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Aposta da BMW no Brasil é menor do que no México

Montadora gastou US$ 250 milhões em sua primeira fábrica no Brasil, menos que o US$ 1 bilhão em uma nova fábrica no México


	Fábrica da BMW: empresa está investindo mais no México do que no Brasil devido a exportações fracas
 (Jens Schlueter/Getty Images)

Fábrica da BMW: empresa está investindo mais no México do que no Brasil devido a exportações fracas (Jens Schlueter/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2014 às 16h08.

As fabricantes de automóveis nunca abriram ou ampliaram tantas fábricas no Brasil: elas vão investir mais de US$ 30 bilhões até 2018 com esse objetivo. Mas isso não significa que essa seja uma história de sucesso.

A BMW gastou US$ 250 milhões em sua primeira fábrica no Brasil, que começou a funcionar no mês passado e chegará à produção anual de 32.000 carros em três a quatro anos.

Isso se compara ao investimento de US$ 1 bilhão em uma nova fábrica que produzirá 150.000 carros até o final da década no México.

Embora a Nissan e a Mercedes-Benz estejam planejando fábricas avaliadas em US$ 1,2 bilhão no Brasil, elas estão investindo US$ 1,4 bilhão em uma joint venture no México, perto de uma fábrica de US$ 2 bilhões da Nissan que abriu em novembro.

Como o quinto maior mercado automotivo do mundo, o Brasil é grande demais para ser ignorado e os ganhos entre a classe média durante a última década alimentam um aumento das vendas de carros.

Mas os custos altos, a falta de infraestrutura e os escassos acordos comerciais implicam que as exportações brasileiras não podem concorrer no exterior, disse Arturo Piñeiro, CEO da BMW Group do Brasil.

Isso faz com que as fabricantes de carros montem fábricas pequenas aqui para atender à demanda interna, enquanto constróem fábricas maiores em países como o México, que possui salários mais baixos e acordos comerciais com 44 países.

“Lamentavelmente, o custo Brasil, o custo tributário, o custo logístico do país, é muito alto”, disse Piñeiro em entrevista, em São Paulo.

“O México é uma economia muito mais aberta que o Brasil, é muito menos protecionista, tem acordos bilaterais com quase todos os países importantes do mundo”.

México

Essa combinação de fatores está fazendo com que o México se posicione para ultrapassar o Brasil neste ano como o principal produtor automotivo da América Latina, pela primeira vez em mais de uma década, impulsionado por aberturas de fábricas à medida que as fabricantes aumentam as exportações para os EUA, de acordo com a empresa de pesquisa e consultoria IHS Automotive.

As exportações de carros do México chegaram a 1,95 milhão nos três primeiros trimestres, 8,7 por cento a mais do que no ano passado, de acordo com a Associação Mexicana da Indústria Automotiva (AMIA).

Os números do Brasil contam outra história: as exportações nos três primeiros trimestres do ano caíram para cerca de 262.000, 39 por cento abaixo do que no mesmo período do ano anterior, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

Embora as exportações estejam sofrendo, a demanda doméstica é suficiente para atrair as fabricantes de carros, pois 40 milhões de brasileiros entraram para a classe média na última década, disse Luiz Moan Jr., presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Há um carro para cada 5,4 brasileiros, em contraste com uma proporção de 1 para 1,3 pessoa nos EUA, disse ele. Há 1,7 pessoa por carro na França, na Alemanha e no Japão, e 3,7 na Argentina.

Potencial do Brasil

“Todo mundo sabe qual é o potencial do mercado brasileiro”, disse Moan em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo.

“O Brasil é um dos poucos países do mundo, a exemplo do próprio EUA, que por razões geoeconômicas depende do seu crescimento no mercado interno. Outros países escolheram produzir muito e exportar: Coreia, China, Japão, México”.

Um real mais fraco e os altos impostos sobre as importações também contribuem para que a construção de fábricas brasileiras seja mais atraente, disse Moan.

Muitas das fábricas e expansões foram anunciadas como consequência de um aumento de 30 por cento no imposto sobre os carros importados, realizado em dezembro de 2012, disse ele.

“A política brasileira é de se fechar ao resto do mundo e atrair os fabricantes para o mercado local”, disse Augusto Amorim, analista da América do Sul na IHS Automotive. “Mas não vejo exatamente como o Brasil pode concorrer com outros países exportadores”.

Nissan e Mercedes-Benz

A Nissan Motor e a Mercedes-Benz vão produzir 220.000 veículos em fábricas distintas no Brasil, e sua joint venture mexicana quer fabricar 300.000 unidades até 2017.

A infraestrutura insuficiente é um dos problemas que tornam o Brasil menos competitivo, disse José Luis Valls, vice-presidente sênior dos negócios da Nissan na América Latina.

“O Brasil precisa ser competitivo: se você não for competitivo, você não cresce”, disse Valls em entrevista, em São Paulo. “O Brasil precisa fazer o dever de casa e desenvolver sua infraestrutura”.

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