Outdoors em Nova York (Arturo Holmes/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 4 de julho de 2023 às 18h17.
Durante um passeio pelas mídias sociais, um anúncio aparece:
“Esse exercício de 17 minutos vai te fazer atingir a fluência operacional em tempo recorde sem nunca precisar assistir uma aula de inglês sequer.”
Sou tomado pela inquietude dos inúmeros deslizes gramaticais da mensagem. Ela, que tem a pretensão de zelar pelo aprendizado, ainda guarda na semântica a tórrida pretensão em ensinar com uma velocidade à Usain Bolt.
Os olímpicos, em língua ou outras atividades, dedicam-se horas, anos e vida para adquirirem habilidades. Se não assim fosse, qualquer um poderia ser, em minutos, medalhistas. Ira à parte, é melhor corrigir.
Anúncios em desleixo cansam e são deselegantes. Se o pronome demonstrativo estivesse em acordo, seria o “este”: apontar para uma ideia que ainda não foi exposta. O pronome oblíquo “te”, relativo à segunda pessoa, demanda que a mensagem seja também construída em segunda pessoa: “Este exercício vai fazer-te, para que nunca mais assistas a...”
Sob o aspecto da semântica, ou seja, do sentido, que diabo é “fluência operacional”? Operada, pois, deve ser a sentença, pouco persuasiva, para quem busca o deleite de dominar a língua.
Uma pergunta: quererá alguém falar com fluência, sem assistir a aulas? Vale recordar, em tempo recorde (perdão pelo irônico quase pleonasmo), que o assistir – no sentido de ver – é transitivo indireto; logo, exige a preposição.
Melancólico, mas na boa causa de produzir este texto, tive que rever a mensagem. Pensei em Drummond e como ele faria – em tempo recorde – um poema do caos diante dessa linhagem de anúncios: “No meio do Instagram, tinha uma pedra...”
É hora de recolher-me, ainda mais sabendo que inteligências artificiais já conquistam poliglotas do sensacional e são um risco à vida de tantos idólatras do raso. Lamaçal!
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