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ARTIGO: Nordeste ruma a trilha de se tornar polo tecnológico global

Nos últimos anos, o eixo tradicional da inovação, Rio-São Paulo ou Sudeste-Sul, tem cedido parte do espaço a novos polos com identidade própria

Rec'n'Play, festival de inovação centrado no Porto Digital, no Recife: Nordeste responde por 24,7% das startups ativas no país (Porto Digital/Divulgação)

Rec'n'Play, festival de inovação centrado no Porto Digital, no Recife: Nordeste responde por 24,7% das startups ativas no país (Porto Digital/Divulgação)

Orlando Cintra
Orlando Cintra

Founder e CEO do BR Angels

Publicado em 26 de novembro de 2025 às 13h21.

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O mapa da inovação no Brasil nos obriga a olhar para o Nordeste. Além de criadouro de startups, a região está se tornando uma das frentes centrais do avanço tecnológico nacional.

Nos últimos anos, o eixo tradicional da inovação, Rio-São Paulo ou Sudeste-Sul, tem cedido parte do espaço a novos polos com identidade própria.

Levantamento do Sebrae, de agosto de 2025, mostra que o Nordeste responde por 24,7% das startups ativas no país, o que lhe dá a segunda posição entre todas as regiões brasileiras, só perdendo para o Sudeste, com 35,8%. O Sul fica em terceiro, com 20,7%.

A maior distribuição das startups por todo o país é um avanço para a economia nacional e também para o desenvolvimento tecnológico, já que, com isso, essas empresas ganham capacidade maior de atrair diferentes ideias e talentos, multiplicando o potencial inovador.

Por que o Nordeste agora?

Alguns fatores conspiram para tornar essa trajetória possível e promissora. Primeiro, há uma maturação dos ambientes de inovação locais.

Em cidades como Recife, Fortaleza, Natal e outras capitais nordestinas, redes de incubadoras, aceleradoras, coworkings, parques tecnológicos, ambientes de mentoria e investimento começam a ganhar escala.

O Porto Digital, em Recife, é um case simbólico de cluster tecnológico no Nordeste. Essa base estrutural tem permitido que ideias se transformem em negócios com maior rapidez e com relevância local.

Um segundo ponto são as políticas públicas que trabalham na direção desse processo, com incentivos regionais e programas de fomento que contribuíram para ativar ecossistemas no Nordeste.

Programas como o StartupNE e InovaBiomas são exemplos. Essas iniciativas, combinadas com a presença de hubs corporativos, investidores nacionais e internacionais impulsionam as chances de uma startup no Nordeste escalar não apenas localmente mas também para o exterior.

O terceiro ponto é a vantagem competitiva regional. A força do Nordeste reside na diversidade de setores e na capacidade de aplicar tecnologia para resolver problemas complexos com vocação local.

A região tem imensas oportunidades em Tecnologia da Informação e nos segmentos de Saúde e Bem-Estar, Educação, além de um papel de vanguarda no setor de Energias Renováveis, com grande potencial em geração solar e eólica. No Agronegócio, a tecnologia impulsiona a irrigação inteligente e a gestão eficiente.

A ancoragem dos principais cabos submarinos na região também não é um mero detalhe geográfico, mas uma vantagem competitiva que posiciona os estados nordestinos como um potencial hub de data centers e conectividade global.

Desafios ainda permanecem

Naturalmente, todo esse avanço não significa que está tudo resolvido. Há gargalos que precisam ser vencidos para que o ecossistema se torne globalmente competitivo.

Um dos principais é a ampliação do acesso a capital. Ainda que haja fundos regionais, o Nordeste, na comparação com grandes polos do Sudeste, tem menor profundidade no mercado de venture capital, com menos recursos para rodadas de maior porte ou follow-on.

Das 4,4 mil startups mapeadas pelo Sebrae no Nordeste, cerca de 1 mil foram criadas no ano passado. Portanto, com a recente ascensão, 38,59% das companhias ainda estão em fase de validação de produto (MVP) e apenas 1,64% já alcançou maturidade o suficiente para começar a escalar.

Portanto, é um mercado que ainda demandará muito investimento nos próximos anos, que será também um catalisador de transformação social e econômica, aproveitando o capital humano de altíssima qualidade.

A importância crescente do Nordeste indica uma visão estratégica sobre onde estão as futuras oportunidades.

Nesse contexto, o BR Angels tomou a decisão de estabelecer seu Chapter Nordeste no Porto Digital, em Recife, dentro do Hub Plural, em parceria com o CESAR, o mais completo centro de inovação e conhecimento do Brasil, que integra pesquisa, aceleração de negócios e tecnologia para elevar organizações a um novo patamar de competitividade.

Além de expandir a capilaridade do BR Angels, essa iniciativa nos integra de forma mais próxima e efetiva a uma fonte inesgotável de empreendedores talentosos.

A proximidade física e a customização dos processos de avaliação de startups locais, com o suporte técnico de um parceiro como o CESAR, nos permitirão identificar e apoiar as empresas que estão construindo o futuro do Brasil a partir do Nordeste.

O Augusto Galvão, diretor executivo do CESAR, é outro que ressalta que o Nordeste tem se consolidado como uma das principais regiões para investimentos em startups. O centro de inovação, com seus 1.300 colaboradores, entrega 130 projetos por ano em parceria com grandes empresas globais.

Além disso, a plataforma deles de conexão entre startups, investidores e empresas, a Dates, conta atualmente com mais de 2.000 startups cadastradas.

Acreditamos firmemente que o sucesso do ecossistema de inovação brasileiro está intrinsecamente ligado à própria capacidade de se espalhar por todo o território nacional. Ao fomentar a inovação local, garantimos que as soluções sejam desenvolvidas com uma compreensão profunda dos desafios e oportunidades regionais.

O Nordeste deixou de ser a promessa para se tornar um cenário de inovação real. O futuro da tecnologia e do empreendedorismo no Brasil tem um sotaque forte e vibrante, e a nós, investidores e players do ecossistema, cabe o papel fundamental de potencializar essa força, transformando-a em prosperidade e o talento em impacto.

O Nordeste é, inegavelmente, um novo polo de tecnologia nacional e, em breve, global.

Orlando Cintra é founder e CEO do BR Angels

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