na Brazil at Silicon Valley, evento que acontecerá entre 7 e 9 de abril, no Vale do Silício, Califórnia.

Assim como Arthur C. Clarke previu a revolução dos computadores pessoais, estamos agora no limiar de uma nova revolução com a IA. E embora o futuro possa parecer incerto, estou otimista de que, com a abordagem certa, podemos garantir que a democratização da IA leve a um futuro mais brilhante e inclusivo para todos.

*Avanish Sahai, veterano do Vale do Silício, é membro dos conselhos das non-profits Brazil at Silicon Valley e Commonwealth Club World Affairs e da empresa de AI Birdie.ai. Ocupou posições de liderança na Oracle, Salesforce, Servicenow e Google Cloud e também foi líder da prática global de Software e Serviços da McKinsey. Ele se formou em Engenharia Eletrônica pela Poli/USP e tem MBA pela UCLA.

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