Lixo eletrônico: projeção do Ministério do Meio Ambiente é de que 400 cidades brasileiras contem com o serviço logístico até 2025 (JBS/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 09h00.
Até abril deste ano, as nove capitais dos estados que integram a Amazônia Legal vão contar com um aliado contra a poluição: um sistema de logística reversa específico para lixo eletrônico. O objetivo é proteger a região que abriga a maior floresta tropical do mundo dos danos causados pelo descarte incorreto desse tipo de resíduo, que contamina solo, rios e lençóis freáticos com metais pesados.
Para isso, a iniciativa prevê que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes desses produtos mantenham o esquema de coleta dos materiais em parceria com estados, municípios e associações de recicláveis.
Dessa forma, após o consumo, a população poderá devolver às empresas os equipamentos para que sejam reutilizados, reciclados ou tenham outra destinação final ambientalmente adequada.
A medida colabora para evitar o descarte de aparelhos como celulares, televisores, computadores, eletrodomésticos em geral, fones de ouvido, lâmpadas, pilhas, baterias e uma série de outros itens.
O sistema de logística reversa foi normatizado em 2020, na esfera do programa Lixão Zero, do Ministério do Meio Ambiente, projeto que já fechou nos últimos dois anos quase 650 lixões, uma das estratégias do país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). O plano é que 400 cidades contem com o serviço logístico até 2025.
Um exemplo bem-sucedido do funcionamento do sistema é o das latas de alumínio. O Brasil bateu recorde em 2020: reciclou 31,16 bilhões de latinhas, o que representa 97,4% do total que entrou no mercado.
Ações assim são um passo importante para avançar na construção de uma economia circular, mas ainda há muito o que ser feito na redução desse tipo de resíduo. Mais de 53 milhões de toneladas de produtos eletroeletrônicos e pilhas são descartadas anualmente em todo o mundo, segundo o The Global E-waste Monitor 2020.
Apenas 17,4% dessa quantidade é reciclada. O restante vai parar em aterros, colocando em risco o fornecimento de alimentos, os recursos hídricos e a saúde de quem recolhe informalmente esses materiais que contêm substâncias tóxicas.
Enquanto isso, na outra ponta, o número de dispositivos cresce cerca de 4% ao ano globalmente. E espera-se que esse crescimento continue, já que é cada vez maior o uso de aparelhos eletrônicos, assim como sua capacidade de se tornarem obsoletos.
Caso as tendências atuais permaneçam, a estimativa é de que a geração mundial desse resíduo chegue a 120 milhões de toneladas anuais em 2050, conforme relatório da Plataforma para Aceleração da Economia Circular (PACE) e da Coalizão das Nações Unidas sobre Lixo Eletrônico.
A coleta e a reciclagem apropriadas desses materiais são essenciais não só para proteger o solo, a água e a saúde humana, mas também para reduzir as emissões de GEE, certamente uma das maiores emergências da atualidade.
O The Global E-waste constatou que os 17,4% de lixo eletrônico devidamente coletado e reciclado em 2019, ano da última medição, já foram capazes de evitar a emissão de até 15 milhões de toneladas de CO2 equivalente no meio ambiente.
A má gestão desse lixo resulta ainda em uma perda considerável de materiais brutos escassos e valiosos, como ouro, platina, cobalto e outros elementos raros. De acordo com a ONU, até 7% do ouro do planeta podem atualmente estar em lixo eletrônico, com 100 vezes mais ouro em uma tonelada de lixo do que em uma tonelada de minério de ouro.
O Brasil é o quinto maior produtor de lixo eletrônico no mundo. Somente em 2019, descartamos mais de 2 milhões de toneladas de resíduos desse tipo. E lamentavelmente menos de 3% do montante foram reciclados.
A desinformação tem peso importante nesses números: muitos brasileiros não sabem sequer o que é lixo eletrônico e desconhecem os riscos do descarte incorreto, como apontou a pesquisa Resíduos Eletrônicos no Brasil 2021, divulgada pela Green Eletron, gestora sem fins lucrativos de logística reversa de eletroeletrônicos e pilhas.
Para se ter uma ideia, embora a maioria já tenha ouvido esse termo, um terço dos entrevistados (33%) acha que lixo eletrônico está relacionado ao meio digital, como spam, e-mails, fotos ou arquivos.
E boa parte não reconhece quais produtos são lixo eletrônico. Para 51%, por exemplo, lâmpadas comuns, incandescentes e fluorescentes não entram nessa categoria, assim como balanças (37%) e lanternas (34%) – itens que, na verdade, são todos resíduos eletrônicos e requerem descarte correto.