Negócios

Aos 28 anos, ela criou uma consultoria milionária que impulsiona startups lideradas por mulheres

Fundada por Letícia Moschioni e dois sócios, a Finscale já apoiou o crescimento de mais de 200 negócios com participação de empreendedores de todos os perfis

Letícia Moschioni, sócia da Finscale: “Hoje, cada fintech que construo com uma mulher ao meu lado é uma reparação silenciosa. Um grito de: estamos aqui, somos competentes e vamos transformar esse mercado”

Letícia Moschioni, sócia da Finscale: “Hoje, cada fintech que construo com uma mulher ao meu lado é uma reparação silenciosa. Um grito de: estamos aqui, somos competentes e vamos transformar esse mercado”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 14 de agosto de 2025 às 15h15.

Segundo pesquisa realizada pelo Distrito, das mais de 12 mil startups ativas apenas 5% foram fundadas por mulheres. O dado escancara um desequilíbrio ainda persistente no ecossistema de inovação e tecnologia. Diante desse cenário, a paulistana Letícia Moschioni, de 28 anos, não quis apenas ocupar espaço – decidiu construir pontes.

À frente da Finscale, consultoria que auxilia na criação de negócios da nova economia, tem atuado para ampliar a participação de lideranças diversas no setor, com foco no protagonismo feminino. Há, por exemplo, iniciativas como o Fintech para Elas, que oferece mentorias, conteúdos e conexões. Internamente, lidera uma equipe formada exclusivamente por mulheres.

“Durante muito tempo, fui a única mulher na sala. A mais nova, a menos ouvida. Já me chamaram de ‘a menininha do atendimento’, que fazia o que ninguém queria: ir ao correio, receber clientes, atender telefone. Transformar essa dor em propósito foi o que me trouxe até aqui”, afirma. Ela reforça que nunca viu essas tarefas como menores – pelo contrário, aproveitava cada oportunidade para entender o funcionamento completo de uma companhia. “Minha avó costumava dizer: tudo na vida tem um lado bom. Encontre-o.”

A empresa, fundada ao lado de Callebe Mendes e Raphael Monteiro Lopes, já impulsionou mais de 200 startups e projeta expandir esse número até o fim do ano. A perspectiva é encerrar 2025 com faturamento de R$ 6 milhões, um salto de 700% em relação aos R$ 750 mil registrados no ano anterior. Apenas entre janeiro e julho deste ano, já faturou cerca de R$ 2 milhões.

Do desconforto à ação

A trajetória profissional de Letícia começou na adolescência, quando deixou o Brasil para um intercâmbio. Nesse período, além de estudar, trabalhou como garçonete e diarista. “Sempre tive urgência em conquistar minha liberdade financeira, emocional e profissional. Cresci ouvindo da minha família que trabalho é sinônimo de dignidade, não importa onde ou como. Entendi que nenhuma função é pequena quando se tem um propósito.”

De volta ao país, cursou Administração e iniciou a carreira na Mobile2you, onde passou de estagiária a sócia, atuando em projetos de companhias como Bradesco e Boticário. Após a venda da empresa para a Dimensa – joint venture entre TOTVS e B3 –, migrou para o time da nova companhia. Também passou pela BaaS2U, liderando áreas de produto e operações com foco na construção de fintechs.

Apesar de o regime CLT ter sido importante por trazer estrutura, disciplina e visão de processos, com o tempo, ela sentiu que suas ideias e o desejo de gerar impacto social e econômico exigiam mais autonomia. “A inovação era travada e o tempo de execução lento demais diante do que eu acreditava ser necessário para transformar realidades.”
O incômodo também era cultural: o mercado de fintechs, ainda dominado por homens e perfis técnicos, parecia inacessível para muitos. “Vi a oportunidade de abrir espaço tanto para mulheres, quanto para pessoas que não se viam representadas no setor. Hoje, meu papel tem sido mostrar que esse universo é acessível e possível a todos.”

Empreendedorismo com propósito

A bagagem do mundo corporativo ajudou a moldar a estratégia da Finscale. Ao acompanhar o desenvolvimento de produtos e soluções, Letícia notou um padrão: ideias promissoras sendo lançadas com pouco ou nenhum foco no cliente final. “Percebi que o problema não era falta de inovação, mas de estratégia.”

Com base nisso, a consultoria foi desenhada para apoiar na criação de produtos financeiros com propósito e impacto mensurável. Em vez de soluções prontas, entrega direcionamento, validação de ideias e construção de modelos sustentáveis. O portfólio inclui programas de formação, aconselhamento estratégico contínuo, gestão executiva via modelo Fintech Head as a Service, e uma comunidade ativa de fundadores e líderes. Já o modelo de receita combina recorrência com geração de resultados, o que garante crescimento e aumento do valuation.

Rede, cultura e coragem de testar

Na visão da empresária, o crescimento acelerado da empresa se sustenta em quatro pilares: confiança entre os fundadores, troca com especialistas, cultura de intraempreendedorismo e coragem para testar. O Finscale Club, por exemplo, surgiu em julho do ano passado como um MVP baseado em uma hipótese: será que profissionais pagariam por uma consultoria mais leve, com aconselhamento estratégico? “Testamos, ajustamos, erramos e acertamos. Atualmente, o produto é mais robusto, estruturado e eficaz, funcionando como uma comunidade premium. Mas só chegamos até aqui porque não tivemos medo de começar pequeno e evoluir com base em feedbacks.”

Entre acertos, erros e vulnerabilidade

A jornada, no entanto, não foi imune a desafios. Um deles foi aprender a liderar. “Não se trata apenas de delegar: é gerir pessoas, seus sonhos e expectativas. Construir um time alinhado à cultura da companhia, mas também à sua própria missão de vida. E isso exige tempo, energia e disposição para ser vulnerável.”

Apesar de ter buscado cursos e mentorias, destaca que a maior escola foi – e ainda é – o contato direto com os clientes, assim como as decisões difíceis do dia a dia e os erros ao longo do caminho. “Cada fase traz novos desafios: crescer, escalar, se expor”, diz. Também ressalta a dificuldade de equilibrar todos os ‘pratinhos’. “Quando você vê um negócio nascer, quer proteger, cuidar – e muitas vezes esquece de olhar para si. Com o tempo, entendi que era preciso construir um modelo sustentável não só financeiramente, mas também emocionalmente.”

Para Letícia, a transformação do mercado passa, inevitavelmente, por mais mulheres em posições de decisão. “Hoje, cada fintech que construo com uma mulher ao meu lado é uma reparação silenciosa. Um grito de: estamos aqui, somos competentes e vamos transformar esse mercado”, finaliza.

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