Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h26.
"Adorei conhecer vocês. Somos colegas, vocês sabem." Assim o ator Carlos Moreno, há 24 anos garoto-propaganda da Bombril, saudou um entusiasmado grupo de 270 funcionários da empresa. Com camisetas amarelas, especialmente confeccionadas para a ocasião, eles participavam na quinta-feira, 28 de novembro, da inauguração de uma linha de produção na empresa, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Sob um calor sufocante, aplaudiram os discursos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do superintendente da Bombril, o italiano Gianni Grisendi. Eles foram contratados neste ano, após um investimento de 9 milhões de reais na ampliação da fábrica.
Nesse clima de festa, nada deixava transparecerem os bastidores de desavença entre acionistas, operações financeiras controversas e, ultimamente, insolvência do controlador, o empresário italiano Sergio Cragnotti. Na Bombril, os executivos fazem de tudo para tentar separar as duas faces do negócio -- a da operação e a das encrencas societárias. A mais recente, no início de novembro, foi o calote perpetrado por Cragnotti em dívidas de 1,1 bilhão de dólares na Itália. Como parte de um plano de reestruturação de seu grupo, o Cirio, ele comunicou que poderiam ser vendidos ativos como o clube de futebol Lazio e a Bombril. A venda da Bombril, no entanto, depende de Cragnotti, dono de 43% do capital, se entender com os sócios minoritários -- em especial a Previ, o BNDES e a corretora Dynamo, que somam 38% do capital. Em Roma, sede mundial do Cirio, o grupo informou que Cragnotti estaria disposto a abrir mão da gestão e deixá-la a cargo de um executivo.
A turbulência não é novidade na Bombril. Nos últimos dois anos houve duas tentativas frustradas de vendê-la -- primeiro para a alemã Henkel e depois para a americana Clorox. "Fui contratado para reerguer a empresa", diz Grisendi, ex-presidente da Parmalat e desde maio à frente da Bombril-Cirio. Nos primeiros nove meses deste ano sua receita líquida superou os 368 milhões de reais registrados em todo o ano de 2001. "Não fez parte de minha conversa com Cragnotti a venda da Bombril. Não teria aceitado o cargo se fosse para isso. Tenho um contrato de três anos e o meu objetivo é fazer dona Maria feliz com nossos produtos."