Negócios

Apesar de Fies, setor de Educação vive ciclo de aquisições

A mudança inesperada nas regras de financiamento estudantil não diminuiu o apetite das instituições privadas de ensino

Livros, lápis e dólares: num espaço de 15 dias, duas compras foram anunciadas (Mukhina/Thinkstock)

Livros, lápis e dólares: num espaço de 15 dias, duas compras foram anunciadas (Mukhina/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2015 às 10h02.

São Paulo - A mudança inesperada nas regras de financiamento estudantil não diminuiu o apetite das instituições privadas de ensino por novas aquisições.

Num espaço de 15 dias, duas compras foram anunciadas: primeiro, a Cruzeiro do Sul Educacional divulgou a aquisição de duas faculdades e um colégio no litoral Norte de São Paulo.

Na terça-feira, 14, foi a vez de o fundo Advent - que fez história no ensino privado brasileiro ao investir na Kroton - anunciar que está de volta ao setor.

A gestora americana pagou, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, cerca de R$ 100 milhões por 100% da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), de Caxias do Sul.

As incertezas regulatórias que, num primeiro momento, travaram as transações, agora dão impulso à conclusão dos negócios.

"As empresas menores que estavam muito expostas ao programa federal de financiamento viraram presas fáceis para os grandes grupos", diz Carlos Monteiro, da consultoria CM, especializada em Educação, que espera o anúncio de novos negócios ainda no primeiro semestre.

A diferença dessa nova onda de aquisições no setor é que os negócios tendem a ser menores e com valores mais modestos do que os que estavam sendo negociados. A aquisição da Advent divulgada ontem já dá sinais de que os preços caíram.

O fundo americano pagou em média R$ 10 mil por aluno. Há um ano, o Grupo Anima desembolsou R$ 12 mil por estudante da São Judas.

Enquanto, em 2013, a Laureate pagou R$ 14,7 mil por aluno da paulistana FMU e a Estácio, R$ 16,2 mil por estudante da Uniseb.

"Isso já é reflexo das mudanças no Fies", diz Monteiro.

O impasse em torno do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) começou em dezembro do ano passado.

Entre outras medidas, o governo reduziu o fluxo de pagamento dos financiamentos para oito parcelas no ano em vez de quinze e também limitou o reajuste de mensalidades para alunos que participam do programa.

Na semana passada, o presidente da Estácio, Rogério Melzi, disse que o horizonte da companhia para aquisições continua "fértil", já que com o impacto causado pelo Fies no caixa das empresas, "algumas delas viriam a sofrer".

Para os fundos de private equity, que compram participações em empresas para vender no futuro com lucro, o momento é estratégico, já que o setor e o País estão "na baixa", como dizem os executivos do setor.

"Num cenário econômico mais desafiador temos de focar em setores resilientes", diz Patrick Ledoux, executivo da gestora britânica Actis, que investiu R$ 180 milhões na Cruzeiro do Sul em 2012.

Retorno

De volta ao mercado de Educação, o Advent também está em busca de oportunidades "na baixa".

Segundo o diretor, Newton Maia, a gestora procura faculdades com mais de três mil alunos e já negocia com instituições em Minas Gerais e nas regiões Norte e Nordeste, com notas 4 e 5 - que são as mais altas na avaliação do Ministério da Educação (MEC).

"As incertezas fizeram com que instituições que não consideravam fazer negócio passassem a considerar porque a situação ficou apertada com o Fies", afirma.

No ano passado, o Advent levantou um fundo de US$ 2,1 bilhão no exterior. A reportagem apurou que a gestora reservou R$ 500 milhões para empresas de Educação.

Parte desse dinheiro foi investido na Faculdade da Serra Gaúcha (FSG), que tem cerca de 10 mil alunos, a maioria na cidade de Caxias do Sul. As negociações começaram há quase cinco meses, antes ainda das mudanças no Fies.

Os sócios da JK Capital, Daniel Damiani e Salomão Garson, assessoraram os fundadores da FSG, Orlando Chemello e Julio Stelzer, na venda da instituição.

Segundo eles, as novas regras de financiamento afetaram pouco a negociação porque apenas 20% da receita da faculdade provém do Fies. "O perfil do aluno também é diferente e o impacto foi menor", disse Damiani.

Os donos vão deixar completamente o negócio de ensino superior, mas continuarão com um colégio e com o imóvel que está em construção para abrigar a sede do grupo em Caxias.

O executivo Adriano Pistore, que está à frente do negócio há três anos , será mantido no cargo pela Advent. A meta da gestora é fazer com que a instituição seja uma consolidadora na Região Sul e alcance a marca de 100 mil alunos.

O entusiasmo do Advent com o setor de Educação está na experiência de sucesso que ela teve com a Kroton: investiu R$ 280 milhões, em 2009, e multiplicou por dez esse valor, segundo estimativas de mercado. Colaboraram Dayenne Sousa e Cátia Luz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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