Renato, Amilcar e Flávia Sá: família tem a primeira e a segunda geração no comando da Tintas MC, que lança marca própria agora (Tintas MC/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 10 de setembro de 2023 às 09h09.
Última atualização em 11 de setembro de 2023 às 10h28.
Teve até Pelé envolvido no lançamento da marca de tintas próprias da varejista paulistana Tintas MC nos anos 1980. O rei do futebol era amigo de um dos fundadores da rede, Manoel de Sá, o “Maneco das Tintas”, que chegou a ser presidente do Santos. Vira e mexe, Pelé aparecia nas inaugurações das lojas e, quando a empresa decidiu lançar uma marca própria, escalou o jogador para ser garoto-propaganda.
Mas na época, as coisas foram feitas muito mais na “emoção do que na razão”, como comenta o atual CEO, Renato Sá, da segunda geração da família fundadora. Não havia estudo tão aprofundado do mercado e faltava tecnologia de dados para entender e gerir clientes e fornecedores. Somou-se a isso uma crise econômica com falta de matéria-prima e pronto, o projeto durou pouco e foi interrompido.
Agora, cerca de 40 anos depois, a Tintas MC relança a aposta. A empresa está fazendo neste mês o lançamento de sua marca própria de tintas, já com 19 produtos diferentes. A expectativa dos diretores é que,no primeiro ano de operação, esse braço já dê um retorno de 50 milhões de reais em faturamento. E que até 2028, represente 25% do negócio.
“São momentos diferentes”, diz Sá. “Hoje temos contratos de longo prazo e parceria de cinco anos com a Sherwin-Williams, multinacional norte-americana e uma das maiores produtoras de tintas. Nos anos 1980, um fator externo fez com que o projeto não fosse prioridade, mas hoje é. Sabemos onde queremos chegar, o quanto queremos que ele tenha participação no faturamento. Entendemos que é um projeto que não tem volta”.
O cenário da Tintas MC de agora é bem diferente daquele dos anos 1980. Há sete anos, a empresa decidiu apostar em expansão por meio de uma rede de franquia. Com isso, aumentou consideravelmente o número de lojas espalhadas pelo país. De 40, foram para 200. Além das franquias, também compraram redes e lojas regionais em estados como Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Quando essa expansão começou, a consultora que orientou no processo de transformação em franquia orientou a família de que seria interessante, em algum momento, ter uma marca própria. O objetivo seria aumentar a relevância da própria Tintas MC como marca.
Ficou definido então que quando chegassem ao número de 150 lojas, começariam o projeto para o lançamento das tintas próprias. O número chegou, porém, durante a pandemia. A família decidiu esperar então para não ser pega por nenhuma adversidade de mercado, como aconteceu nos anos 1980.
“O mercado de tintas até andou muito bem durante a pandemia, porque muita gente comprou tinta para reformar a casa ou apartamento”, diz. “Mas entendemos que era um projeto para pouco depois. Esperamos um pouco ter estabilização do processo de pandemia e começamos a tocar”.
Além de Renato, sua irmã Flávia Sá, diretora de marketing, também esteve muito presente no processo de criação de uma marca própria. Ela que organizou as primeiras pesquisas com consumidores para entender como deveria ser a marca própria. “Fizemos mais de 300 pesquisas, com cliente, com mercado, de concorrência, com fornecedores”, diz Flávia. “Quisemos fazer de uma maneira bem estruturada”.
Falaram com cerca de 35 fornecedores e entenderam que a produção deveria estar centralizada em uma empresa que conseguisse atender uma demanda nacional. Foi por isso que escolheram a Sherwin Williams, uma das maiores fabricantes mundiais de tintas, como produtora. As linhas de texturas e complementos serão produzidas pela Martins e Grafftex.
Nesses primeiros meses, o volume de produção ultrapassou 150.000 galões de tintas para atender aos pedidos iniciais de lojas próprias e franquias.
Há sempre um desafio no radar quando uma varejista decide ter marca própria: não frustrar ou desmobilizar os fornecedores do varejo, que passam a virar concorrentes também. “Somos muito transparentes com nossos parceiros, fazemos questão de avisá-los do projeto antes de qualquer vazamento no mercado”, afirma Sá. “E todos participaram de alguma forma do processo de seleção de fornecedores, que foi conduzido pela Amicci”.
De acordo com o CEO, a ideia não é barrar outras marcas das 200 lojas da Tintas MC. Pelo contrário, é ampliar o portfólio e permitir que o cliente escolha. “Se o consumidor ou o pintor têm preferência por um dos nossos grandes parceiros continuaremos impulsionando essas marcas dentro de nossas lojas”.
A Tintas MC foi fundada em 16 de abril de 1964, em São Paulo, por Manoel dos Santos Sá, e seus dois irmãos, Armando e Amilcar José de Sá, este último atuante na empresa até hoje e pai de Renato e Flávia.
Hoje, é uma das grandes empresas de venda de tinta. Está nos estados de São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Bahia, Rondônia, Tocantins, Rio de Janeiro e Ceará. A marca tem 86 lojas próprias e 114 franquias.
A Tintas MC foi uma das vencedoras do ranking EXAME Negócios em Expansão 2023, levantamento da EXAME e do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), com suporte técnico da PwC Brasil.
A empresa ficou na 24ª colocação na categoria de 150 a 300 milhões de reais, com um crescimento de receita líquida de 16,89%. Em 2021, a receita líquida foi de R$ 189 milhões. Em 2022, subiu para R$ 220,9 milhões.
O ranking é uma forma de reconhecer os negócios e celebrar o empreendedorismo no país. Com gestões eficientes, análise de oportunidade, novas estratégias e um bom jogo de cintura, os executivos no comando desses negócios conseguiram avançar no mercado.
Os resultados vieram a público num evento para mais de 400 convidados em São Paulo.
Neste ano, a lista traz 335 empresas de 22 estados, representantes das cinco regiões do país. Em relação ao ano anterior, o número de selecionadas representa aumento de 63%. Veja os resultados: