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Amazon apoia protestos nos EUA e ativistas questionam laços com a polícia

A Amazon Web Services, braço de tecnologia na nuvem da companhia, vende softwares de reconhecimento facial e inteligência artificial para policiais

Protestos contra morte de George Floyd em 2 de junho de 2020. (Spencer Platt/Getty Images)

Protestos contra morte de George Floyd em 2 de junho de 2020. (Spencer Platt/Getty Images)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 3 de junho de 2020 às 10h40.

A Amazon lançou um comunicado contra o tratamento brutal de negros americanos, em resposta aos protestos contra racismo e violência policial nos Estados Unidos. Os protestos, que ocorrem há dias, estouraram após o caso George Floyd, um homem negro morto por policiais brancos na última semana em Minneapolis (Minnesota). 

"O tratamento desigual e brutal de pessoas negras no nosso país deve acabar. Juntos nos solidarizamos com a comunidade negra - nossos funcionários, consumidores e parceiros - na luta contra o racismo sistêmico e injustiça", diz o comunicado, divulgado pela conta do Twitter da varejista e gigante de tecnologia.

O comunicado não foi bem acolhido por grupos de funcionários ativistas da Amazon. Em resposta, o grupo "Amazonians: we won't build it" questionou a varejista sobre seus laços com as forças policiais e perguntou quantos contratos foram cortados por conta dos protestos.

A Amazon Web Services, braço de tecnologia na nuvem da companhia, vende softwares de reconhecimento facial e inteligência artificial para agências policiais.

Além das preocupações com a segurança e privacidade das pessoas, o software, chamado de Rekognition, também é criticado por ser mais perigoso para pessoas negras, já que a tecnologia não distingue bem traços e cores de pele mais escuras. Em fevereiro, o diretor da AWS disse ao Business Insider que não sabia quantos policiais já usavam o software. 

Outro produto da Amazon usado por forças policiais é o Ring, uma campainha com uma câmera que está em milhares de casas americanas. A Ring foi adquirida em 2018 pela Amazon e trabalha junto com policiais, para criar um sistema de vigilância por vídeo. Com a parceria, policiais podem requisitar as gravações feitas pela câmera e até recebem alguns dispositivos gratuitos, que podem distribuir em suas comunidades. 

Crescimento com a crise

A Amazon mantém seu valor de mercado em níveis recordes, perto de 1,2 trilhão de dólares, alta de 30% desde o início do ano.

A companhia anunciou 75,5 bilhões de dólares em faturamento no primeiro trimestre do ano, 26% a mais do que no mesmo período do ano passado. O presidente e fundador Jeff Bezos ganhou mais de 34 bilhões de dólares desde o início do ano e será a primeira pessoa no planeta a ter uma fortuna superior a 150 bilhões de dólares - hoje o valor está em 149 bilhões de dólares, segundo a Bloomberg. 

A empresa diz que irá destinar todos os seus lucros do segundo trimestre, que devem ser de 4 bilhões de dólares, para a luta contra o novo coronavírus. A AWS, sua unidade de computação em nuvem, em que se sustenta boa parte da internet, também é um elemento-chave nesta crise, já que cada vez mais pessoas e empresas trabalham on-line.

Cuidado com funcionários

Os laços com forças policiais não são a única fonte de críticas contra a Amazon. A gigante varejista está retirando o bônus de dois dólares por hora que estava sendo pago aos funcionários de seus centros de distribuição. 

A empresa de comércio eletrônico havia anunciado o bônus temporário no início da crise do coronavírus, quando começou a ter dificuldades para atender ao súbito aumento das compras em sua plataforma. O pagamento adicional era um incentivo para os funcionários da logística e já estava planejado para terminar ao final de maio.

Em abril, a Amazon também havia permitido que os funcionários de grupos de risco ou que não se sentissem seguros para trabalhar tirassem uma licença de tempo indefinido. Há cerca de duas semanas, o vice-presidente das operações globais, Dave Clark, havia dito que estenderia o benefício apenas até o fim do mês.

A Amazon já enfrentava críticas sobre a falta de segurança em alguns de seus centros de distribuição, com a contaminação de pelo menos 600 funcionários com o novo coronavírus apenas nos Estados Unidos. Em abril, centenas de funcionários entraram em greve por uma semana para protestar contra as condições de trabalho e pedir que a varejista fechasse os centros de distribuição em que havia casos confirmados da doença.

A empresa afirma que o bônus aos trabalhadores, bem como outras medidas de proteção a funcionários, irão custar 700 milhões de dólares. A Amazon irá distribuir mais de 100 milhões de máscaras, 31.000 termômetros, 93 milhões de frascos de álcool em gel e lenços de limpeza, além de construir quase 2.300 estações para higienização das mãos.

Os Estados Unidos são o país com mais casos globais de coronavírus, com 1,8 milhão de casos confirmados e 106.181 mortes, segundo a universidade Johns Hopkins.

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