A Thyssenkrupp colocou seu rentável negócio de elevadores à venda para levantar recursos necessários em outras frentes de negócio (Thilo Schmuelgen/Reuters)
Lucas Amorim
Publicado em 13 de novembro de 2019 às 11h40.
Última atualização em 13 de novembro de 2019 às 11h43.
Em maio de 2018, o investidor brasileiro Jorge Paulo Lemann reconheceu a dificuldade de seu fundo de investimentos, o 3G Capital, de lidar com um mercado de consumo em transformação. "Sou um dinossauro apavorado", afirmou. Nesta quarta-feira a declaração voltou à memória de quem acompanha de perto os negócios do 3G com a notícia de que o fundo negocia a compra da divisão de elevadores do conglomerado alemão ThyssenKrupp, num negócio de até 20 bilhões de dólares.
A oferta é um reconhecimento do 3G de que a vida está dura demais no mercado de bens de consumo? Controlado por Lemann e por seus sócios históricos, Marcel Telles e Beto Sicupira, o 3G é o fundo por trás de gigantes como a cervejaria AB Inbev e Burger King. Também detém participação na Kraft Heinz, empresa que surgiu em 2015 em uma fusão orquestrada ao lado da Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett.
A KraftHeinz é o maior desafio dos investidores, por atuar num mercado que vem sendo inundado por produtos saudáveis. A companhia chegou a valer 120 bilhões de dólares, mas após uma série de resultados ruins hoje vale apenas 40 bilhões na bolsa.
A fórmula de gestão do 3G, baseada em cortes de custos, orçamento revisado anualmente, meritocracia e muita ambição para aquisições deu certo por quatro décadas, desde a compra da cervejaria Brahma, em 1981. Este pacote continua atual, mas nos últimos anos Lemann tem reconhecido a pessoas próximas que é preciso ir além das questões financeiras e oferecer produtos inovadores para os exigentes consumidores antenados do século 21.
Neste contexto, o anúncio da oferta para entrar no mercado de elevadores surpreendeu. "Parece um negócio pensado pelo antigo GP (fundo que deu origem ao 3G). O foco não é inovação com foco no consumidor. É um setor que depende de eficiência operacional e com poucos competidores", diz um executivo que conhece os investidores.
A ThyssenKrupp, avalia outro investidor, é um negócio que se adapta ao tipo de empresa que historicamente entrou no radar de Lemann. É uma indústria madura, potencialmente muito rentável, tem uma gestão engessada, muitas oportunidades de melhoria, e dificuldade para atração de talentos. A dúvida é onde os aprendizados recentes do 3G, da importância de entender as demandas do consumidor, se aplicariam a este novo negócio.
O 3G tem pressa para gastar. No fim de 2016 a gestora capitou 10 bilhões de dólares para um novo fundo de investimentos. Desde o início do ano passado, o responsável por prospectar novos negócios é João Castro Neves, ex-AB InBev e cotado para assumir uma nova aquisição. Até agora nenhum negócio foi fechado.
Segundo a agência Bloomberg, a Thyssenkrupp colocou seu rentável negócio de elevadores à venda para levantar recursos necessários em outras frentes de negócio. Além do 3G, estão na disputa uma fabricante de elevadores, a Kone Oyj e alguns dos maiores fundos do mundo, como Blackstone, Carlyle e Advent. Em paralelo, segundo o Financial Times, a companhia avalia abrir o capital de sua unidade de elevadores.
Com negócios que vão de siderurgia à construção de submarinos, a Thyssenkrupp tem sofrido com o mau momento da economia alemã, com a guerra comercial e com uma sequência de erros de gestão. A companhia anunciou em setembro Martina Merz como sua nova presidente, após receber negativas de ex-presidentes da Daimler, da Airbus e da Bayer.
Aos 56 anos, a engenheira alemã nunca foi presidente de uma grande companhia antes e agora tem a missão de resgatar um gigante de 208 anos de história e 160.000 funcionários. Além da divisão de elevadores, a operação de componentes automotivos também pode ser vendida, segundo a Bloomberg. Onde a Thyssenkrupp vê dificuldades, investidores como o 3G veem oportunidades.
Martina Merz só pode agradecer.