Takaaki Nishii: "O Brasil é o 3º (negócio) fora da matriz, atrás de EUA e Tailândia, e representa hoje cerca de 10% do negócio global" (REUTERS/Thomas Peter)
Luísa Granato
Publicado em 26 de outubro de 2016 às 18h43.
Última atualização em 26 de outubro de 2016 às 19h01.
Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google Play.
O japonês Takaaki Nishii presidente mundial da Ajinomoto, comanda um conglomerado improvável - seu principal produto é um realçador de sabor à base de glutamato monossódico.
Mas, além dele, a Ajinomoto fabrica de sucos a aminoácidos usados em cosméticos e remédios. Nishii foi presidente da unidade brasileira, entre 2013 e 2015, e deixou a operação com ótimos resultados, mesmo em tempos de crise.
A receita brasileira da Ajinomoto em 2015 somou 2,3 bilhões de reais, 13,3% maior que no ano anterior. Para 2016, a expectativa é crescer 16,6%.
Hoje, a operação brasileira representa 10% do negócio global da Ajinomoto, com operação em 27 países, 125 fábricas e 33.000 funcionários no mundo todo. Por aqui, a empresa vende sopas, temperos e outros produtos.
No mundo, o grupo faturou 9,9 bilhões de dólares no último ano, uma alta de 17,8%. No Brasil, o cenário é promissor: a empresa planeja entrar no ramo de congelados e começou a vender suplementos esportivos.
Em entrevista a EXAME Hoje, Takaaki Nishii falou sobre as expectativas da empresa em relação ao Brasil e a singularidade de seus consumidores: com exceção do realçador, todos os produtos comercializados aqui foram desenvolvidos especialmente para o mercado nacional.
Em 2016, a Ajinomoto completou 60 anos no Brasil. Qual a importância do mercado brasileiro para o grupo e qual o potencial de crescimento?
O Japão ainda é o principal negócio do grupo. O Brasil é o terceiro fora da matriz, atrás de EUA e Tailândia, e representa hoje cerca de 10% do negócio global. Acredito, contudo, no potencial do Brasil de ultrapassar a Tailândia nos próximos anos.
Lá, os mercados de pratos congelados e café já estão consolidados e, no Brasil, ainda nem entramos nesses segmentos. Não sabemos se entraremos nos congelados por aquisições ou se abriremos a frente de negócio nós mesmos – analisamos negócios locais constantemente, mas ainda não encontramos o que queremos.
No segmento de food service, que atende restaurantes, o Brasil já está na frente da Tailândia – e esse ramo representa apenas 4% do faturamento nacional. Estamos aumentando o portfólio. Nosso objetivo é estar entre as 10 maiores empresas do mundo no segmento alimentício.
É uma meta desafiadora e esperamos que o Brasil ajude, liderando nossa curva de crescimento. Esperamos triplicar o faturamento até 2020, com uma média de crescimento de 15% ao ano.
A crise não vai impactar essa previsão para a atuação no Brasil?
O ano passado foi bastante difícil, mas, mesmo com PIB negativo, crescemos 5% no segmento de alimentos (temperos, sucos em pós e sopas) e 15% no total, considerando a produção de ingredientes para alimentos industrializados, como aminoácidos.
Nossos principais consumidores são as classes C e D e, nesses últimos 10 anos, a ascensão da classe média nos deu uma grande chance para crescermos juntos.
Nossa grande questão agora é descobrir como ampliar a exportação dos ingredientes que produzimos aqui, já que 40% acaba ficando para o consumo nacional.
Para quais países a empresa exporta produtos feitos aqui?
Além do próprio Japão, Estados Unidos, África e América Latina. A matéria-prima utilizada em nossos aminoácidos para uso médico ou produção de ração animal é a cana de açúcar brasileira.
A Ajinomoto já usa 1% da produção nacional total de cana de açúcar. Temos contrato com produtores paulistas de Laranjal, Limeira, Valparaíso e Pederneiras.
Nós exportamos a matéria prima, mas também a transformarmos em um produto de alta qualidade para exportar. Vemos aí uma oportunidade de crescer também.
Quais os produtos que vocês devem lançar no Brasil em breve?
Além de expandir o portfólio de sabores dos temperos Sazón e Satis, começamos a vender pelo e-commerce, em setembro, o primeiro suplemento de aminoácidos para praticantes de atividade física, o AminoVital.
É a primeira vez que vendemos por nosso canal eletrônico e também marca o início de uma nova categoria no portfólio brasileiro, a de aminoácidos para o consumidor final.
No Japão, nossa linha da marca AminoVital fatura 100 milhões de dólares por ano e é voltada para recomposição de fibras musculares após atividade física intensa. Para o Brasil, estamos trazendo o produto mais premium da linha, com foco em corredores de rua.
Vocês pretendem trazer mais produtos da linha de suplementação esportiva ao país?
Sim, mas primeiro precisamos aprovar junto à Anvisa a criação da categoria de suplemento esportivo, que hoje não existe. O AminoVital demorou cinco anos para ser aprovado e está classificado como alimento.
Aqui, os fabricantes importam as proteínas e fazem sua própria combinação. Até 2019, pretendemos produzir esses suplementos aqui, provavelmente em Limeira, em São Paulo.
As aquisições fazem parte do plano de investimento de 320 milhões de reais deste triênio, que se encerra em março de 2017?
O plano de investimento está seguindo conforme o planejado. A Ajinomoto vem trabalhando na ampliação da produção e da infraestrutura de plantas já existentes.
Investimos 100 milhões de reais para ampliar em 15% a produção na área de alimentos. Estamos negociando aquisições de empresas brasileiras, mas nosso objetivo aqui não é investirmos os valores dentro do período planejado, é ampliar o portfólio.
Brasileiros têm algo de diferente em relação a outros países?
Temos negócios em 27 países do mundo e cada um tem sua particularidade. Em relação a negócios, aqui há uma grande demora em certificações e aprovações, alta carga de impostos e mudança frequente de políticas trabalhistas.
Mas a principal diferença é a multiculturalidade da população. Todos os produtos vendidos aqui foram desenvolvidos especialmente para o consumidor brasileiro. O único comum a outras localidades é o Ajinomoto em si.
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