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Leo Branco
Publicado em 4 de março de 2022 às 09h10.
Última atualização em 4 de março de 2022 às 09h33.
Dona de 80% do mercado global do nióbio, um metal cada vez mais utilizado em aplicações industriais, a metalúrgica brasileira CBMM comemora resultados recordes em 2021.
A empresa sediada em Araxá, em Minas Gerais, faturou 11,4 bilhões de reais, alta de 67% em relação a 2020. O lucro líquido melhorou ainda mais: em 4,5 bilhões de reais, o número é 78% acima do patamar do ano anterior. "Deixamos o impacto da pandemia para trás", diz Ricardo Lima, vice-presidente da CBMM.
Por trás dos números está a recuperação dos negócios em cadeias produtivas golpeadas pela covid-19 e que, até então, eram os principais clientes da CBMM, como a indústria aeronáutica e a siderurgia – em particular a da China, primeiro epicentro da pandemia e maior fabricante global de aço.
Para 2022, a expectativa de Lima é uma alta de 20% nos negócios da CBMM. "Está longe de ser um céu de brigadeiro, mas estamos confiantes na nossa aposta na diversificação", diz.
Fundada há seis décadas, a CBMM virou um colosso ao vender partículas do nióbio a siderúrgicas encarregadas de transformar o material em vigas, vergalhões e outras aplicações típicas para o aço.
O minério virou um assunto pop nos últimos anos graças à publicidade feita pelo presidente Jair Bolsonaro, um fã das propriedades do metal produzido a partir do minério pirocloro.
Apesar de o produto ter virado assunto de botequim para muita gente, a CBMM segue um perfil low profile.
Na virada dos anos 2000, a família Moreira Salles, sócia do banco Itaú Unibanco, chegou a controlar 100% da CBMM. Atualmente, tem 30%; outros 30% estão nas mãos de investidores asiáticos e os 40% restantes são do fundo brasileiro Brasil Warrant.
A mistura do nióbio com outros metais confere características especiais ao aço. Nas contas da empresa, bastam 100 gramas de nióbio para 1 tonelada de aço ganhar resistência e, de quebra, ficar mais maleável.
Tudo isso ajuda e muito indústrias pressionadas a ter processos mais sustentáveis, como a construção civil e a indústria automobilística — carros feitos com chapas de aço com nióbio na composição levam menos materiais que um automóvel convencional.
As habilidades do nióbio colocaram a CBMM numa posição vantajosa. A mina da empresa em Araxá tem capacidade estimada em 800 milhões de toneladas — a maior do mundo em exploração neste momento.
Com a cotação do material na casa dos 40 dólares o quilo (uma quantia semelhante de ferro não passa dos centavos), daria para a CBMM ficar contemplando os ganhos do carro-chefe da empresa por algum tempo.
Não é o caso por ali. "Desde o início nosso desafio tem sido o de criar os mercados em que operamos", diz Lima. "Não está sendo diferente agora."
Nos últimos nos, a empresa aportou 3 bilhões de reais num programa de investimentos na ampliação da fábrica de Araxá para elevar a capacidade produtiva em 50% — para algo como 150.000 toneladas ao ano. É mais do que a demanda global para o produto, de 120.000 toneladas por ano.
O aumento da produção servirá para fornecer o nióbio a novas aplicações — numa lógica de tornar o nióbio um metal de fato "multiúso". Hoje, 90% do material beneficiado em Araxá acaba sendo misturado ao aço em vigas, vergalhões e por aí vai. Outros 10% vão a usos incipientes fora da cadeia do aço. "A meta é elevar essa fatia a 40% até 2030", diz o CFO Alex Amorim.
Uma das principais apostas para essa guinada está no mercado de carros elétricos. O uso do nióbio em partes das baterias deste tipo de veículo traz vantagens. Anodos e catodos com nióbio garantem um tempo de recarga mais rápido e uma durabilidade acima do observado em baterias com carbono, o material padrão nesses aparelhos.
Os benefícios do nióbio já chamaram a atenção de gigantes como a montadora Volkswagen e o conglomerado de tecnologia Toshiba. Até o fim do ano, ônibus elétricos fabricados pela Volks em Resende, no Rio de Janeiro, deverão ter baterias com nióbio extraído e beneficiado pela CBMM.
Dentro da estratégia de acelerar crescimento via novos negócios, apenas no ano passado, a empresa investiu em duas startups — na inglesa Echion e na norte-americana Battery Streak. Os investimentos visam acelerar novos desenvolvimentos em materiais para baterias de íons de lítio.
Em 2021, as vendas de produtos de nióbio para aplicação em baterias somaram 7,5 milhões de reais. Para 2022, a previsão é que esse número multiplique por dez.
O negócio de baterias deve ser beneficiado, ainda, por aquisições de startups. Em 2021, a CBMM investiu na inglesa Echion e na norte-americana Battery Streak, ambas desenvolvedoras de materiais para baterias de íons de lítio.
Só no desenvolvimento de tecnologias para as baterias elétricas, a CBMM investiu 60 milhões de reais em 2021 – pouco mais de 25% do total aportado em inovação por ali. Há uma promessa de eletrificação generalizada na mobilidade — além de carros, bicicletas, aviões e até drones entram na conta da aparelhagem a ser movida por eletricidade, na esteira dos esforços por energias limpas mundo afora.
Com isso, os investimentos em inovação na CBMM devem crescer ao menos 40% em 2022, chegando a 278 milhões de reais, outro recorde para os padrões da empresa.