Negócios

Após um ano, Volkswagen ainda não se recuperou de escândalo

A companhia ainda irá levar vários anos para se recuperar, afirmou Ferdinand Dudenhoeffer, especialista no mercado automotivo, em entrevista


	Volkswagen: ela ainda irá levar vários anos para se recuperar, afirmou especialista em entrevista
 (foto/Getty Images)

Volkswagen: ela ainda irá levar vários anos para se recuperar, afirmou especialista em entrevista (foto/Getty Images)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 30 de setembro de 2016 às 15h59.

São Paulo - Depois que investigações descobriram um sistema nos carros da Volkswagen que alterada os resultados de testes de emissões de gases poluentes, a montadora mergulhou em uma crise mundial.

A fraude envolve cerca de 11 milhões de carros movidos a diesel em todo o mundo, o que obrigou a empresa a fazer recalls e a pagar multas bilionárias.

Os custos podem ser ainda maiores, já que há diversos processos que ainda estão correndo.  Além disso, um ano após o escândalo ser descoberto, nove em cada dez motoristas ainda estão esperando o recall ou conserto do seu veículo.

A companhia ainda irá levar vários anos para se recuperar, afirmou Ferdinand Dudenhoeffer, especialista no mercado automotivo e diretor do Centro de Pesquisa Automotiva da universidade de Duisburg-Essen da Alemanha.

O que não irá se recuperar é o motor a diesel, disse ele em entrevista a Exame.com. Confira a entrevista na íntegra abaixo.

O grupo europeu é dono de 12 marcas como Audi, Porsche, Skoda e Seat e tem 610.000 funcionários em todo o mundo.

O escândalo explodiu em 18 de setembro de 2015, quando a montadora admitiu ter instalado um sistema que adulterava os motores para falsificar o nível de emissões poluentes. O software, que funcionava desde 2008, é capaz de saber quando o carro está sendo avaliado e ativa um mecanismo para emitir menos gases poluentes.

Para pagar pelos recalls e processos, a empresa fez provisões de US$ 18,2 bilhões. Essas despesas e a queda de 2% nas vendas globais levaram a empresa, no ano passado, a seu primeiro prejuízo anual em mais de 20 anos.

O caso impactou profundamente as ações da empresa e os dividendos que ela paga aos acionistas. O presidente foi demitido e substituído por Matthias Müller, que desenvolveu uma boa estratégia a longo prazo, afirmou Dudenhoeffer.

A sua maior multa foi aplicada nos Estados Unidos. Uma ação coletiva movida representou donos de 480.000 veículos e conseguiu compensações de US$ 15 bilhões. A empresa ainda enfrenta processos na Austrália, Coreia do Sul, Alemanha e Itália.

No Brasil, a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont), que entrou com uma ação civil pública contra a empresa, para exigir indenização moral e material.

Cerca de 17.000 carros do modelo Amarok foram vendidos entre os anos de 2011 e 2012, segundo o advogado Leonardo Amarante, representante da associação. A ação foi aberta em setembro do ano passado, logo depois que o escândalo foi divulgado.

A Volkswagen afirmou que realizou diversos testes nos automóveis brasileiros e constatou que o sistema fraudulento não estava ativo nos modelos Amarok vendidos no Brasil. No entanto, realizará o recall da mesma forma. 

Na Alemanha, um grupo de investidores pediu 8,2 bilhões de euros ao grupo Volkswagen por causa do escândalo dos motores a diesel. No total, 1.400 denúncias foram apresentadas, a maioria de investidores privados.

Confira abaixo a entrevista dada por Ferdinand Dudenhoeffer, especialista no mercado automotivo, a Exame.com.

EXAME.com - Um ano depois que a fraude se tornou pública, A Volkswagen fez o suficiente para resolver a crise?

Ferdinand Dudenhoeffer - Sim e não. Veja, o novo CEO Matthias Müller começou a criar uma nova cultura, tomou tempo para resolver os problemas legais e desenvolveu uma nova estratégia de longo prazo para o grupo. Na minha visão, ele fez um bom trabalho. Ele não pôde resolver todos os problemas, mas sua abordagem foi apropriada para a profunda crise da empresa.

No entanto, alguns comentários sobre o "não". Um dos comitês mais importantes dentro do grupo, o conselho de supervisão. É estranho que o antigo diretor financeiro tenha se tornado o chairman desse conselho. Isso contrasta com as regras de governança corporativa da empresa.

Um dos principais motivos para as ações ilegais foi sua posição competitiva em relação a custo. Esse problema continuará no futuro e a estrutura organizacional da Volkswagen ainda é uma razão para possíveis problemas no futuro.

EXAME.com - Quais foram os principais impactos do escândalo para a companhia?

Dudenhoeffer - O resultado mais importante é que, por conta do Dieselgate, os motores a diesel não terão futuro. A indústria automotora europeia acumulou custos muito altos por conta dessa questão. Por isso, as montadoras são pressionadas a acelerarem o mercado de carros elétricos.

EXAME.com - Em relação à multa de US$ 15 bilhões que a empresa terá que pagar nos Estados Unidos, o senhor acredita que é o suficiente para reparar os danos aos consumidores e ao meio ambiente?

Dudenhoeffer - Se olharmos para os Estados Unidos, acho que eles pagaram um bom dinheiro - US$ 15 bilhões para 480.000 carros. Portanto, acho que eles chegaram a um valor justo.

Nos outros países, há alguns processos pendentes e investidores abriram reclamações pedindo ressarcimento. Além disso, as marcas também precisam resolver problemas com motores a diesel em outros milhares de carros. Isso poderá resultar em custos de dezenas de bilhões de dólares.

EXAME.com - A Volkswagen tem sido criticada por tratar os consumidores de outros lugares do mundo, como os europeus, de forma diferente do tratamento dado aos norte-americanos. O senhor concorda?

Dudenhoeffer - Isso acontece porque temos leis ruins para proteger os consumidores na Alemanha e em outros países. Mas a Volks não é responsável pelas leis e ela tem o direito de seguir as leis. Temos que questionar os nossos políticos em relação a essas políticas de proteção ao consumidor.

EXAME.com - O senhor acredita que a companhia pode recuperar suas finanças e a confiança dos consumidores?

Dudenhoeffer - Nos próximos anos, a Volkswagen terá grandes dificuldades. No entanto, no longo prazo eles irão se recuperar e, com essa nova estratégia, as portas estão abertas para ela voltar a ser um player importante na autoindústria.

Acompanhe tudo sobre:EmpresasMontadorasVolkswagenFraudesEmpresas italianasEmpresas alemãsRecallÓleo diesel

Mais de Negócios

Floripa é um destino global de nômades digitais — e já tem até 'concierge' para gringos

Por que essa empresa brasileira vê potencial para crescer na Flórida?

Quais são as 10 maiores empresas do Rio Grande do Sul? Veja quanto elas faturam

‘Brasil pode ganhar mais relevância global com divisão da Kraft Heinz’, diz presidente