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Publicado em 12 de novembro de 2025 às 16h57.
Última atualização em 12 de novembro de 2025 às 17h29.
Há um cenário preocupante na educação de jovens e adultos no Brasil. Mais de 47 milhões de brasileiros com 25 anos ou mais ainda não concluíram a educação básica, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2022. Ao mesmo tempo, o Censo Escolar 2024 revela que a Educação de Jovens e Adultos (EJA) registrou o menor número de matrículas da história, com apenas 2,4 milhões de inscrições.
Apesar desse cenário, iniciativas como o Projeto Aprender, da Escola Bilíngue Pueri Domus, em São Paulo, buscam reverter essa realidade. Criado há 20 anos, o projeto oferece aulas de alfabetização para adultos, com foco em moradores da comunidade e funcionários da escola. Mas com uma diferença importante: são os próprios alunos do ensino médio que coordenam e ministram as aulas.
Toda semana, no período noturno, os estudantes dedicam-se ao ensino de adultos, com turmas que variam entre aulas presenciais e online. Atualmente, o projeto conta com 12 salas de aula, com nove turmas de inglês e outras focadas na alfabetização em português, com um total aproximado de 24 professores — todos estudantes.
As turmas são selecionadas através de um processo de sondagem, em que os alunos interessados são entrevistados para entender suas necessidades e níveis de aprendizagem. A prioridade é dada aos funcionários da escola e aos moradores da comunidade local, embora também haja vagas para o público externo.
As aulas de inglês e alfabetização são ministradas por grupos de dois a três alunos em cada sala, com a supervisão de coordenadores, que garantem a continuidade do ensino e a adaptação do conteúdo às necessidades dos alunos.
O professor Felipe Dias de Menezes, responsável pela supervisão do projeto, destaca a importância de iniciativas como essa na formação de cidadãos conscientes. Para ele, o projeto vai além do ensino de idiomas e alfabetização: é um exercício de empatia e responsabilidade social, especialmente em uma escola de elite.
"A escola tem um papel fundamental em abrir os olhos dos alunos para realidades diferentes das suas, quebrando a bolha social e ampliando seu entendimento sobre as questões sociais", diz Felipe.
Ele acredita que, ao ensinar adultos, os estudantes do ensino médio vivenciam uma experiência transformadora, que não só os prepara para o mercado de trabalho, mas também os prepara para se tornarem líderes mais conscientes e comprometidos com o bem-estar coletivo.
Os alunos que participam como professores garantem transformações significativas, tanto no aspecto acadêmico quanto pessoal.
Giovanna Terzi, aluna de 17 anos e coordenadora do projeto, diz que o envolvimento no projeto a fez perceber a verdadeira importância da educação e do voluntariado. "Eu sempre me senti apaixonada por ensinar, mas o que mudou em mim foi perceber que, através desse projeto, estou ajudando a transformar vidas”, revela.
“A responsabilidade que sentimos ao ensinar alguém a ler e escrever é imensa. Para o aluno, é uma mudança de perspectiva. Para mim, é um aprendizado contínuo”, afirma Giovanna.
Lucca Famá, aluno de 17 anos e também coordenador, vê sua participação como uma chance de amadurecer e compreender melhor as dificuldades e realidades de pessoas que não compartilham o mesmo contexto social. "Ensinar nos coloca em contato com histórias de vida que nos transformam", diz ele.
Amanda Pires Noronha, de 16 anos, que também começou como professora de alfabetização, percebe o impacto direto do seu trabalho na vida de seus alunos.
“Quando ensino, não estou apenas passando conhecimento. Estou ajudando alguém a se inserir na sociedade de forma mais ativa, a ter acesso a mais oportunidades. Isso me motiva todos os dias”, conta ela.
Em 2023, o Projeto Aprender foi premiado pelo Global Youth Action Fund, do International Baccalaureate, recebendo US$ 3 mil dólares para impulsionar sua continuidade e expansão.
Para os próximos anos, os alunos planejam expandir as turmas e abrir novas frentes de atuação. Em breve, o projeto também pretende incluir mais áreas de conhecimento e explorar novas metodologias de ensino, mantendo o foco no impacto social.
A equipe de coordenação já está trabalhando para garantir a continuidade das atividades, mesmo com a saída dos alunos mais experientes que se formam a cada ano.
Felipe destaca que o projeto não é apenas sobre ensinar, mas também sobre aprender com o outro. "Ele nos ensina o verdadeiro valor da educação e da solidariedade. Ao dar, também recebemos. E isso forma um ciclo que se perpetua."