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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h38.
Ao contrário do que prevêem os mais otimistas, a descoberta de um foco de febre aftosa na Argentina não beneficia o Brasil. Pior: a tendência é que os compradores internacionais vejam o episódio como um problema do Mercosul - o que prejudicaria também os produtores brasileiros. "Como já existe um histórico de febre aftosa no Brasil, dificilmente o país sairá no lucro", diz Antônio Jorge Camardelli, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Bovina (Abiec).
No ano passado, as exportações de carne da Argentina praticamente duplicaram, especialmente em função dos focos da doença identificados no Brasil. Alguns analistas acreditam que, agora, a situação se inverta, com o Brasil tirando proveito do problema argentino - mas o diretor da Abiec considera tal hipótese praticamente impossível. "O aparecimento da doença na Argentina vai causar um problema de imagem, prejudicando os dois países", afirma Camardelli.
Brasil e Argentina são, de longe, os principais fornecedores de carne do mundo. A Austrália também é um produtor importante, mas segundo o diretor da Abiec o preço de seu produto chega a ser 300% mais caro do que a média dos dois países sul-americanos. "Além disso, a Austrália tem como prioridade os mercados de Japão e Coréia", diz.
Na ausência de um fornecedor que substitua Brasil e Argentina, a conseqüência mais provável será a escassez de oferta - em outras palavras, aumento de preços, que já estão altos. No ano passado, a elevação foi de 30%, o que acabou se transformando em um problema para a economia argentina. Enquanto os produtores comemoravam, o governo viu a inflação atingir 12,3% em 2005, tendo sido obrigado inclusive a tomar medidas para conter as exportações. Nisso, a febre aftosa irá ajudar.
"A boa notícia é que, agora, o preço da carne para o consumidor argentino vai cair", ironizou o presidente da Sociedade Rural Argentina, Luciano Miguens, em entrevista a jornais de Buenos Aires.