Onças no Pantanal: o Brasil tem um ambicioso, complexo, pioneiro e bem-sucedido projeto de reintrodução na natureza de alguns dos animais mais icônicos de sua fauna, como as onças pintada e parda (Onçafari/Eduardo Fragoso/Divulgação)
Redação Exame
Publicado em 8 de julho de 2023 às 08h01.
É provável que você já tenha assistido, por exemplo, no National Geographic, Animal Planet, Globo Repórter — e se emocionado — a algum documentário sobre a reintrodução de animais como elefantes, leões, rinocerontes no seu ambiente natural, todos na África.
Ficaram órfãos, resultado da súbita destruição do seu habitat ou da perda da mãe, em muitos casos criminosamente abatida por caçadores.
Nem todos sabem, mas o Brasil tem um ambicioso, complexo, pioneiro e bem-sucedido projeto de reintrodução na natureza de alguns dos animais mais icônicos de sua fauna, como as onças pintada e parda.
É o que faz a Associação Onçafari, criada por mim há 11 anos.
O êxito nos trabalhos realizados em parceria com o CENAP (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros) levou o Onçafari a receber certificações internacionais, como o CAF International, e chamar a atenção de várias empresas interessadas em tornarem-se parceiras da premiada iniciativa, essencial para a manutenção e evolução do projeto.
Olha que legal: em 2015, o recinto do Onçafari na Caiman Pantanal entrou para a história ao reintroduzir no seu habitat duas onças-pintadas, as dedicadas fêmeas Isa e Fera. Chegaram bebês, depois de perderem sua mãe. Após quase dois anos de treinamento, com contato mínimo com os seres humanos, elas voltaram à natureza.
Em 2019 foi a vez do astuto macho Jatobazinho assumir o importante papel de gerar descendentes também em seguida à perda da mãe. Depois de longo treinamento no recinto Caiman, foi levado para o Parque Nacional de Iberá, na Argentina.
Primeiro macho a ser solto na natureza naquele local, onde a onça pintada já estava extinta há décadas. Hoje já teve pelo menos oito filhotes e está ajudando a trazer a população desses felinos de volta à região.
A bióloga-chefe do projeto, Lilian Rampim, dá mais detalhes do trabalho do Onçafari: “A ciência considera que você obteve sucesso na reintrodução à natureza se esses animais gerarem não apenas filhos, mas netos também.
Nós temos meios de monitorar o que eles estão fazendo, pois todos recebem colares eletrônicos de última geração”. E acrescenta: “É com grande satisfação que afirmo que entre a Isa, a Fera e o Jatobazinho já são 17 filhotes nascidos na natureza, entre filhos e netos”.
O projeto tem autorização para disponibilizar animais vivos para as onças desenvolverem o instinto de caçar. “Esse processo exige tempo e depende da condição em que o animal chega. No Onçafari nós evitamos ao máximo o contato com os animais, para que eles não associem o ser humano ao alimento, ao bem estar porque na natureza as coisas não funcionam assim.”
Esse é, segundo a bióloga, um dos principais motivos de Isa, Fera e Jatobazinho estarem repovoando seus habitats com descendentes.
E é no recinto do Onçafari na Amazônia que a nova estrela da ONG está sendo reabilitada para voltar à selva, o ainda jovem macho Xamã. Antes dele, em 2018, Pandora e Vivara, duas onças-pintadas também, já haviam sido reintroduzidas com sucesso na Amazônia. O recinto encontra-se na Pousada São Benedito, às margens do Rio São Benedito, no sul do Pará.
Apesar da extrema relevância da reintrodução dos animais, o Onçafari tem outras missões, a exemplo da educação, como lembra Haberfeld.
Seus profissionais promovem palestras, eventos, apresentam vídeos, procuram conscientizar em especial o jovem da relevância da conservação dos animais e da natureza.
O Onçafari tem a sua base principal de operações na Pousada Caiman Pantanal, um dos locais onde é possível fazer o avistamento de animais selvagens no seu habitat — até mesmo as onças-pintadas — sob a orientação de guias profissionais.
Informações sobre como ser parceiro do Onçafari estão aqui.