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Air France quer ser a aérea mais segura do mundo

Ainda sob impacto da tragédia do voo 447, a Air France-KLM tem um objetivo maior: alcançar a excelência em segurança, afirma o presidente Pierre-Henri Gourgeon

Gourgeon: planos para subir o nível de segurança de toda a aviação mundial (Pascal Le Segretain/Getty Images)

Gourgeon: planos para subir o nível de segurança de toda a aviação mundial (Pascal Le Segretain/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 16 de maio de 2011 às 14h08.

Paris - Em 31 de maio de 2009, o voo 447 da companhia francesa Air France desapareceu na costa brasileira com 228 passageiros – 58 de nacionalidade brasileira – que viajavam do Rio de Janeiro com destino a Paris.

Apenas algumas partes do avião e 50 corpos foram resgatados. Como as causas do acidente seguem desconhecidas, não se sabe se a responsabilidade deve ser atribuída à companhia ou à fabricante da aeronave, a Airbus. As empresas anunciaram que vão retomar as buscas pela caixa preta do avião no próximo mês.

Mas, na última quinta-feira, ambas foram convocadas pela justiça francesa para uma audiência, que deverá ocorrer em 17 de março e poderá culminar numa acusação de homicídio culposo.

Culpada ou não, a Air France-KLM se esforça para mudar a percepção do público a seu respeito. Segundo seu presidente, Pierre-Henri Gourgeon, o episódio lhe deu um objetivo maior. “Queremos ser a companhia mais segura do mundo”, disse ao site de VEJA o executivo. A ideia é adotar todos os procedimentos de ponta disponíveis no setor e ir além dos já rigorosos padrões de segurança internacionais.

Gourgeon, que trabalha na Air France desde 1993 e preside o grupo desde 2009, formou-se em engenharia aeronáutica pela Escola Politécnica de Paris, fez carreira no ministério da Defesa da França e tornou-se diretor-geral de Aviação Civil do país. Ele tem, inclusive, experiência com aviação militar.

Anos antes de ingressar na Air France, esteve à frente dos programas militares da SNECMA, que fabrica o motor do caça Rafale, da Dassault – empresa que participa da bilionária concorrência para venda de 36 caças ao Brasil. Gourgeon foi, inclusive, um dos criadores do equipamento.

Air France e Airbus vão retomar as buscas do acidente em março. Quais as expectativas?

Pierre-Henri Gourgeon - Nós precisamos saber o que aconteceu. O mundo inteiro precisa. Mesmo para a segurança futura dos voos é preciso ter essa informação. Se há causas que estão sob nossa responsabilidade, é preciso encontrar o remédio para elas. Se não houver, isso irá confortar, de alguma forma, as pessoas da empresa. Todo mundo foi afetado por esse acidente. Perder um avião é a coisa mais abominável que pode acontecer.

Não encontrar as causas de um acidente já aconteceu antes com a Air France?

Pierre-Henri Gourgeon - Em 98% dos casos nós achamos. É a primeira vez em muito tempo que um acidente acontece e não se encontram as caixas pretas. No Brasil, quando um avião privado chocou-se com uma aeronave da Gol em 2006, as causa vieram à tona – graças a isso sabemos que providências foram tomadas para que o incidente jamais se repita. Sobre o outro acidente, desta vez envolvendo a TAM, no aeroporto de Congonhas, também há cenários do que aconteceu. Já no caso do voo Air France, não temos ainda nenhum um ponto de partida.


Caixas pretas nem sempre dão respostas.

Pierre-Henri Gourgeon - Quando há um acidente, mesmo se as caixas são encontradas, muitas vezes não se sabe ao certo o que aconteceu. A caixa dá pistas, mostra o setor em que problemas podem ter surgido, se é uma questão de pilotagem, ou de instrumentos. Mesmo que consigamos, no máximo, ter um palpite do que ocorreu, vamos trabalhar para tornar aquele cenário impossível de se repetir.

Se não encontrarem nada no fundo do mar, com quem ficará o passivo das indenizações?

Pierre-Henri Gourgeon - Essa é uma questão que envolve nossa seguradora, a AXA. A Air France estava completamente assegurada porque todos os seus procedimentos encontravam-se em conformidade com a regulamentação internacional. Então, quanto a isso, não há questionamentos. Propusemos um plano de indenização e as famílias das vítimas podem aderir ou não. Mais de um terço aderiu, mas há quem prefira ir à Justiça para, quem sabe, conseguir mais. De qualquer forma, quem vai pagar é a companhia de seguros. Se eventualmente ficar comprovado que o culpado do acidente foi a Airbus, a AXA certamente vai atrás para ser ressarcida.

Os familiares que foram à Justiça vão demorar a receber?

Pierre-Henri Gourgeon - Nosso plano de indenização foi oferecido. Agora, quem optar por entrar com uma ação terá de esperar a resolução do caso. A Justiça precisa de um culpado para avaliar os valores a serem pagos – e esse é um processo demorado. É por isso que é preciso encontrar as caixas pretas.

Como fica a segurança dos voos se nada for encontrado?

Pierre-Henri Gourgeon - Nós não esperamos a definição de um culpado. Já tomamos algumas decisões sobre as sondas de velocidade das aeronaves sobre as quais havia a suspeita de que um defeito teria causado o acidente. Tiramos todas e colocamos novas. Parto do princípio de que aquilo que foi substituído não funcionava tão bem quanto o que está agora no lugar. Mesmo se essa não for a causa, é melhor fazer isso do que não fazer. Em 1º de junho de 2009, no dia da tragédia, já cumpríamos todos os procedimentos requeridos pelo regulamento internacional. A questão agora é que não queremos apenas estar dentro do regulamento. Queremos ser os melhores.

Vocês pretendem ser ainda mais rigorosos que os padrões de segurança internacionais?

Pierre-Henri Gourgeon - Sim. Tenho consciência de que uma ‘companhia ideal’ é algo que não existe, mas tentaremos chegar perto disso. Há um desejo interno da Air France de avançar em segurança de vôo; o que não significa que nos vemos como responsáveis pelo acidente, nem que não somos responsáveis. Decidimos rever todo o nosso sistema de segurança. Não para dizer onde falhava, pois ele não era falho segundo os padrões vigentes. Pedimos a profissionais de outras empresas aéreas e especialistas que viessem nos dizer o que há de melhor nesta área; e também para ver como funcionamos e nos dizer em que poderíamos ser melhores. Concluímos que, se conseguíssemos absorver os melhores métodos das melhores companhias, atingiríamos nosso objetivo.


E como atuaram esses especialistas?

Pierre-Henri Gourgeon - Primeiramente, fizeram questionários e recomendações, mas, sobretudo, viram como funcionamos. Eles perceberam ainda que havia uma distância entre a opinião de alguns funcionários e a realidade da empresa.

Alguns funcionários declararam que a companhia não era segura.

Pierre-Henri Gourgeon - Há críticas clássicas de pilotos e comissários de bordo em relação à direção da empresa; e isso existe em todas as concorrentes. Eles alegam que a preparação dos voos e os controles de operação são muito complicados. Contudo, os especialistas concluíram que não, que tudo é perfeitamente compreensível. Eles apontaram que aquilo que faz a Air France é exatamente o mesmo que fazem as outras grandes do setor. As reclamações, segundo este grupo de avaliação, são as mesmas de todas as companhias aéreas, estando, portanto, dentro do padrão.

De concreto, o que será feito para se atingir essa excelência?

Pierre-Henri Gourgeon - Primeiramente, vamos estabelecer um programa de cooperação entre o controle do solo e do ar – que é obrigatório nos Estados Unidos, mas não na Europa. A British Airways e Lufthansa não têm essa política. Nós teremos. Outro aspecto está na excelência na formação dos pilotos, algo em que a British é líder. Mudaremos nosso método e nos assemelharemos a eles para conquistar essa mesma excelência. Outro projeto é a adoção de auditorias permanentes nos painéis de voo, algo muito bem feito na Austrália, que nenhuma companhia europeia aplica. Vamos, enfim, agregar todos os fatores positivos de segurança em todos os domínios. Quando isso terminar, teremos as práticas mais modernas, com as últimas invenções do setor. Queremos ser a empresa aérea mais segura do mundo. Acidentes, apesar de raros, sempre podem acontecer; mas nosso objetivo é fazer todo o possível para reduzir a zero as chances de isso afetar nosso grupo novamente.

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