Negócios

Após falência e burnout, paulistana fatura R$ 1,4 milhão com kits corporativos

À frente da 4us, Talita Watanabe já atendeu marcas como Coca-Cola, Unilever e Nike, e agora prepara a internacionalização do negócio

Talita Watanabe, fundadora da 4us: "O risco existe em qualquer caminho. Se você trabalha em uma empresa, pode ser demitida a qualquer momento. Se tem um negócio, ele pode não dar certo. A diferença está em onde você quer colocar sua energia – na dúvida ou na construção"

Talita Watanabe, fundadora da 4us: "O risco existe em qualquer caminho. Se você trabalha em uma empresa, pode ser demitida a qualquer momento. Se tem um negócio, ele pode não dar certo. A diferença está em onde você quer colocar sua energia – na dúvida ou na construção"

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 14h00.

Empreender é um jogo de erros e acertos, e nem sempre a primeira aposta é a que vai ter sucesso a longo prazo. A trajetória de Talita Watanabe exemplifica bem isso. Antes de fundar a 4us, especializada na geração de experiências para marcas como Colgate, Unilever, Coca-Cola, Quem Disse Berenice e Nike, que faturou R$ 1,4 milhão em 2024 e mira a internacionalização este ano, teve outro negócio. Sua jornada empresarial começou em 2011 com a Dona Mocinha, de papelaria personalizada para festas infantis.

Apesar dos resultados iniciais positivos e o alcance de mercados como Paris e Japão, após dois anos de operação, a falta de conhecimento em gestão financeira e algumas decisões erradas levaram ao encerramento da empresa. Mas ela sempre soube usar os desafios para crescer e se reinventar. Foi trabalhar como vendedora em uma loja de rua, até que soube de uma vaga numa agência de comunicação.

“Entrei sem nenhum conhecimento e saí como responsável da área de eventos, press kits e ativações”, lembra.

Depois de um tempo, deixou a agência para atuar em uma companhia de esportes ganhando o dobro, porém, após oito meses teve um burnout e precisou se afastar. Ao se recuperar, decidiu voltar ao empreendedorismo.

“Transformei meu currículo em portfólio, meus colegas de trabalho em clientes, e de funcionária virei fornecedora da agência na qual trabalhava e de outras”, conta. Esse foi o início da 4us.

Personalização como vantagem competitiva

O primeiro passo para estruturar o negócio foi elaborar uma proposta de valor diferenciada. “Desde o início, trabalhei para entregar algo único, entendendo cada cliente em sua singularidade”, explica.

De acordo com a empreendedora, a 4us vai além de uma empresa voltada ao marketing de eventos; é uma plataforma para a criação de experiências autênticas, que sejam inclusivas e marquem a memória do público.

“Nosso sucesso não veio apenas da execução, mas da capacidade de enxergar além do briefing e propor soluções que geram valor real para os clientes. Esse olhar estratégico, aliado à personalização e ao respeito à identidade de cada marca, é o que nos diferencia”, afirma.

No entanto, alguns desafios marcam o início da jornada. “Até ter o primeiro colaborador, trabalhava na minha casa. Lembro de responder a todos os e-mails com ‘já estamos cuidando da sua demanda’, enquanto, sozinha, me dividia entre montar propostas e kits, negociar e comprar materiais”, conta.

A parte financeira foi outro um obstáculo significativo. O maior teste veio com a aprovação de um grande trabalho para uma multinacional. Para atender à demanda, era necessário um investimento inicial de R$ 50 mil para pagar fornecedores, com a previsão de recebimento apenas 60 dias após a emissão da nota fiscal.

"Minha reserva de emergência não era suficiente e rapidamente precisei buscar soluções para conseguir entregar o projeto”, diz Talita, que decidiu recorrer a empréstimos em alguns bancos.

Para isso, teve o cuidado de planejar bem os pagamentos e se comprometeu a transformar os lucros em capital de giro com o intuito de evitar novos sufocos financeiros.

Resistência e potência

Para a empresária, o sucesso da 4us está baseado em três alicerces: estratégia, diversidade e impacto social. Esses elementos não apenas definem a identidade da marca, mas também impulsionam sua relevância e inovação no setor.

A experiência anterior na agência de comunicação foi essencial para moldar a gestão, pois permitiu conhecer a fundo os bastidores do universo de relações públicas e eventos – tanto as pressões e desafios, quanto a importância da construção de narrativas, da atenção aos detalhes e de uma comunicação bem planejada.

No que se refere à diversidade, há um compromisso sólido em promover a inclusão, dando prioridade à contratação de pessoas pretas, especialmente mulheres, e garantindo oportunidades para talentos que, muitas vezes, são negligenciados pelo mercado de trabalho.

Com uma equipe diversa, formada por mulheres pretas, mulheres e pessoas LGBTQIA+, a diversidade por lá é vista como a chave para inovação, criatividade e transformação do mercado.

Talita se transformou, inclusive, numa referência em afroempreendedorismo. Ela administra, por exemplo, o grupo de WhatsApp “Profissionais Pret@s”, que atualmente conta com mais de 160 pessoas e atua na promoção de trocas e conexões para fortalecer o movimento.

“Empreender como mulher preta é um ato de resistência e potência. Levo comigo o compromisso de valorizar nossa identidade, impulsionar negócios pretos e garantir que a diversidade seja uma prática constante, não só um discurso. Ser afroempreendedora é transformar realidades e reafirmar, todos os dias, que pertencemos a qualquer espaço que quisermos ocupar”, afirma. Além disso, é coautora de "Mulheres Extraordinárias, 2ª edição" (editora Anjo).

Planos de expansão

Este ano promete ser agitado para a 4us, que tem a perspectiva de ultrapassar os R$ 2 milhões de faturamento. Entre as iniciativas para isso, está o processo de internacionalização. Em breve, a empresária irá para o Quênia com o objetivo de estabelecer conexões estratégicas, além de buscar parcerias com a Embaixada Brasileira. “Já mapeei mais de 300 empresas lideradas por mulheres no país”, adianta.

Outro plano é o lançamento de um podcast voltado para empreendedores, que abordará os desafios da área e como superá-los, e a finalização de um curso online sobre estratégias de vendas, com uma etapa opcional de consultoria personalizada.

Talita reforça que empreender é, antes de tudo, um ato de coragem. Segundo ela, não se trata de algo fácil e o medo faz parte do processo, assim como a incerteza.

“O risco existe em qualquer caminho. Se você trabalha em uma empresa, pode ser demitida a qualquer momento. Se tem um negócio, ele pode não dar certo. A diferença está em onde você quer colocar sua energia – na dúvida ou na construção –, sempre usando o medo como um combustível e não como um freio”, finaliza.

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