Fabio Carrara, da Solfácil: a guerra da Ucrânia abriu os olhos do mundo para uma transição rápida a fontes alternativas de energia — e para os negócios capazes de fazer isso (Divulgação/Divulgação)
Leo Branco
Publicado em 22 de setembro de 2022 às 10h00.
A fintech Solfácil, do empreendedor paulista Fabio Carrara, anunciou nesta terça-feira um follow-on de 30 milhões de dólares, o equivalente a 157 milhões de reais.
O aporte é liderado pelo fundo global Fifth Wall, dedicado a negócios de tecnologia focados no mercado imobiliário. No Brasil, a Fifth Wall investiu na Loft.
A entrada da Fifth Wall, que recentemente abriu um veículo de investimento dedicado a climate techs, complementa o aporte Série C de 100 milhões de dólares recebido pela Solfácil em maio deste ano.
Na ocasião, a fintech paulistana recebeu pela primeira vez recursos do mega fundo global Softbank. Entraram na rodada também VEF e Valor Capital Group, que já haviam participado de captações anteriores da Solfácil.
O que explica tamanho alvoroço dos investidores sobre a fintech num momento de cheques mais magros no venture capital?
Para Carrara, uma parte da resposta está no despertar global para fontes renováveis (e seguras) de energia num contexto de escassez.
A guerra na Ucrânia motivou sanções econômicas à Rússia, praticamente proibida de vender petróleo aos países do Ocidente. Em retaliação, o governo de Vladimir Putin cortou o gás vendido aos países europeus.
Tudo isso elevou os preços de gás e petróleo mundo afora e abriu os olhos de investidores para negócios de energias alternativas como a Solfácil.
"O mundo percebeu que precisa fazer uma transição rápida a fontes sustentáveis de energia", diz Carrara.
"Tudo isso no meio de um cenário de custo do dinheiro mais caro, e de valuations mais baixos, acabou nos favorecendo. A gente conseguiu negociar com fundos mantendo as mesmas condições de quando o mercado estava aquecido para deals desse tipo."
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A boa execução do plano de expansão da Solfácil também contribuiu para o follow-on ter saído agora, diz Carrara.
A Solfácil foi aberta em 2018 como uma financiadora de recursos aos integradores de energia solar, profissionais responsáveis por instalar kits de painéis solares na residência de pessoas interessadas em economias na conta de luz.
Para isso, a Solfácil capta recursos no mercado via FIDCs, fundos de investimento com condições de liquidez e de juros melhores ao usual visto nos bancos.
Foi um filão: em quatro anos foram mais de 1,5 bilhão de reais em empréstimos para 10.000 integradores de 27 estados.
Do ano passado para cá, a Solfácil expandiu o negócio para cinco novas frentes:
A chegada da Fifth Wall abre caminho para colaborações com outras empresas de tecnologia investidas pelo fundo. No radar estão parcerias com a americana Aurora, desenvolvedora de tecnologia para monitoramento de vendas de paineis solares, e também parte do portfólio da Fifth Wall.
A visão de Carrara é a de que o Brasil deve se tornar o maior mercado de geração distribuída, atrás da China, superando os Estados Unidos, Alemanha e Austrália.
O país abriga quase 60% da floresta Amazônica e sente o impacto das mudanças climáticas, com a pior seca em quase um século, ameaçando a cadeia de fornecimento da energia elétrica e tornando a tarifa a segunda mais cara do mundo.
"Hoje, a penetração é de apenas 1% em um país de insolação o ano todo e custo de instalação bastante competitivo para sistemas solares. O Brasil será, definitivamente, a maior referência mundial na descentralização da produção de energia elétrica e a Solfácil quer estar na liderança deste movimento", diz.
O tom de otimismo é o mesmo do Fifth Wall. "Acreditamos que o Brasil é o mercado solar mais atraente do mundo, graças ao seu alto nível de insolação durante todo o ano e aos custos de instalação muito competitivos para sistemas solares", comenta Peter Gadjoš, sócio e co-líder da equipe Climate da Fifth Wall.
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