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Aluno de 17 anos do Dante cria robô que pode agilizar resgates em incêndios urbanos usando IA

Robô de seis patas capaz de entrar em prédios em chamas para localizar vítimas e mapear focos de incêndio está 75% concluído e pode ficar pronto até o fim do ano

Heitor Santos Garcia, 17, criou um robô para auxiliar bombeiros em incêndios urbanos (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)

Heitor Santos Garcia, 17, criou um robô para auxiliar bombeiros em incêndios urbanos (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)

Guilherme Santiago
Guilherme Santiago

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Publicado em 21 de outubro de 2025 às 12h00.

Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 12h12.

O Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, é conhecido por sua tradição acadêmica. Mas, nos laboratórios da escola, um projeto vem chamando a atenção pela ousadia: um robô de seis patas capaz de entrar em prédios em chamas para localizar vítimas e mapear focos de incêndio antes da chegada dos bombeiros ao local mais perigoso.

O autor da ideia é Heitor Santos Garcia, de 17 anos, aluno do 3º ano do ensino médio, que há cinco anos se dedica ao projeto. Ele conta que a ideia surgiu de uma inquietação pessoal. “Eu passei por dois incêndios no meu prédio. E muitos amigos do meu pai são bombeiros”, explica. “Quando fui pesquisar sobre o assunto, descobri que, no ano passado, aconteceram mais de 7 mil incêndios no estado de São Paulo”, revela.

Foi a partir dessa constatação que nasceu o projeto. A proposta é que o robô seja capaz de atuar nos primeiros 45 minutos de um incêndio – a fase mais crítica – para localizar vítimas e orientar o resgate. 

Wayner Klën, doutorando em física no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e professor do Dante, é quem orienta o projeto de Heitor. Segundo o professor, a expectativa é que a versão operacional do robô esteja pronta até o final de 2025.

Professor Wayner Klën orienta o desenvolvimento do robô desde o início (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)

O inseto que inspirou a solução

Para desenvolver o robô, Heitor buscou inspiração em dois animais: a cobra e a formiga. Comparou-os em aspectos como versatilidade, movimentação e tolerância a danos – e a formiga saiu vencedora.

Segundo ele, reproduzir uma estrutura semelhante ao corpo desse inseto traz diversas vantagens. Trata-se de um animal pequeno, leve e estável mesmo em terrenos irregulares. Além disso, sua anatomia permite continuar operando mesmo após a perda de membros, já que protege melhor os componentes internos.

“Sobre essa estrutura, você adiciona a parte lógica de controle e monitoramento do robô”, explica o professor.

Além da estrutura, outro grande desafio era fazer o robô operar em temperaturas extremas. Para testar o isolamento térmico, Heitor realizou experimentos em fornos de laboratório até chegar à configuração ideal.

Robô é capaz de suportar altas temperaturas e mapear locais com câmeras térmicas (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)

O protótipo é formado por uma caixa de fibra de carbono resistente, revestida com lã de rocha e fita especial. Sensores de temperatura monitoram em tempo real as variações térmicas, indicando por quanto tempo o robô pode funcionar antes de superaquecer.

Ainda assim, há espaço para aprimoramentos. O próximo passo é incorporar um sistema de refrigeração. “O desafio é desenvolver um circuito que mantenha a temperatura segura para os componentes eletrônicos, mesmo sob calor intenso”, explica Klën. A solução em estudo combina alumínio, água gelada e gelo seco para resfriar as placas internas.

Quando a tecnologia vê o que o olho humano não alcança

Além de suportar o calor, o robô será equipado com câmeras térmicas e inteligência artificial para identificar pessoas e rotas de fuga. “A ideia é que ele envie imagens em tempo real para os bombeiros e monte um mapa virtual do local”, diz Heitor.

Enquanto um operador acompanha tudo a distância, a IA reconhece silhuetas humanas e sinaliza pontos de interesse. Assim, os bombeiros podem decidir o caminho mais seguro antes de entrar.

"Em um incêndio, 5 ou 10 minutos podem fazer toda a diferença. Por isso pensamos em usar vários robôs ao mesmo tempo, agindo em equipe"Heitor Santos Garcia, aluno de 17 anos do Colégio Dante Alighieri

Custo acessível 

Hoje, os bombeiros contam com câmeras térmicas manuais, que são caras e exigem que o profissional entre no ambiente. O robô poderia atuar como um primeiro explorador, reduzindo riscos e ganhando tempo.

Apesar da complexidade técnica, o projeto de Heitor tem custo relativamente baixo: entre R$ 1,2 mil e R$ 1,6 mil. Peças como motores e placas de controle representam a maior parte do valor, mas podem ser substituídas com facilidade. “Se uma perna quebrar, ele continua funcionando. Essa é a vantagem do design inspirado na formiga”, explica.

Projeto do Colégio Dante Alighieri conecta ciência escolar a desafios do mundo real (Paulo Santos/Colégio Dante Alighieri)

Para o professor, a importância do projeto vai além da inovação tecnológica. “É muito importante que o conteúdo da escola tenha conexão com o mundo real”, diz Klën. “Projetos como o do Heitor trazem problemas concretos e mostram a energia dos jovens para buscar soluções. É magnífico ver isso acontecer dentro de uma escola.

Próximos passos

O robô tem cerca de 75% das etapas concluídas. A próxima fase é integrar os sistemas – isolamento, refrigeração, locomoção e visão computacional – em um protótipo totalmente funcional. Depois disso, a equipe pretende apresentar o robô em simulações do Corpo de Bombeiros, antes de testá-lo em situações reais.

Ainda não há data definida para os testes, mas o professor espera que a versão operacional fique pronta até o fim do ano. “Quando isso acontecer, teremos um robô escolar com potencial real de salvar vidas. E isso, por si só, já é uma grande vitória.”

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