Negócios

Alexandre Grendene briga na Justiça por ações da Beira Rio

O motivo da briga é a doação de ações feita pela Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti. A empresa doou para papéis equivalentes a 28% do capital da companhia


	Campanha publicitária da Melissa, marca da Grendene. O motivo da briga é a doação de ações feita pela Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti. A empresa doou para papéis equivalentes a 28% do capital da companhia
 (Divulgação)

Campanha publicitária da Melissa, marca da Grendene. O motivo da briga é a doação de ações feita pela Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti. A empresa doou para papéis equivalentes a 28% do capital da companhia (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2015 às 08h56.

São Paulo - Dois dos maiores empresários do setor calçadista no Brasil estão travando uma disputa na Justiça do Rio Grande do Sul. Alexandre Grendene, dono da Grendene (conhecida pelas sandálias Melissa e Ipanema), está processando a Calçados Beira Rio (das marcas Vizzano e Moleca), da qual também é sócio.

O motivo do processo é uma doação de ações feita pela Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti. A empresa doou para a instituição papéis equivalentes a 28% do capital da companhia que estavam em tesouraria - ou seja, tinham sido comprados com dinheiro proveniente do negócio e não de um acionista.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Grendene informou que o processo quer a reincorporação das ações à companhia, já que a Lei das S.A.s, categoria na qual a Beira Rio é classificada, não permite a doação de bens corporativos a terceiros. "Eu não quero brigar com ninguém, só quero minhas ações de volta", disse o empresário.

Grendene - que é irmão gêmeo de Pedro, controlador da Vulcabrás - é sócio da Beira Rio há mais de uma década, com 12% do negócio. Com as ações em tesouraria, os cálculos dos advogados são de que sua participação no negócio subiria para aproximadamente 16%.

Segundo o processo, a doação à fundação ocorreu em 27 de dezembro de 2013, e a operação não foi claramente explicitada no balanço. Por ser empresa de capital fechado, a Beira Rio só precisa publicar seus resultados uma vez por ano.

Para a fundação, que se autodefine, em seu website, como uma entidade de "pesquisa científica, humanista, cultural e educacional", foram repassadas ações que somam mais de um quarto do capital da Beira Rio - fabricante de calçados femininos que faturou quase R$ 1,5 bilhão em 2014.

O acionista controlador da Beira Rio, Roberto Argenta, já foi presidente da instituição. Segundo fontes do mercado, é um entusiasta da ontopsicologia, definida no site da fundação como a "ciência mais recente entre as ciências contemporâneas", "que tem por objeto de estudo a análise da atividade psíquica do homem".

Por enquanto, não existe nenhuma decisão de mérito sobre o caso, segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo. No entanto, há duas liminares que, na prática, suspendem a doação das ações com base na Lei das S.As.

As liminares são válidas tanto na primeira instância quanto no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) e suspendem efeitos das assembleias de acionistas que autorizaram o repasse dos papéis da Beira Rio à Fundação Antonio Meneghetti.

O processo alega ainda que Grendene não foi informado do conteúdo das reuniões e que só conseguiu entender que as ações em tesouraria tinham sido doadas depois de pedir o arresto de documentos da empresa.

"O problema maior foi por causa de como tudo foi feito, de uma forma para que passasse despercebido", disse Grendene. "Faltou transparência."

Embora a Beira Rio não seja uma empresa muito conhecida do público - até porque pouco aparece na mídia -, Alexandre Grendene diz que o negócio é bem administrado e bastante relevante no meio calçadista. "Hoje, existem três grandes empresas relevantes no setor calçadista brasileiro: Alpargatas, Grendene e Beira Rio."

Relação

Empresa 100% familiar até a década passada, a Beira Rio pertencia somente à família Argenta. Segundo Grendene, foi o próprio Roberto Argenta, alvo do processo atual, que o procurou para comprar parte da empresa quando seu irmão, Renato, separou-se da mulher.

Nessa ocasião, Grendene comprou os 12% do negócio que seriam de direito da ex-cunhada do atual controlador, enquanto os 3% restantes ficaram com advogados. Posteriormente, Roberto comprou as ações que pertenciam ao irmão.

Conhecida pela estrutura de baixo custo, a Beira Rio se tornou uma referência em calçados femininos no Brasil. Segundo fontes de mercado, a empresa conseguiu crescer dois dígitos por ano mesmo em um cenário em que muitas fábricas eram derrubadas pela concorrência chinesa.

Metas agressivas são apresentadas aos funcionários ano após ano - e, na maior parte das vezes, cumpridas.

O próprio Alexandre Grendene diz não ter reclamações nesse sentido: "A Beira Rio sempre teve um lucro bom e eu torço para que ela vá cada vez melhor. Eu nunca me envolvi (na administração), só quero os meus dividendos integrais".

Procurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Beira Rio não quis conceder entrevista nem se pronunciar sobre o processo movido por Alexandre Grendene. 

Acompanhe tudo sobre:CalçadosEmpresasGrendeneJustiçaRoupas

Mais de Negócios

Maria Isabel Antonini assume como CEO do G4 Educação no lugar de Tallis Gomes

Elon Musk ou Steve Jobs? Responda perguntas e veja qual seu estilo de inovação

De vencedora a vencida: o que a queda da Blockbuster para Netflix revela sobre liderança e inovação

Ele transformou a empresa num "grande laboratório de testes". Hoje, faz R$ 217 milhões e mira o IPO